POLÍTICA SALTENSE
O esperto Chinchino e os métodos que utilizava para atingir seus objetivos
Vicente Scivittaro, o Chinchino, era um político muito perspicaz e utilizava-se de todos os meios para atingir seus objetivos, numa época em que a ética na política não era muito respeitada por todas as facções. Quando ele era prefeito, no início da década de 1960, por exemplo, convocou uma sessão para às 8 horas e, como os vereadores estavam acostumados a se reunir às 8 da noite, compareceram nesse horário. Tomaram, então, conhecimento que a sessão tinha acontecido às 8 da manhã e sido aprovados alguns projetos importantes, que poderiam ser barrados, caso os oposicionistas estivessem presentes. Era comum também adiantar o relógio da Câmara e quando os oposicionistas chegavam, a sessão já tinha sido realizada ou então alguns projetos já tinham sido votados.
Além dos vereadores com quem contava nessa época (Joseano Costa Pinto, Valentim J. Moschini, José Batista de Aguiar, Henrique Milhassi, Flávio Della Paschoa e Anésio Bovolon), Chinchino tinha a colaboração de dois auxiliares argutos, que eram também funcionários municipais: José Maria Servilha e Josias Costa Pinto. Ambos tinham que auxiliar o “chefe” para que os objetivos fossem atingidos, num período em que valia tudo.
Ao contrário do que acontece hoje, o prefeito tinha poderes muito maiores e podia determinar medidas até oralmente, sem necessidade de aprovação por parte dos vereadores ou por outros poderes. Ocorriam, então, algumas atitudes nada convencionais, de nada adiantando o “esperneio” da Oposição, que muitas vezes utilizava o jornal O Liberal para seus protestos.
Ettore Liberalesso, por exemplo, contava que em determinada ocasião havia se desentendido com Chinchino, que ocupava a chefia do Executivo. Naquele ano (início da década de 1960) o IPTU de sua residência, localizada no início da Rua 23 de Maio, tinha aumentado consideravelmente e ele foi à Prefeitura reclamar, mas não adiantou. Chinchino argumentou que ele contava com uma das melhores casas da cidade e por isso seria justo que pagasse um valor considerável.
Anos depois, conversando com José Maria Servilha, que tinha rompido com Chinchino, ele soube que, numa determinada ocasião, o prefeito convidou o funcionário para darem uma volta pela cidade. Durante o percurso, ele foi pedindo a Servilha que anotasse, indicando os imóveis: “o dono desse vai ter que pagar pelo menos o dobro do que está pagando”, “para esse, que nosso amigo, reduza o imposto pela metade” e assim por diante.
Ettore, que era adversário político de Chinchino, obviamente estava entre aqueles cujo IPTU teria um considerável reajuste, como teve. E não adiantava reclamar...
Imagem – Chinchino criou uma imagem perante a população de um prefeito realizador, corajoso, que enfrentava tudo para defender os interesses dos saltenses, o que realmente acontecia. Os adversários procuravam desmistificar essa imagem, apontando seus defeitos, mas poucos acreditavam nas críticas que lhe eram feitas. Ele gostava, por exemplo, de jogar cartas no Clube Ideal e às vezes passava a noite toda sentado à mesa com outros jogadores. Numa determinada manhã, depois de jogar até por volta de 5 e meia da manhã, passou pelo jardim ao redor da matriz de N. Sra. do Monte Serrat, que estava sendo implantado, pegou uma mangueira e começou a regar as plantas, pois era hora da turma que entrava às 6 horas assumir o serviço. Admirados, os trabalhadores que passavam pelo local comentavam:
- Esse sim é um prefeito trabalhador, que acorda da madrugada para acompanhar as obras da Prefeitura e até ajuda nos trabalhos dos seus funcionários...