POLÍTICA SALTENSE
Tem vereadores que falam demais e
os que nunca se manifestam
Nas muitas legislaturas que se sucederam na Câmara de Salto, tivemos muitos vereadores que usaram a tribuna e participaram das discussões com muita frequência. Por outro lado, houve alguns que raramente ou nunca se manifestaram. São muitos os casos, mas por sua peculiaridade e pelos detalhes que envolvem, poderíamos citar pelo menos três.
Boa noite! – Um dos casos aconteceu com o vereador João Batista de Mello, que ocupou vaga no Legislativo local na primeira Câmara eleita após a redemocratização do país, no período de 1948 a 1951. Era uma época de disputa política acirrada, envolvendo vereadores dos vários partidos, mas João B. de Mello era um dos mais tranquilos. Representava os eleitores negros saltenses e tinha sido eleito com o apoio do Sindicato dos Mestres e Contramestres, destacando-se como sindicalista, o que lhe valeu a eleição. Nunca tinha usado da palavra, até que durante uma discussão acalorada, numa sessão noturna, ele se manifestou em meio ao falatório:
- Peço a palavra, senhor presidente!
De repente o recinto foi tomado pelo silêncio, com os vereadores e assistentes perguntando-se o que João tinha de tão importante para dizer àquela altura da sessão, quando o clima estava “quente”. Autorizado a usar da palavra pela presidência, assim se manifestou:
- Preciso me retirar, pois vou entrar às 10 horas na Fábrica de Papel.
E deixou as dependências da Câmara sob os olhares estupefatos das pessoas presentes.
Bom de voto – Um outro vereador que nunca usava da palavra foi Araldo Bertani, que cumpriu 3 mandatos: de 1964 a 1968, de 1977 a 1982 e de 1983 a 1986. Em uma dessas ocasiões foi o vereador mais votado da cidade e por isso teve que presidir a sessão de posse, saindo-se bem. Aliás, tinha sempre boa votação, o que quer dizer que usar da palavra com frequência não foi condição essencial para sair-se bem nos pleitos. Quando alguém o cobrava, pedindo que participasse mais diretamente das discussões, respondia que isso não era necessário. O importante, segundo ele, era prestar bons serviços à população e votar de acordo com as necessidades dos saltenses, compromissos que ele tinha certeza de estar cumprindo.
Piiiii – Adélio Arvani, que assumiu a suplência e ficou no cargo de setembro de 1975 a janeiro de 1977, era outro que não se manifestava oralmente de jeito nenhum. Numa determinada sessão o vereador Alcides Victorino de Almeida (Cidão) decidiu que naquele dia faria Adélio falar de qualquer maneira. É que chovera muito durante aquele dia e Adélio chegou à Câmara reclamando da situação da estrada rural pela qual tinha que transitar, vindo do seu sítio. Esse motivo despertou em Cidão a certeza de que ele iria se manifestar e, ao usar da palavra, logo inquiriu Adélio:
- Seu Adélio, o que tem a dizer sobre as estradas rurais de Salto? Estão ruins?
Resposta: “Piiiii”. Cidão insistiu:
- Soube que foi muito difícil o senhor chegar à Câmara hoje. Enfrentou muito barro na estrada?
A mesma resposta: “Piiiii”. Outra tentativa do Cidão:
- Não é de hoje que essas estradas estão ruins, quando chove é uma barbaridade, não é seu Adélio?:
Outra vez o “Piiiii”. Cidão desistiu. O homem não iria mesmo falar...