CAUSOS
- Valter Lenzi
- 27 de fev. de 2017
- 2 min de leitura
Uma disputa inédita entre dois
aparelhos de rádio em 1931
Essa era a pergunta que movimentava a cidade no ano de 1931. Naquela época as diversões eram poucas: cinema, apresentação de algumas peças de teatro, chegada de um circo de vez em quando e até comícios políticos, que também poderiam ser considerados atrações, despertando o interesse de muita gente, que não tinha programa melhor.
As transmissões de rádio começaram a se tornar mais intensas a partir do final da década de 1920, mas em Salto a novidade ainda não chegara até o início da década seguinte. Na ocasião governava a cidade o prefeito nomeado Major José Garrido, que teve a ideia de instalar um aparelho de rádio no Jardim Público, ao lado da atual Praça Dr. Archimedes Lammoglia, pois não havia condições ainda de ser adquirido pelos moradores da cidade. No entanto, ele queria que o povo escolhesse a melhor marca, pois ele é que iria usufruir do prazer, razão pela qual convidou duas fabricantes de aparelhos para uma “disputa” em praça pública. Quem se apresentasse melhor seria o escolhido. Interessaram-se várias empresas, como a Atwater Kent, Victor, Columbia e outras menos famosas. A comissão encarregada do julgamento classificou como melhores as da marca Victor e Columbia, que – como as demais – eram estrangeiras. Não se tratavam de rádios com ótima qualidade de som e nem de muita potência, mas a ideia era colocar num local do jardim onde as pessoas pudessem se reunir para ouvir músicas e notícias, que predominavam na programação.

Num determinado dia, com os dois disputantes levados até o Jardim Público, um grande número de pessoas foi até o local para ouvir um som que jamais tinham ouvido. Primeiro funcionou um deles, depois o segundo, ambos derramando no jardim uma quantidade de chiados jamais vista também. Quem venceu foi o Columbia, que a partir da compra passou a distrair os saltenses que iam ouvir o som saído de uma grande caixa. Alguns preferiam as músicas, clássicas e óperas, esclareça-se. Outros iam ouvir o “Boletim de Informações”, que falava sobre o câmbio, a cotação do café, o perfume do sabonete Gessy, etc. Dois visitantes ilustres não deixavam de comparecer quase todas as noites: Zequinha Marques e o maestro Henrique Castellari.
Houve também os aproveitadores, os maridos que segundo o jornal “O Povo”, “gostavam de viver no off-side no jogo do lar”. Ou seja, tinham um motivo para suas escapadas amorosas. Diziam que foram “ouvir o rádio” e ao chegar em casa, após às 22 horas, se justificavam diante das suspeitas das mulheres:
- Estive ouvindo o rádio, meu bem. Hoje irradiou muito bem a “Traviatta”, de que você tanto gosta.
Ela, interessada, suplicava:
- Conta como foi, conta...