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POLÍTICA SALTENSE

Jesuíno foi um político folclórico, mas de grandes realizações


Jesuíno no início de sua carreira política (1971) e em seus últimos dias como prefeito - 1996

Convivi com Jesuíno durante praticamente toda sua carreira política, por isso tive a oportunidade de conhecê-lo bem como homem público e também como pessoa. Muitas vezes o critiquei e fui também alvo de suas críticas, pois demonstrava muita irritação quando atacado pelo Taperá ou por seus adversários políticos.

Em virtude de sua origem na lavoura, não se podia considerá-lo uma pessoa culta, mas supria essa deficiência com um tino político que fez com que ele se elegesse prefeito por três vezes, quantidade que poderia até ser maior se na época em que militou na política os prefeitos pudessem se reeleger. Nas vezes em que indicou seu candidato à sucessão, foi feliz apenas quando elegeu Pilzio Nunciatto Di Lelli, seu vice, mas ambos se desentenderam logo no início da administração do seu sucessor e romperam os laços que os prendiam.

Primeira posse de Jesuíno para o quatriênio 1969-1972, no antigo prédio da Câmara, ao lado do seu vice Roberto Brichesi

Por ser originário do campo, Jesuíno tinha um jeito de se comunicar com sotaque caipira e seus adversários aproveitavam-se disso para tentar desmoralizá-lo, mas o eleitorado se divertia com sua forma de se manifestar e nem por isso deixavam de lhe confiar os votos necessários em sua vitoriosa carreira política. Contam-se muitas histórias, algumas verdadeiras, outras inventadas, sobre sua forma de utilizar as palavras, do tipo: “fulano foi operado da “úrsula”, quando queria dizer “úlcera”; também sobre suas manifestações, como quando pretendeu construir uma estação de tratamento de água no bairro do Conte e o engenheiro da Prefeitura disse que não seria possível em virtude da “lei de Arquimedes” que impedia a localização de um local como aquele. Jesuíno teria respondido: “Esse Archimedes [referindo-se ao deputado saltense com o qual divergia na época] sempre atrapalhando a gente...”

Jesuíno era um político populista, equiparando-se – não se sabe se acidentalmente ou por conveniência – ao falecido Vicente Scivittaro, o “Chinchino”. Sua forma de agir e de falar eram muito parecidas e talvez tenham servido para fixar a imagem dele perante o eleitorado e contribuir para suas eleições.


Na Brasital e Fábrica de Papel

Jesuíno toma posse na Prefeitura, substituindo seu antecessor, Josias Costa Pinto (2º à esq.) - 1977

Antes de ser político, Jesuíno trabalhou em duas indústrias: Brasital S.A. e Fábrica de Papel, ambas de propriedade dos mesmos empresários. Na Brasital militou na seção de Enfardamento (depósito de tecidos acabados), a partir de 1946, tendo passado três anos depois para o setor de Eletricidade da Fábrica de Papel, após ter concluindo um curso de monitor em eletricidade.

Terceira posse de Jesuíno, com seu vice José Carlos Rodrigues da Rocha, no prédio da Câmara na Av. D. Pedro II - 1994

Sua liderança começou a despontar quando foi eleito presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Papel e Papelão de Salto, com mandato de 1960 a 1969. Sob sua administração, foi inaugurada a sede própria da entidade, fato ocorrido em 1º de fevereiro de 1969, tendo exercido também, nessa época, o cargo de delegado da Federação dos Papeleiros.


Começo na Frente Operária

Jesuíno dá posse ao seu candidato Pilzio Nunciatto di Lelli, com quem iria romper – 1973

Jesuíno fez parte do grupo de trabalhadores que fundou, em 1963, a Frente Operária, tendo sido escolhido candidato a prefeito por essa nova facção política que surgia, nas eleições de outubro de 1963. Classificando-se em segundo lugar, teve apenas cerca de 200 votos a menos que o vencedor Joseano Costa Pinto (1.958 a 1.761), ficando à frente do candidato apoiado pelo deputado Archimedes Lammoglia, Annibal Negri (1.468 votos).

Voltou a se candidatar em 15 de novembro de 1968 e desta feita venceu os candidatos das que eram consideradas as principais forças políticas da cidade (o chinchinismo e o lammoglismo). Elegeu-se com 2.354 votos, contra 1.928 de Alberto André Ferrari (apoiado por “Chinchino”) e Hélio Steffen (1.873 votos, apoiado por Lammoglia).

Prefeito Jesuíno e deputado Lammoglia numa reunião com o governador Laudo Natel, no Clube Ideal - 1973

Governou a cidade de 1969 a 1972, quando realizou diversas obras importantes, como o prédio do Clube dos Trabalhadores, Avenida Vicente Scivittaro, Avenida dos Trabalhadores, Câmara Municipal e Biblioteca Pública na Av. D. Pedro II, prédios escolares nos bairros e outras. Também conseguiu benefícios junto ao Governo do Estado, como a construção do prédio do Centro de Saúde, construção da Via Expressa Salto-Itu, prédio do Ginásio Industrial (atual Profa. Leonor), terreno para a Delegacia de Polícia, compra do terreno da Usina das Lavras, etc.

Como não havia reeleição, Jesuíno voltou a trabalhar a partir de 1973 como vendedor viajante da Prema S.A., indústria que havia se instalado em Salto. Nessa eleição indicou seu vice-prefeito Roberto Brichesi para disputar o pleito, mas apesar dele ter sido o mais votado (2.926 votos), 34 votos a mais que o vencedor Josias Costa Pinto (2.892 votos), quem se elegeu foi Josias. Explica-se: naquela época o regime militar estabeleceu que a Arena e o MDB, os únicos partidos existentes, poderiam apresentar 3 sublegendas cada um. A Arena apresentou três candidatos (Josias, Hélio Steffen e Mário Vicente) obtendo 5.101 votos no total, enquanto o MDB, que só apresentou dois candidatos alcançou somente 4.630 votos (471 a menos).

Com o governador Luiz Antonio Fleury Filho, que assina um benefício para Salto, ao lado do deputado Tonin e outros – 1994

Foi novamente candidato a prefeito em 1976 e outra vez foi vitorioso, batendo com facilidade seus outros 5 candidatos. Alcançou a expressiva votação de 6.676 votos, contra 2.312 do segundo colocado (Edson Galafassi), 1.787 de Eugênio Coltro, 1.614 de Luiz Milanez, 433 de Adolfo de Moraes e 222 de Ottoni Soares. Nesse ano a Arena e o MDB também apresentaram 3 candidatos cada um: Jesuíno, Coltro e Ottoni pelo MDB e Galafassi, Milanez e Adolfo pela Arena.

A segunda gestão de Jesuíno como prefeito (1977 a 1983, durou seis anos, em virtude da prorrogação determinada pelo governo militar). Construiu o Ginásio Municipal de Esportes, Monumento à Padroeira e Praça João Paulo II no Jardim Itaguassu, fonte luminosa na Praça 16 de Junho (atual Archimedes Lammoglia), Estádio Municipal, mini-zoológico na Ilha dos Amores, expansão da rede de esgoto, calçamento de várias ruas, piscina ao lado do Ginásio de Esportes, sede da Guarda Municipal, uma creche, mudança da Prefeitura para o antigo prédio do Fórum na 9 de Julho, construção de 63 casas nas Lavras, etc.

Em 1982 Jesuíno voltou a indicar um vice, Pilzio Nunciatto Di Lelli, que conseguiu uma importante vitória, graças ao seu apoio. Durou poucos meses o entendimento entre ambos, pois romperam depois de um desentendimento (Jesuíno, na época, era assessor de Obras). Nessa eleição tivemos pela última vez as sublegendas, mas os partidos passaram a ter nomes diferentes: a Arena se transformou em PDS e o MDB acrescentou um “P”, passando a se chamar PMDB. Foi aberta também a oportunidade de outros partidos participarem do pleito: PT, PTB e PDT.

Pilzio (PMDB) foi o mais votado com 7.913 votos, seguido de Eugênio Coltro (PMDB) - 7.327, Eduardo Scivittaro (PDS) - 2.192, José Roberto Merlin (PT) – 2.164, Renardo Pravatta (PDS) – 696, João R. Bertolli Neto (PTB) – 218, Servilho Basali (PDS) – 193, José R.S. Pinheiro (PDT) – 5.

Com o governador Orestes Quércia e deputado Tonin (à esq.) numa reunião em Salto - 1992

Em 1988 Jesuíno teve sua segunda derrota na disputa pela Prefeitura de Salto, pois perdeu para Eugênio Coltro por uma diferença muito grande (12.689 contra 9.861, diferença de 2.828 votos). Vitório Matiuzzi foi o 3º colocado (3.874 votos) e Wilson Roberto Caveden o terceiro (2.950).

Mas em 1992 Jesuíno “ressurgia das cinzas” e obtinha um triunfo consagrador, atingindo 16.316 votos contra 11.006 do candidato do então prefeito Coltro (João Guido Conti). Pilzio, que concorreu por um outro partido (as sublegendas haviam terminado) foi o 3º com 4,773 votos e Izaquel Pinto dos Santos o 4º, com 4.408.

Nesse seu terceiro mandato (de 1993 a 1996), Jesuíno não foi tão realizador como nos dois primeiros, talvez porque a maioria das obras que a cidade necessitava já tinham sido feitas, muitas delas por ele. Numa entrevista ao Taperá, no final do seu mandato, Ele justificou sua atuação não tanto produtiva pelo fato de ter assumido “uma Prefeitura quase falida”, pois a dívida era de 23 milhões de reais, levando quase 2 anos para normalizar a situação.

Nessa entrevista Jesuíno citou como principais obras a abertura da Avenida José Maria Marques de Oliveira, o asfaltamento de grande número de vias públicas da cidade e dos bairros, a avenida do CAIC e o asfaltamento da Estrada do Guaraú ligando ao bairro ao Salto de São José. Muito pouco, em relação aos seus governos anteriores.


Candidato a deputado

Por duas vezes Jesuíno foi candidato a deputado: a primeira em 1974, quando não se elegeu, pois obteve apenas 8.828 votos, a grande maioria deles em Salto.

Voltou a se candidatar, mas desta feita para deputado federal, em 1994, fazendo dupla com o dr. Archimedes Lammoglia, que fora seu adversário político em anos anteriores. Tanto Jesuíno como Lammoglia não se elegeram, obtendo, respectivamente, 7.946 e 5.674 votos em Salto.

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