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OPINIÃO

Os desentendimentos entre vereadores


As discussões entre os vereadores, às vezes passando dos limites, não se constituem num fato novo, pois sempre existiram desde que aconteceu, em 1948, a redemocratização do país. Em certas épocas, como na década de 1950, ocorreram até cadeiradas e na de 1980 um cinzeiro de vidro foi arremessado contra o presidente da Câmara por um vereador, sem contar as ocasiões em que faltaram milímetros para não ocorrerem agressões entre os dignos membros do nosso Legislativo.

Nos últimos tempos essas atitudes radicais não têm se repetido com muita frequência, mas as trocas de farpas entre os vereadores têm ocorrido através dos anos, como a que aconteceu nesta semana, envolvendo dois deles. Na sessão anterior o estopim foi aceso, com ambos os vereadores (um considerado da situação e outro da oposição), se desentendendo após uma declaração infeliz da secretária da Educação, que na mesma reunião reconheceu seu erro e se desculpou. Parecia que tudo voltara à normalidade, mas nesta semana um dos vereadores envolvidos (o da situação) voltou à carga contra o desafeto, alegando pretensas calúnia e difamação (se estão interessados em saber os nomes dos envolvidos, leiam a descrição dos fatos na coluna Política - página 5). Ameaçou até com cassação de mandato, voltando atrás, mas também cogitou ingressar na Justiça, o que quer dizer que o assunto vai longe, se a promessa for cumprida.

Três outros vereadores tomaram partido contra o vereador oposicionista, apresentando um voto de repúdio e protesto, justificando-se apenas a assinatura do líder do governo na Câmara e o envolvido no desentendimento. Um deles é do próprio partido, outro o presidente da Câmara. No caso deste, que sempre disse ser um defensor dos vereadores, quando atacados, tomou partido de um contra o outro. Não se explica seu posicionamento, pois, se não concordou com a atitude do vereador, poderia censurá-lo em público ou não, mas sua assinatura e a falta de uma justificativa para seu ato não se coadunam com o que tem apregoado.

O vereador situacionista, além do palavreado que utilizou contra o oposicionista, fez graves acusações contra um ex-secretário de Governo e dois ou três que fariam parte de uma “máfia” e que foram chamados até de “larápios” (indivíduo que furta, ladrão, segundo os dicionários). Não se pode censurar um membro do Legislativo por criticar os que não lhe são simpáticos, por terem outras preferências políticas, mas não se pode utilizar expressões chulas, como aconteceu. Não somos partidários de nenhum dos dois contendores em particular, apenas achamos que não se deve atiçar o fogo de forma abusiva, como tem acontecido.

Quem ganha e quem perde com isso? Evidentemente os dois que se digladiam não vão conseguir convencer a maioria das pessoas de bom senso que tomarem conhecimento dos seus argumentos, por isso é inócua essa discussão. Quem vai perder é o Poder Legislativo, que se encontra desgastado nacionalmente, fazendo por merecer as críticas que lhe são feitas por todas as besteiras que cometem. Não se pode classificar os que compõem a Câmara de Salto no mesmo nível, por exemplo, dos que militam na Câmara Federal ou no Senado, pois numa análise criteriosa pode-se destacar algumas de suas atitudes positivas, como um trabalho mais intenso e uma certa independência, embora também em algumas ocasiões exacerbem, adotando medidas incabíveis que exigem que o Executivo recorra à Justiça.

Espera-se que a reação provocada pelas discussões inadequadas dos vereadores tenham o condão de fazê-los raciocinar melhor e chegarem à conclusão que o plenário da Câmara não pode se equiparar a um ringue de lutas de box ou de MMA, sem desforço físico, mas com o uso de expressões nada protocolares.

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