POLÍTICA SALTENSE
Casos incríveis ocorridos nos congressos de municípios
Era comum, nas décadas de 1970 e 1980, a participação de prefeitos e vereadores saltenses nos congressos de municípios, que geralmente aconteciam em cidades serranas, como Serra Negra, Águas de Lindoia e Campos do Jordão, ou litorâneas, como Santos, Praia Grande e Guarujá. Era uma forma de se unir o útil ao agradável, pois os congressos, em muitas ocasiões, eram apenas uma desculpa para que os homens públicos saltenses pudessem gozar das delícias que as cidades escolhidas a dedo ofereciam.
Não havia limites para as despesas e por isso os prefeitos e vereadores, principalmente estes, ocupavam os melhores hotéis e frequentavam os mais renomados restaurantes, tudo por conta do Executivo ou Legislativo. Na época o Tribunal de Contas não era tão rígido, pois a apreciação das contas era feita por amostragem. Ou seja, os responsáveis pela fiscalização tiravam um processo de pagamento (empenho) do meio de um pacote e se não houvesse nenhuma irregularidade, seguiam em frente.
Acompanhei os vereadores em vários desses congressos, pois como diretor de Contabilidade, Tesouraria e Pessoal da Câmara de Salto, eu era obrigado a participar, pois o Tribunal de Contas não aceitava que os membros do Legislativo efetuassem o pagamento das contas. Eu não tinha, porém, autoridade para escolher o hotel ou o restaurante que oferecessem preços menores, minha obrigação era apenas quitar os débitos contraídos.
Acompanhando os vereadores ou ouvindo histórias que eram contadas posteriormente, tomei conhecimento de muitos fatos ocorridos, que não chegaram às páginas dos jornais, mesmo porque alguns deles eram comprometedores e, se ocorressem nos dias de hoje, poderiam causar sérios problemas a alguns dos que deles participaram. Vou contar alguns deles:
O “golpe do uísque” no Congresso de Campos do Jordão
No ano de 1975, quando o Congresso dos Municípios aconteceu em Campos do Jordão, Salto foi representada por alguns vereadores: o presidente da Câmara, Corinto Antonio da Silva, Alcides Victorino de Almeida, Fernando de Noronha e Rubens Murilo Ceconello, além do assessor jurídico Valdemar Rigolin.
Ficamos hospedados num hotel cinco estrelas, de propriedade do “Dudu da Loteca”, um dos primeiros ganhadores de uma fortuna na Loteria Esportiva. Os saltenses ocuparam uma suíte com 2 quartos e ampla sala, que comportava 6 ou 7 pessoas. A permanência na cidade foi de 3 ou 4 dias (eu só fui no encerramento para pagar as contas) e durante esse período ninguém se preocupou com os gastos.
Como alguns dos integrantes da comitiva apreciavam um bom uísque, foi solicitado que uma garrafa de um Passport importado fosse colocada à disposição deles no apartamento. De vez em quando davam uma bicadinha e aos poucos a garrafa foi se esvaziando, até que esvaziou de vez. Um dos vereadores teve a curiosidade de olhar na tabela de preços colocada no interior do apartamento quanto custava uma dose do uísque e quase caiu de costas. A garrafa toda custava quatro ou cinco vezes mais que a vendida num supermercado próximo, o que provocou críticas, achando-se que aquilo era um roubo. Surgiu, então, uma ideia luminosa: por que não comprar no supermercado um litro e colocar no lugar do vazio? Assim ninguém teria prejuízo: o hotel porque ganharia uma garrafa cheia e os vereadores porque não teriam que pagar nada pelo consumo, gastando apenas o valor do uísque comprado no supermercado, que seria rateado entre aqueles que consumiram a bebida.
Um dos vereadores foi até o supermercado comprar o outro litro de uísque, entrando no hotel com ele escondido no interior do paletó, para não ter que dar explicações na portaria. Colocaram a bebida no lugar da garrafa vazia, que foi devidamente eliminada. Problema resolvido. Resolvido?
No dia seguinte, um dos serviçais do hotel, que vinha sempre ao apartamento, trazer ou apanhar coisas e que já se tornara íntimo do pessoal, ao entrar deu uma olhada no barzinho e estranhou que a garrafa do Passport estivesse cheia. É que sempre verificava se a bebida não havia acabado, para trocá-la, e tinha notado, no dia anterior, que o uísque estava no fim. Como é que agora estava cheio? Fez essa pergunta para os vereadores que se encontravam no apartamento, mas ninguém estava disposto a responder. Um não sabia, outro teve que ir rápido para o banheiro e outro ainda fingia que lia o jornal.
“Já que ninguém quer dizer nada, vou levar a garrafa para a copa. Se vocês a quiserem de volta, é só pedir”, disse o serviçal, levando consigo o Passport. Daquele dia até o final do Congresso, ninguém mais teve vontade de tomar uísque no apartamento e, no acerto de contas, apareceu o litro do Passporte entre as despesas, com aquele preço que ninguém concordava em pagar. Quem, porém, teria coragem de reclamar, depois daquele golpe que não deu certo?
Uma bela loira “no colo” do presidente da Câmara, em Natal
Os saltenses não compareciam apenas nos congressos realizados no Estado de São Paulo, mas também em algumas capitais do país. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1976, quando um Congresso Nacional dos Municípios foi realizado em Natal, Rio Grande do Norte. Para lá seguiram o presidente Corinto Antonio da Silva, o vereador Alcides Victorino de Almeida e o assessor jurídico da Câmara, Valdemar Rigolin.
Segundo relato feito por um dos que viajaram até Natal, Alcides Victorino de Almeida, o “Cidão”, uma noite, os três se dirigiram para um local que imaginavam fosse uma casa de espetáculos, recomendada por alguns políticos participantes do congresso. Na verdade, se tratava de uma boate de categoria duvidosa, onde havia várias garotas, uma das quais se dirigiu à mesa onde se encontravam os três saltenses e, surpreendentemente, se posicionou bem próxima do presidente Corinto, parecendo estar em seu colo, para que o fotógrafo da casa colhesse o flagrante.
Pouco antes deles se retirarem do local, apareceu o fotógrafo querendo vender um slide, num daqueles “binoclinhos”, como eram chamados e que eram muito populares na época. Corinto não quis comprar, mas o vereador Alcides o adquiriu, para tirar um sarro futuro do presidente, trazendo-o para Salto e mostrando-o para os demais membros da Câmara, após o que deve ter sido destruído.
Troca de nome – Nessa mesma boate e nessa mesma noite, segundo ainda o “Cidão”, aconteceu um fato interessante: o presidente Corinto chamou um dos garçons e lhe pediu que fosse anunciada no microfone do palco a presença de uma delegação da cidade de Salto. Felizmente para “Cidão” e para o assessor Rigolin, que não queriam ser notados naquele local, o encarregado do anúncio se atrapalhou e ao invés de Salto, anunciou que se encontrava presente uma delegação da Câmara Municipal “de Santos”.