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CAUSOS

As dificuldades dos funcionários para chegar à Eucatex


Na época em que escrevíamos a coluna “Cidade Divertida e Pitoresca”, no Jornal Taperá, ouvimos algumas histórias contadas pelo Flavinho Pavanelli, que trabalhou muitos anos na Eucatex, das quais selecionamos três sobre as dificuldades enfrentadas pelos funcionários dessa empresa para chegar ao local de serviço. É que naquela época (antes de 1972) ainda não existia a Avenida dos Trabalhadores e por isso o único acesso exigia a passagem pela passagem de nível da ferrovia, no Bairro da Estação, que às vezes impedia a passagem exatamente no momento em que esses funcionários se dirigiam ao serviço. Eles tinham que improvisar, o que causava alguns problemas conforme o relato a seguir.


Efeito da carona – Um dos únicos privilegiados que se dirigia

motorizado à Eucatex, localizada a cerca de 3 km do centro de Salto, era Otávio Formigoni, que por muitos anos trabalhou na indústria. Ele utilizava sua reluzente Ramona (Chevrolet 1929), um carro pomposo, com grandes para-lamas, estribos e capota de lona, verdadeira joia. Certo dia em que chovia bastante, no caminho ele encontrou um companheiro de trabalho, de nome Orozimbo, abrigado sob uma marquise e lhe ofereceu carona. Quando chegaram à fábrica, Orozimbo, antes de descer, não se cansou de agradecer Otávio pela gentileza. E ficou ainda mais contente quando Otávio estacionou numa área coberta. “Pronto, Orozimbo, estamos aqui sãos e secos”. Orozimbo novamente agradeceu, dizendo: “O senhor caiu do céu, seu Otávio, se não fosse o senhor eu chegaria aqui todo molhado”. Despedindo-se, pisou no estribo com seus cento e tantos quilos, balançou a Ramona de tal forma, que toda a água acumulada na capota caiu sobre seu corpo, como se alguém lhe tivesse despejado um grande balde cheio d’água em sua cabeça. Orozimbo ficou ali, estático, de guarda-chuva fechado na mão, sentindo a água escorrer pelo seu corpo todo. Otávio fez que não viu, engatou a primeira e foi estacionar seu veículo em lugar mais seguro.


Pressa demais – Não só os funcionários da Eucatex, mas também os de outras indústrias que se situavam na margem esquerda do Rio Jundiaí (Sivat, Emas, Picchi, etc.) tinham que transpor a passagem de nível para chegar a cada um dos seus destinos. Principalmente nas primeiras horas da manhã era um sufoco atravessar a linha férrea da Estação da Sorocabana, pois havia vários trens fazendo manobras. O pessoal, em sua maior parte com bicicletas, ficava desesperado para poder seguir em frente, a fim de não perder a hora do trabalho, pois muitas vezes a passagem ficava interrompida por até 20 minutos. Havia, porém, os impacientes, que não se sujeitavam a esperar tanto tempo. Quando os trens eram do tipo “gôndola”, colocavam a bicicleta nos vagões e atravessavam o mais rápido possível. Certo dia, um desses “espertos” usou desse expediente e ele só foi descer na estação ferroviária de Itu, a seis quilômetros de distância...


Turma do jeitinho – Cerca de 10 funcionários da Eucatex que moravam na Vila Nova e não aguentavam passar pelo tormento de todo dia ter que aguardar as manobras dos trens, encontraram um jeitinho para resolver o problema. Como a ponte da Avenida dos Trabalhadores ainda não existia e não havia uma forma de atravessar o Rio Jundiaí, a não ser de barco, eles acabaram encontrando uma alternativa: desciam a pé ou de bicicleta até a Chácara do De Genaro na margem do rio, na altura da hoje Rua Campos Salles, e dali seguiam para a outra margem num barco que ali permanecia. Deixavam as bicicletas num barracão, depois era só atravessar a linha da ferrovia (que também passava por ali), subir num barranco e entrar na Eucatex pelos fundos. À tarde a operação se repetia no sentido inverso e com isso deixavam de ter que transpor os cerca de 3 km, ganhando tempo. Tudo funcionava muito bem, até que um certo dia um dos 10 integrantes da turma saiu mais cedo do serviço, pegou o barco e se dirigiu ao outro lado do rio. Por volta das 17 horas chegaram os demais companheiros e cadê o barco? Estava na outra margem e não sabiam o que fazer para trazê-lo de volta. Um deles, Osvaldo Margoni, resolveu o problema: atirou-se nas águas naquele dia geladas do Jundiaí, atingiu a outra margem e trouxe o barco para o lugar onde ele deveria estar. Estava todo molhado, o queixo batendo de frio, mas satisfeito por ter resolvido a questão. No retorno para suas casas e pararam num barzinho da Vila Nova para tomar o “remédio” adequado para acabar com o frio: algumas doses de conhaque...

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