POLÍTICA SALTENSE
Prefeito marca audiência com secretário,
mas oposição chega antes
Em seu segundo mandato (de 1977 a 1983), o prefeito Jesuíno Ruy teve muitos problemas com a oposição na Câmara Municipal, pois seu partido, o MDB elegeu 9 vereadores, mas 4 se tornaram oposicionistas ao seu governo. Eles se uniram aos 4 eleitos pela Arena e em diversas ocasiões criaram obstáculos às pretensões do então chefe do Executivo saltense.
Isso aconteceu, por exemplo, em dezembro de 1980. Jesuíno marcou uma audiência com o secretário estadual dos Transportes para o dia 2 desse mês, às 10h30, na capital, a fim de reivindicar a construção de uma variante à Rodovia do Açúcar.
Acompanhado de alguns vereadores, do assessor de Obras, Oscar Sakanoue, e de dois representantes da imprensa de Salto (Ettore Liberalesso pelo jornal O Trabalhador e este jornalista pelo Taperá), Jesuíno se dirigiu à Secretaria dos Transportes. Ao chegar ao prédio, ele e os integrantes da delegação se dirigiram a um dos elevadores para terem acesso ao gabinete do secretário e assim que a porta se abriu deram “de cara” com os vereadores saltenses da oposição, José Messias Ticiani e Eduardo Scivittaro, além do deputado Archimedes Lammoglia e do cidadão José Edis Volpato, o “Zé Gaúcho”. Após cumprimentos meio forçados, Jesuíno e seus acompanhantes usaram o elevador e ao chegar ao gabinete do secretário tomaram conhecimento que ele não poderia recebê-los, pois teria um encontro com o ministro do Trabalho, que se encontrava em São Paulo.
O assunto que levou o prefeito, vereadores e demais integrantes da comitiva saltense, foi então exposto ao chefe de Gabinete do secretário, o qual prometeu encaminhar a reivindicação. Ficou, porém, uma dúvida: será que o secretário teria mesmo que se encontrar com o ministro àquela hora do dia ou houve a interferência da oposição para que Jesuíno não fosse recebido por ele?
Em telegrama enviado ao secretário dos Transportes posteriormente, Jesuíno lamentou profundamente não ter sido recebido, dizendo que “este prefeito não foi atingido pelo descaso, mas o povo sim. Se fôssemos avisados com antecedência, poderíamos evitar a perda do nosso precioso tempo e economizar para o município. (...) Nada mais queremos, senhor secretário, apenas justiça e o merecido atendimento. Deus o abençoe na vossa missão de secretário, enquanto que nós esperamos a ajuda de Deus”.
Na verdade, houve interferência
Quando viajou para S. Paulo, a convite e em companhia do prefeito Jesuíno e vereadores, este jornalista já sabia que a oposição tinha se movimentado para impedir que eles fossem recebidos pelo secretário dos Transportes. Acompanhamos o que começou na noite anterior, uma segunda-feira, após a sessão da Câmara. Sempre após as sessões, alguns vereadores se reuniam em frente ao prédio do Legislativo para comentar assuntos políticos e, naquela noite, lá estavam, dentre outros, José Messias Ticiani, Eduardo Scivittaro, Nelson Mosca e Antonio Lázaro Vendramini. Fomos testemunhas que um deles, ao comentar que o prefeito e vereadores teriam uma audiência com o secretário dos Transportes no dia anterior (fato revelado durante a sessão daquela noite), sugeriu que os integrantes da oposição fossem antes recebidos pelo secretário para fazer o mesmo pedido de construção da variante para a Rodovia do Açúcar. Assim os méritos seriam deles e não de Jesuíno. José Edis Volpato, o “Zé Gaúcho”, foi o articulador: ele ficou incumbido de naquela mesma noite ligar para o deputado Lammoglia e solicitar que este marcasse uma audiência com o secretário, antes das 10h30, o que acabou acontecendo.
Na sessão da Câmara realizada na semana seguinte, tanto Messias como Eduardo Scivittaro “justificaram” suas idas para S. Paulo, dizendo que o fizeram a convite do secretário dos Transportes.
Valia tudo na disputa política daquela época...