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CAUSOS

Um inédito “feriado carnavalesco”


Não se costumava fazer feriado na terça-feira de carnaval em Salto, dia em que o comércio funcionava normalmente, o que deixou de acontecer nos últimos anos, quando para tudo na cidade para que as pessoas possam aproveitar o último dia de festejos. Na final da década de 1940, terça-feira de carnaval era um dia comum, mas teve um ano em que o comércio fechou nesse dia, para surpresa de muitos. Quem estava por trás disso: Jandir Pedroso da Silva, o aprontador, claro.

Ele e seu irmão Inacinho trabalhavam no açougue que fora do seu pai e Jandir gostava muito de carnaval, comparecendo todas as noites aos bailes do Clube Ideal. Do sábado de carnaval para domingo e de domingo para segunda-feira, ele praticamente não dormia, saindo direto do clube para o açougue, onde chegava todos os dias por volta de 4 horas da manhã, para preparar as carnes que seriam comercializadas a partir das 6 horas. Numa segunda-feira carnavalesca ele já não aguentava mais e gostaria de um descanso na terça-feira, para o último baile no Clube Ideal, mas seu irmão argumentou que não poderia atender à freguesia sozinho. Só se fosse feriado...

Feriado? E se fosse?, perguntou a si mesmo Jandir. Ele, então, bolou um jeito do comércio fechar na terça-feira. Todos sabiam que para os feriados normais (Natal, 1º de ano, Tiradentes, Finados, etc.) não

havia necessidade de se avisar os estabelecimentos comerciais, mas alguns outros, decididos pelo prefeito municipal, poderiam ser estabelecidos na véspera. O sistema utilizado era mandar uma pessoa avisar os comerciantes que no dia seguinte o comércio não funcionaria e todos obedeciam. Essa pessoa era o Bastião Raposa (foto), um desocupado que fazia bicos e que “morava” nos fundos do Cine Rui Barbosa.

Na tarde de segunda-feira Jandir mandou chamar o Bastião e lhe disse que o prefeito Tita Ferrari o incumbira de pedir a ele que fosse aos estabelecimentos avisar que o comércio fecharia na terça-feira de carnaval. Com o reforço de alguns trocados oferecidos por Jandir, Bastião percorreu as casas comerciais, surpreendendo alguns e alegrando outros que, como Jandir, pretendiam aproveitar o último dia de carnaval.

Na terça-feira pela manhã, ao se dirigir à Prefeitura, o prefeito Tita viu que os estabelecimentos comerciais estavam fechados e resolveu telefonar para os proprietários de alguns deles perguntando o porquê do fechamento, pois não dera nenhuma ordem nesse sentido. Veio então a explicação: o Bastião Raposa os tinha avisado para que fechassem. Tita mandou chamar o Bastião e exigiu dele explicações por sua atitude: “Foi o Jandir que mandou, seu Tita”.

O delegado de Polícia foi chamado na Prefeitura, Jandir foi denunciado e dois policiais foram buscá-lo em sua casa, onde ainda dormia, e levado para a Cadeia Pública, onde ficou até o dia seguinte, perdendo a última noite de carnaval. Desta feita o feitiço virou contra o feiticeiro...

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