POLÍTICA SALTENSE
Políticos e saltenses foram se “diplomar”
numa escola duvidosa de Três Lagoas
No início da década de 1980 surgiram na cidade representantes de uma escola de “ensino à distância”, da cidade de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, oferecendo facilidades para pessoas que desejavam um diploma de curso superior, pagando uma razoável importância, sem que tivessem que frequentar os devidos cursos. Era um dos primeiros “cursos à distância”.
Muitos se interessaram, inclusive alguns políticos, cartorários e candidatos à ascensão social, que se propuseram a fazer parte de uma caravana, que viajou de ônibus até a cidade mato-grossense. Na época, o dr. Mário Dotta, que colaborava com o jornal Taperá, utilizando o pseudônimo “João de Franckfort”, escreveu um artigo no qual se referia a esse episódio e que não foi publicado porque envolvia muitas pessoas de prestígio na cidade. Vejam trechos desse artigo, que guardamos até hoje em nossos arquivos:
“Não faz muito tempo em que a cidade de Três Lagoas era centro de peregrinação de pessoas dispostas a obter um diploma de curso superior, custasse o que custasse. Para lá se dirigiam, em caravanas, muitos pretendentes a um título, fosse ele de odontologia, medicina, advocacia, professor secundário e de educação física, à procura de uma escola dirigida por um cura que cuidava de tudo, desde a matrícula até a diplomação. Ninguém deveria se preocupar com os exames, já que os alunos recebiam instruções preciosas de como proceder, nas respostas feitas com um ‘x’ nos cinco quadriculados da prova”.
“O tal curso – prosseguia o dr. Mário - não era muito barato, mas compensava: não havia perigo de reprovação. Entre as várias disciplinas a que eram submetidos os alunos, havia a disputada língua inglesa em que as perguntas eram simplérrimas, como o que queria dizer “thank you”. O diploma vinha logo em seguida, com assinatura do cura. Vai daí que era o tempo do regime militar, a notícia das aprovações a granel correu mundo e logo, logo, desceu um comando na área para verificar o porquê da aprovação unânime desses alunos. As investigações prosseguiram com a remessa dos processos a um famoso delegado, que costumava interrogar suspeitos na base da porrada. Entre os que caíram nas malhas da investigação havia pessoas importantes da cidade, que imaginavam que as facilidades encontradas eram comuns e legais, por isso aceitaram a oferta que lhes foi feita, sem imaginar que teriam problemas futuros”.
A confirmação – Tomei conhecimento do fato na época, mas como não tinha certeza do que foi relatado pelo dr. Mário Dotta, decidi não fazer nenhuma publicação, pois poderia ser responsabilizado judicialmente. Tempos depois, porém, conversando com o vereador Alcides Victorino de Almeida, o “Cidão”, o mesmo confirmou o que já eu imaginava. Ele disse que realmente viajaram para Três Lagoas saltenses em número considerável que quase lotaram um ônibus, e que faziam mesmo parte da caravana alguns políticos, como o prefeito Jesuíno Ruy, ex-prefeito Josias Costa Pinto e ele próprio, Alcides. Todos os candidatos ao diploma foram intimados pela Justiça e tiveram que responder a processo, cujo resultado final não foi divulgado. Alcides relatou inclusive que, na volta da última viagem para o Mato Grosso do Sul, Jesuíno estava eufórico e comentava satisfeito, em tom de brincadeira: “Agora em nossos comícios, vou exigir que o apresentador Foguinho diga quando me anunciar: ‘Ouviremos agora o acadêmico Jesuíno Ruy’”. Conta-se também casos de candidatos que tinham tirado boas notas em inglês, mas apenas sabiam dizer “Tanquiú”. E de outros, por conta do exagero, solicitados numa audiência pelo juiz para acrescentar outras palavras nessa língua e respondiam: “Rainha Elizabeth”.