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CAUSOS

Bar do Gustão encerra atividades e deixa saudades


O Bar do Gustão, que encerrou suas atividades em 11 de março de 2017, foi um dos mais conhecidos e longevos da cidade: mais de 60 anos. Evidentemente, nesse período foram registradas várias histórias, principalmente aquelas que mostram as características de um bar, quase sempre oferecendo situações engraçadas, pois seriedade não é o elemento essencial nesse tipo de estabelecimento.

Fui frequentador assíduo do Bar do Gustão em minha infância e juventude, principalmente. Criança, ia comprar ali os doces, sorvetes, balas e outras iguarias comuns aos pequenos. Muitas vezes tomei copos de leite com groselha, água com magnésia granulada, preferidos naqueles tempos, e também os refrigerantes comuns.

Vista noturna do Bar do Gustão – década de 1980

Quando jovem, minhas preferências passaram a ser outras: bauru, churrasquinho ou misto-quente, após 22 horas, praticamente durante a semana toda. Aos sábados e domingos era o dia de tomar caipirinha ou cerveja, quando um grande número de rapazes lotava o bar, numa época em que a Avenida D. Pedro II era bastante movimentada nos fins de semana (hoje, aos domingos, fica praticamente deserta, o que levou os proprietários do bar a fechá-lo nesse dia nos últimos anos de funcionamento).

Augusto Fávero, o Gustão, era uma figura. Seu modo de falar, sua simplicidade e seu jeito característico, às vezes parecendo um tratamento nada gentil, eram suas marcas registradas.

O palmeirense Gustão, com camiseta, faixa de campeão paulista, bandeira e Papai Noel verde - 1994

Todos sabiam que ele era um torcedor fanático do Palmeiras e mexiam com ele, principalmente quando seu time perdia. Mas quando o Verdão ganhava bem de um adversário como o Corinthians, por exemplo, sai de baixo! Seu fanatismo era comparável ao de outro dono de bar, Alcides Boni: ambos garantiam que Ademir da Guia do Palmeiras era muito melhor que Pelé, o grande jogador da época.

Participei ou presenciei algumas histórias envolvendo o Gustão ou o seu bar. Ele era o tipo de dono de bar que não fazia questão de ser franco com a freguesia. Mais de uma vez cheguei para comer sanduíche após 22 horas, quando o bar estava praticamente vazio, e ouvi dele que não iria fazer o bauru ou churrasquinho pra mim. “O movimento tá fraco, por isso desliguei a chapa e não vou ligá-la novamente apenas pra fazer o seu sanduíche”. Não gostava, mas tinha que aceitar, no dia seguinte a gente voltava, pois o Gustão era isso mesmo e não adiantava discordar dele.

O bar tinha alguns fregueses interessantes, como aquele dono de cinema que todos os domingos, por volta das 22 horas, ia até lá e pedia um misto-quente e uma cerveja Brahma Porter. Nunca vi uma cerveja com tanta espuma: apesar da garrafa pequena, enchia 4 ou 5 copos, todos com muita, muita espuma. O dono do cinema sorvia devagar a bebida, comia metade do sanduíche e mandava embrulhar a outra metade pra levar para sua esposa. Diziam que ele era “mão fechada” e as características eram mesmo de uma pessoa que não esbanjava...

Gustão no interior do bar com seus filhos Odair, Almir e Airton (no caixa), aparecendo também os fregueses Muca, Dito Vanuci e Mário Bonato – década de 1970

Muitos fregueses tinham presença constante, como os que iam tomar pinga, cinzano ou rabo de galo antes do almoço ou do jantar (ou de ambos); os que tomavam uma ou mais cervejas, cada um exigindo sua marca preferida e aqueles que passavam algumas horas no bar, com uma pinga ou uma cerveja o tempo todo na mesa, apenas para ouvir ou contar as novidades.

Lembro-me de uma das brincadeiras que fiz no Bar do Gustão, na época em que ele resolveu acabar com as bebidas antigas que tinha próxima ao teto, verdadeiras relíquias, como a bagaceira do Milioni, pingas Rainha da Praia, Rialto, conhaque Presidente, etc. Passou a fazer rifas usando aquelas cartelas com nomes de times de futebol e eu ganhei várias em seguida. Quando os demais fregueses passaram a reclamar, dizendo que era só eu que ganhava, respondi que sabia que nome ia dar porque as cartelas eram impressas na gráfica do Taperá e tinha algumas marcas que indicavam o nome a ser sorteado. Não era verdade, mas acreditaram e o Gustão teve que suspender por algum tempo as rifas, voltando a fazê-las apenas quando avisou antecipadamente que as cartelas haviam sido compradas em São Paulo.

Os que participaram do réquiem no último dia de funcionamento do bar ou aqueles que acompanharam de longe suas “cerimônias fúnebres” ou ainda os que um dia frequentaram aquele ponto do Convívio, lamentaram o fim do espaço. Inebriados de saudades, curtem para sempre os momentos alegres que ali passaram, registrados indelevelmente no decorrer da vida de cada um.

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