CAUSOS
O dia em que o barbeiro virou piloto
O falecido barbeiro Genésio Longatti contava histórias incríveis, algumas inacreditáveis, como aquela que teria acontecido numa manhã fria de agosto, um domingo. Ele e o amigo Sinval se encontraram e saíram no carro do Sinval, pois era um dia apropriado para tomar algumas bebidas “quentes” em bares da cidade. A seguir seguiram até Itu, onde visitaram o Mercado Municipal, onde tomaram mais algumas e para Cabreúva, tendo visitado um dos alambiques, experimentando algumas doses da pura aguardente. Como estavam próximos de Jundiaí, resolveram dar uma “esticada” até o aeroporto daquela cidade, onde Sinval tinha um amigo a quem prestava serviços. Esse seu amigo tinha um bar no aeroporto e era proprietário de um Cessna de 4 lugares.
Depois de bater papo e tomar mais algumas no bar do aeroporto, os dois saltenses foram convidados pelo amigo jundiaiense a dar uma volta de avião. Como estavam bem “alegres”, toparam e lá se foram os três para os ares. Genésio sentou-se na frente, ao lado do anfitrião e piloto, ficando Sinval no banco de trás. Logo depois do avião levantar voo, o piloto foi explicando ao Genésio como era simples pilotar: “Para subir é só levantar o manche, para descer é só baixar. Para virar basta dar um toque para a direita ou para a esquerda, enquanto se presta atenção nesta linha, que deve permanecer sempre na horizontal”. Genésio achou tudo muito fácil e prático, o que levou o amigo a passar-lhe o comando da aeronave por alguns minutos.
Os três estavam bem no alto e bem “altos”, o que explica tudo o que teria acontecido depois: Genésio, que dirigia muito mal seu fusquinha, transformou-se de uma hora para outro em piloto de Cessna, mas logo depois que assumiu o comando o amigo jundiaiense “apagou”, após recostar a cabeça na poltrona. Sinval se apavorou, mas Genésio o tranquilizou: “Vamos dar uma volta por aí, se der algum problema a gente acorda o homem”.
Seguindo os ensinamentos recebidos na rápida “aula”, Genésio manteve o avião equilibrado e, tomando por base a Rodovia D. Gabriel Paulino Couto (Itu-Jundiaí), rumou para os lados de Salto, dando voltas sobre a cidade. Ele e Sinval sabiam que o avião tinha autonomia para 2 horas de voo, mas depois de 1 hora e 15 minutos, voltaram sobre a mesma rodovia em direção ao local de partida. Quando Jundiaí foi avistado, chacoalharam o amigo piloto, que acordou assustado e perguntou: “Onde estamos?”. Tinham passado pelo aeroporto, mas numa rápida manobra o piloto fez a volta e aterrissou sem problemas.
Ainda deram uma passada pelo bar do amigo, onde tomaram o derradeiro copo de conhaque, pois o frio era intenso. No dia seguinte ambos os saltenses se encontraram e não acreditaram na aventura do dia anterior. Genésio teria até comentado: “Posso ser um motorista ‘barbeiro’, mas dirigindo um avião, demonstrei como é possível um barbeiro ser piloto”.