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CAUSOS

Ator amador leva um tiro real na testa



Durante grande parte do século passado, tivemos em Salto diversos grupos de teatro que proporcionavam lazer aos moradores da cidade com suas apresentações, numa época em que a TV não existia ou engatinhava. Os espetáculos aconteciam no salão que abrigou a Casa d’Itália, passando depois a Teatro Giuseppe Verdi e na década de 1980 se transformou em Teatro Municipal, abrigando hoje o Museu da Cidade.

Numa certa noite, na época ainda da Casa d’Itália, seria apresentada um drama com pessoas da colônia italiana e a expectativa era muito grande. Um dos atores era Biaggio (Braz) Ferraro (foto), que foi por alguns anos representante do governo italiano na cidade, o qual nos relatou o fato que vamos reproduzir, numa conversa que com ele tivemos quando possuía uma banca de jornais e revistas na Rua José Weissohn, em frente ao Jardim Tropical da atual Praça Archimedes Lammoglia, com seu irmão Francisco Ferraro (“Franchiné”).

Ele nos contou que no sábado, dia da apresentação, uma tempestade atingiu a cidade, provocando vários danos e impedindo a apresentação da peça teatral, que foi adiada para o sábado seguinte. Tudo estava preparado para a primeira noite, inclusive o contrarregra havia preparado a “munição” para uma espingarda, que seria utilizada no final do drama. Ao invés de usar um tiro de festim, ele bolou uma espécie de “bala” feita com miolo de pão, que daria mais realidade à cena do que um tiro contra o personagem representado por Braz Ferraro.

Felizmente nenhum problema surgiu no segundo dia marcado e com a Casa d’Itália completamente lotada, foi apresentada a peça, chegando-se à cena final, quando um tiro seria disparado contra o personagem Braz Ferraro. Tudo aconteceu da forma prevista: o tiro de espingarda, o choque da “bala” feita com miolo de pão na testa do Braz e sua queda no chão do palco, encerrando-se o espetáculo sob aplausos entusiasmados. O acaso, porém, adicionou um elemento a mais na cena ansiosamente aguardada: a “bala” feriu a testa do Braz Ferraro, fazendo espirrar sangue, enquanto ele caia desmaiado. As cortinas se fechavam, sob o delírio do público, mas Braz era atendido nos fundos do palco.

Depois que ele se recuperou, constatou-se por que as coisas não ocorreram como o previsto: o miolo de pão permaneceu vários dias no cano da espingarda e ressecou, ficando duro como pau e causando o ferimento na testa do ator. A cicatriz na testa de Braz Ferraro permaneceu para sempre, como prova do “realismo” do teatro saltense de antigamente.

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