CAUSOS
Esforçando-se para perder no jogo de cartas
Geralmente quem participa de um jogo de cartas joga pra ganhar. Essa é a regra, mas em certa ocasião aconteceu com um morador de Salto uma coisa muito diferente: ele se esforçou o tempo todo para perder, mas a sorte teimava em ficar ao seu lado.
A pessoa a que me refiro é Braz Felizola, falecido, conhecido na cidade, nas décadas de 1960/1970 como “Braizinho Mineiro”. Ele veio da cidade de Rio Pomba, Minas Gerais, para Salto e aqui se fixou, casando-se com uma professora, Ana Rita da Silva Felizola, que inclusive foi nome de escola.
Certa feita, em companhia de um caminhoneiro amigo, João Gianetti (João Navalha), foi visitar sua terra natal, onde encontrou-se com um velho amigo, Pedro Ferrabrás, conhecido jogador de baralho e mestre da malandragem. Além de hábil manipulador de cartas, o Ferrabrás era valente, truculento, sangue-quente, que não dispensava a garrucha, escondida no jaquetão. Ele convidou o Braizinho para um jogo de cartas, num local isolado, frequentado por gente de má catadura. Um deles foi logo dizendo:
- “Carne fresca” que vem pra cá jogar com a gente tem que perder, se não a gente enche de bala!
Nesse ambiente hostil, Braizinho confidenciou para o João Navalha que o jeito era perder logo todo o dinheiro e deixar o local, mas, para seu azar, a sorte estava a seu lado e ele foi ganhando e acumulando muitas fichas, deixando os demais ocupantes da mesa nervosos. Olhavam feio para ele, que começou a pensar num jeito de dar o fora o mais rápido possível. A certa altura, com a desculpa que precisava tomar um cafezinho, deixou a mesa e sussurrou nos ouvidos do João Navalha:
- Prepare o caminhão, passe em frente da porta bem devagar, abra a porta do lado do passageiro e assim que eu subir dispare em direção à cidade!
Seguiram até Rio Pomba, pegaram seus pertences no hotel e regressaram no meio da noite, em alta velocidade, para as bandas de Salto.
- Rio Pomba nunca mais, nem pra rever os amigos! - prometia Braizinho, com a anuência do João Navalha.