POLÍTICA SALTENSE
Produção erótica, filmada na cidade, causou grande polêmica
Em 10 de maio de 1975 anunciava-se que um filme nacional estava sendo inteiramente rodado em Salto. Sua denominação inicial era “Divina Comédia Erótica” (que depois passou a chamar-se “Pesadelos Sexuais de um Virgem”) e teria como diretor Roberto Mauro e, dentre os intérpretes, Tony Tornado, Iara Marques, o cantor Nilton César e outros.
As filmagens estavam acontecendo desde o dia 2 de maio, em vários locais, dentre eles a residência de Geraldo Sérgio Fabbri (onde atualmente funciona a Academia Corpo São), Colégio Paula Santos, cascata, Usina das Lavras, igreja matriz N. Sra. do Monte Serrat, etc., inclusive com a participação de algumas pessoas da cidade, dentre elas o próprio prefeito Josias Costa Pinto, o vereador Fernando de Noronha, o padre Mário Negro e outros.
O filme tinha a pretensão de satirizar a Divina Comédia, de Dante Alighieri, contando a história de um aluno que é obrigado pelo diretor da escola onde estudava a decorar a Divina Comédia em 3 dias. Ele “vai” para o inferno, céu e purgatório de Dante, onde encontra as figuras históricas, começa a delirar e então é chamado um exorcista negro (Tony Tornado) para fazê-lo tornar à realidade.
Cerca de um ano depois, quando o filme começou a ser exibido nas grandes cidades, começaram as polêmicas, inicialmente na Câmara de Salto, onde o vereador Adelino Matiuzzi havia apresentado, em janeiro daquele ano, um requerimento, solicitando a formação de uma Comissão Especial de Inquérito a fim de apurar os gastos da Prefeitura com técnicos e artistas que realizaram em Salto o filme “Divina Comédia Erótica”, cuja exibição teria sido proibida pela Censura Federal. O vereador Antonio Carlos Otoni Soares, na oportunidade, disse que os gastos foram enormes com hotéis e restaurantes, sendo que num desses hotéis teriam sido gastos 10 mil cruzeiros, pois se hospedaram 115 pessoas durante as filmagens. A oposição, entendendo que o assunto deveria ser esclarecido, apoiou a formação da CEI, que funcionou durante 60 dias e nada apurou.
O assunto voltou a ser debatido em maio de 1976 porque alguns vereadores saltenses foram assistir ao filme na capital e não gostaram, fazendo críticas nas sessões da Câmara. Já o prefeito Josias Costa Pinto disse ter gostado e só lamentou que a promessa do diretor Roberto Mauro de que Salto seria divulgada no filme, não fora cumprida, recebendo apenas um agradecimento, assim como a Prefeitura de Itu que apenas cedera um gerador, enquanto Salto pagou as despesas de estadia dos artistas e técnicos, através da APAE.
Prefeito, vereador e padre participaram da comédia
Os vereadores também criticaram o fato do prefeito Josias Costa Pinto, do vereador Fernando de Noronha e do padre Mário Negro terem participado da comédia erótica. Os dois primeiros foram “padrinhos” do noivo e o padre Mário celebrou a cerimônia. O presidente da Câmara, Corinto Antonio da Silva, chegou a dizer: “Vimos a igreja católica de nossa cidade ser profanada com o casamento daquele virgem”. Outro vereador, Otoni Soares, foi até o bispo da Diocese reclamar do comportamento do padre Mário e anunciou que iria pedir a cassação do prefeito, tendo desistido posteriormente.
A repercussão da filmagem em Salto repercutiu em dois programas de TV de grande audiência: Jornal Nacional e Programa Silvio Santos, a ponto da coluna de humor do jornal Taperá publicar: “Salto subiu tanto no ibope esta semana, que daqui a alguns dias quem perguntar onde fica Itu, vai obter a seguinte resposta: ‘É aquela cidadezinha, próxima a Salto’”.
O jornal Taperá, aliás, deu um “furo” de reportagem ao publicar em sua primeira página, na edição do dia 12 de junho de 1976 uma foto do filme, exatamente aquela do “casamento do virgem”, onde aparecem o padre Mário oficiando a cerimônia e o prefeito Josias ao fundo. A cena foi obtida por um funcionário do jornal (Flávio Lamas), que foi até um cinema de Campinas, onde o filme estava sendo apresentado e obteve um pedaço do celuloide, mostrando o “casamento”
O filme finalmente foi exibido em Salto, em sessões que aconteceram nos dias 23 e 24 de junho de 1976, no Cine São José, com a presença de muita gente, ficando lotada a sala de exibição, precisando ser colocadas cadeiras extras, enquanto muitas pessoas sentaram-se no piso dos corredores. Segundo o jornal Taperá, não faltaram os gritinhos da plateia durante a apresentação, com expressões como: “Olha fulano lá”, “Ói eu ali” e outras. Alguns gostaram, outros lamentaram ter perdido seu tempo com uma fita de tão baixo nível, mas a maioria, de acordo com o jornal, concordou numa coisa: não fossem nossos “artistas” o filme seria uma droga ainda maior.