POLÍTICA SALTENSE
Josias, o 2º prefeito da família Costa Pinto, era um hábil político
A família Costa Pinto militou na política saltense a partir de 1952, quando Joseano Costa Pinto foi eleito vereador e se prolongou até o final de 2016 com sua filha Rosana Costa Pinto, também integrante do Legislativo municipal. Nesses cerca de 64 anos, houve algumas interrupções, quando nenhum membro da família ocupou cargo público. Mas na década de 1970 teve um prefeito eleito, Josias, irmão de Joseano e tio de Rosana, que tinha grande habilidade política: era persuasivo mais esperto que a maioria dos que enfrentou em sua época.
Nascido em 1931, Josias iniciou sua carreira política em 1963, ocupando até 1968 uma cadeira na Câmara. Pertencia na época à facção de Vicente Scivittaro, o “Chinchino”, constituindo-se num dos seus membros mais atuantes. Durante seu mandato, seu irmão Joseano, que ocupava o cargo de prefeito de Salto, rompeu com “Chinchino” e Josias o acompanhou, passando à facção contrária, comandada por Archimedes Lammoglia, representada em Salto por vários políticos de expressão, como Mário Dotta, Hélio Steffen, Antonio O. Ferrari e outros.
Como não pôde ser candidato a prefeito em 1968, pelo fato de ser irmão de Joseano, Josias trabalhou durante o governo de Jesuíno Ruy (1969/1972) politicamente. Era funcionário municipal e por isso Jesuíno procurou obstar suas pretensões, chegando a colocá-lo num porão existente no prédio da Prefeitura, sob a sala que era ocupada pela Tributação, à esquerda de quem entra pela Rua 9 de Julho, para que não tivesse contato direto com as pessoas. Um outro destino para Josias a mando de Jesuíno ajudou-o a se eleger prefeito: foi colocado no prédio da Delegacia de Polícia, onde eram expedidos os atestados de residência e ali Josias aproveitava para fazer campanha junto ao grande número de eleitores que tinha se transferido para Salto e que se dirigia àquele local. Nesse caso, o “castigo” se transformou em ajuda...
Nos meses que antecederam a eleição municipal para prefeito (1968), da qual Josias iria participar, ele trabalhou ativamente, percorrendo toda a cidade, assim como a zona rural. Na época eu trabalhava no Cartório Eleitoral local e depois do expediente (a partir das 17 horas, de segunda a sexta-feira) eu tinha que acompanhar alguns dos 5 candidatos a prefeito (3 pela Arena e 2 pelo MDB) aos sítios e fazendas para fazer a inscrição e a transferência dos moradores desses locais para a zona eleitoral saltense. Via então a diferenciação da campanha de Josias, que não permanecia o tempo todo na sede da fazenda ou do sítio, mas ia até a casa de cada um, cumprimentava as pessoas, tomava cafezinho e fazia suas promessas. Os demais não se movimentavam como ele, preferindo aguardar a vinda do eleitor. Hélio Steffen era um dos que agiam dessa forma. Ele gostava de frequentar o armazém do Haras São Luiz (quando ainda não existia os dois condomínios que levavam esse nome), comia pedaços de queijo e tomava alguma bebida, enquanto fazia comentários, alguns deles sem relação com o pleito que se avizinhava.
Graças ao seu trabalho, Josias foi o mais votado da Arena e se elegeu prefeito, pois o partido governista havia conquistado a maioria dos cerca de 10 mil votos em disputa (5.101 a 4.630). Ele perdeu para Roberto Brichesi na contagem individual por uma diferença de apenas 34 votos (2.926 a 2.892).
Como prefeito, Josias realizou algumas obras importantes, como a colocação de 3.800 metros de galerias; aumentou em 5.600 metros a rede de esgotos e em 4.700 metros a de água; construiu 4 salas de aula no Parque Escola do Bela Vista; implantou a Praça da Vitória (atual Tancredo Neves) no Bela Vista; realizou o acabamento no Clube dos Trabalhadores construído por Jesuíno; reformou o serviço da adutora de água; comprou o prédio da Abadia de S. Norberto; adquiriu a Chácara Vendramini onde se instalou o Terminal Rodoviário e a Apae; adquiriu o Hotel Saturno, onde hoje funciona o Conservatório Municipal; adquiriu terrenos na rodovia Salto-Itu que proporcionaram o alargamento das pistas; instalou 23 classes do Mobral (alfabetização de adultos); doou o terreno para a Apae e para a Escola Profa. Leonor; trouxe o Banco do Brasil e o Santander para Salto; durante seu mandato foram construídos os prédios do Fórum e da Delegacia de Polícia; foi construída a estrada nova ligando Salto a Itu e a Escola Benedita de Rezende.
O que deve merecer destaque é que no governo de Josias Salto experimentou um grande desenvolvimento industrial, depois do da década de 1950, trazendo um número muito grande de novas indústrias, graças às doações de áreas. Pode-se citar as duas do Grupo Toyobo, Nagel, U.M. Cifalli, Marsicano, Farintex, Merlin Gerin, Gerson Lupetti, Implasa, Calfat, Giannini, Novik, Altena, Prema, Solvoil-Citec, Dantas S.A., Goulds Bombas e outras.
Também expressiva foi a conquista do 11º lugar entre os municípios brasileiros, graças ao 1º lugar em rede de água, 3º lugar em rede de esgotos e 5º lugar em ligações elétricas domiciliares.
Nossa “briga” durou alguns meses
Vou contar este fato apenas para demonstrar que o jornal Taperá procurou ser sempre imparcial em toda sua existência. Fui um grande amigo de Josias, daqueles de visitá-lo sempre que possível, antes, durante e depois de ele ocupar o cargo de prefeito de Salto. Ele me contava fatos relacionados a sua vida, no tempo em que morava em S. Paulo, principalmente e eu tinha por ele grande respeito. No último ano do seu mandato, porém, tivemos um desentendimento que durou alguns meses.
Todas as quartas-feiras, eu pelo Taperá, Ettore Liberalesso pelo “O Trabalhador” tínhamos as entrevistas com o prefeito, que haviam se iniciado anos antes, no governo de Jesuíno Ruy. Numa delas, Josias se mostrou irritado com comentários que fiz a respeito de sua administração e afirmou que a imprensa de Salto e o Taperá em particular não mereciam sua consideração e confiança, pois divulgava inverdades. Não gostei da forma como ele se expressou e comuniquei-lhe que a partir daquele dia seu nome não seria mais publicado no jornal que dirigia. Ele achou que eu não iria cumprir a promessa, mas a partir daquela semana, o Taperá deixou de divulgar seu nome, referindo-se a ele apenas como “prefeito municipal” ou “chefe do Executivo”. Não deixei de publicar as notícias da Prefeitura, as boas e as ruins, mas a omissão do seu nome prometi que iria continuar até que ele pedisse desculpas pelo que considerei uma ofensa.
Durante esses meses eu era sempre procurado pelo chefe de Gabinete de Josias, Fernando de Noronha, que me solicitava “deixar pra lá” e voltar a publicar o nome dele, mas seus pedidos nunca foram aceitos. Eu sempre respondia: “é muito simples, é só ele pedir desculpas que voltamos a identificá-lo em nossas edições. Até que um dia, aproximando-se as eleições de 1976, Noronha me procurou, trazendo uma carta de Josias, desculpando-se pelo que afirmou contra a imprensa local e contra o jornal por mim dirigido, a qual foi publicada na 1ª página daquele sábado. A partir daí o Taperá voltou a publicar seu nome, mas nunca deixou de publicar críticas contra ele, sempre que havia razão para isso.
Outras atividades – Josias não atuou apenas na política. Ele fez parte de diversas entidades locais, como a A.A. Saltense, Loja Maçônica, Associação de Educação do Homem de Amanhã e outras.