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CAUSOS

Sessão de Câmara era remédio para a insônia


Uma pessoa não identificada dormindo durante uma sessão de Câmara, ainda no sobradinho do Sindicato dos Mestres e Contramestres - 1964

Antigamente a frequência de público às sessões da Câmara Municipal de Salto era muito reduzida: no máximo 4 ou 5 pessoas. Hoje a quantidade das que assistem aos trabalhos é maior, formada em sua maioria pelos que se manifestam nas redes sociais e vão até lá para conferir o que os representantes do povo estão ou não produzindo. Um dos frequentadores assíduos era o Celsinho Ferreira, que sempre estava por lá, mas ele não fazia parte da turma dos dorminhocos. Alguns outros, porém, se tornaram famosos, como um senhor da família Bonatto, que não perdia uma sessão do Legislativo. O mais interessante é que ele ficava até o fim dos trabalhos, mesmo que a sessão se prolongasse até a madrugada. Chamava a atenção não só por sua persistência, mas também por um fato bastante singular: dormia o tempo todo. Seu corpo caía para um dos lados ou quase chegava a tocar na cadeira da frente. Só acordava quando algum vereador elevava a voz ou a discussão era feita em altos brados. Saía do recinto ao término da sessão como havia entrado: calado, sem se manifestar sobre política ou qualquer outro assunto. A impressão que se tinha é que ele sofria de insônia e um dia descobrira que assistir às sessões da Câmara era tiro e queda: ali se dormia mesmo!

Outros dois frequentadores assíduos durante uma longa época eram os irmãos Lauro e Paulo Okumura, profissionais competentes do ramo fotográfico, que acompanhavam os trabalhos para tomar conhecimento dos assuntos debatidos, para se informar melhor. Numa noite a sessão se prolongou para bem tarde, passando da meia-noite, mas os dois irmãos continuavam lá, pois o assunto era de seus interesses. Estavam na primeira fileira, praticamente deitados para trás, naquela posição que a gente adota quando está bem à vontade.

Corintho Antonio da Silva era o presidente da Câmara e o funcionário do Legislativo que ocupava o cargo de diretor de Administração era José Manoel Florindo, o “Saca”, que ocupou o cargo por muitos anos. A discussão dos projetos se arrastava, mas os dois nisseis continuavam firmes, aguardando o desfecho. A certa altura o funcionário “Saca” aproximou-se do presidente Corintho para avisar:

- Presidente, aqueles dois ali estão dormindo na cadeira. Se querem dormir, por que não vão pra casa?

Corintho, que procurava ser cioso no cumprimento de suas atribuições, pediu ao “Saca” que fosse até o Paulo e o Lauro e os acordasse. Mais que depressa o “Saca” cumpriu a missão e se dirigiu até a primeira fila. Bateu nas costas de um deles e avisou, muito “delicadamente”:

- Ei, vocês dois! Aqui não é lugar pra dormir!

A resposta veio rápida e esclarecedora, de um deles:

- E quem disse que estamos dormindo? Você não sabe que olho de japonês é assim mesmo, quase fechado?

Daquele dia em diante, em sinal de protesto, nunca mais os irmãos Lauro e Paulo foram assistir às sessões da Câmara de Salto, que ficaram ainda mais desertas...

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