CAUSOS
Uma favela que tinha até praia exclusiva
No início da década de 1981 tínhamos duas ou três favelas em Salto. Uma delas se situava às margens do Córrego do Ajudante, ao lado da então fazenda da Eucatex, hoje Central Parque. Quando chovia forte a água do córrego invadia os barracos e por isso os moradores reclamavam, o que fez com que fossem atendidos pelo Poder Público. Em 1981 o prefeito era Jesuíno Ruy, que proporcionou aos favelados algo que sequer imaginavam: a transferência dos seus barracos numa área próxima às Lavras, que ainda não tinha sido transformada em parque, mas já se constituía num local muito visitado pelos saltenses.
A área escolhida era próxima da Praia do Totico, onde muitos iam se banhar, principalmente no verão, pois o Rio Tietê ainda não era tão poluído. Ali foram construídos vários barracos pela Prefeitura, um ao lado do outro, utilizando-se chapas de Eucatex, o que melhorou bastante a vida dos que estavam alojados às margens do Córrego do Ajudante. Não teriam mais problemas com as enchentes e, além disso, estariam morando ao lado de uma praia particular e de uma área de lazer.
Isso levou o Boca-de-Siri, do jornal Taperá a comentar em sua coluna que a Prefeitura tirava os que viviam miseravelmente num ponto da cidade, transferindo-os para outro, só que, embora continuassem vivendo miseravelmente, iriam ganhar “status”: seriam os únicos moradores da cidade a terem uma praia particular e quase exclusiva, de água doce, é verdade, mas todinha deles. “Futuramente – prosseguia o Boca-de-Siri -, quando os donos de barracos pretenderem vendê-los, vai ser muito fácil. É só anunciar nos classificados do Taperá: ‘Vende-se um barraco, a 50 metros da praia, com muito verde e uma extensa área de lazer’”.
E concluía: “Vai dar até vontade de ser favelado”.