POLÍTICA SALTENSE
Mário Dotta: um grande vereador e quase eleito prefeito
Se forem analisados todos os vereadores que passaram pela Câmara Municipal de Salto, um nome se destaca: Mário Dotta. Ele representava a capacidade, a seriedade, o profundo conhecimento da legislação, a conduta sempre serena e justa e o desejo de beneficiar a cidade com ações pautadas pela correção e imparcialidade. Era difícil cumprir todos esses requisitos, numa época em que a política fervilhava em Salto, com as duas fações então existentes disputando palmo a palmo a preferência dos saltenses.
A primeira eleição vitoriosa de Mário Dotta como vereador aconteceu nas eleições de 1965, quando ele foi eleito presidente da Câmara para o biênio 1964/1965. Graças a atuação merecedora de elogios, não só dos integrantes de sua facção política, mas também dos oposicionistas, foi reeleito para o biênio seguinte (1966/1967). Reeleito vereador em 1967, foi novamente guindado à presidência do Legislativo local para os anos 1968 e 1969.
Em 1969, com o surgimento da Frente Operária, a supremacia da facção em que Mário fazia parte passou a não mais existir e ele passou a ser simplesmente um vereador, sem cargo na Mesa, depois de 6 anos como presidente. Exerceu essa função no ano de 1970, mas em 1971, desiludido com a atuação da Câmara no cenário municipal, deixou de comparecer a 3 sessões consecutivas, pois passou a exercer o cargo de assessor jurídico da Câmara de Indaiatuba, na qual as sessões se realizavam no mesmo dia que as da Câmara de Salto. Foi encontrada uma saída, para “salvar as aparências” e ao invés de ser decretado o afastamento de Mário, ele aceitou, depois de muita insistência, solicitar sua renúncia (ver matéria enfocando esse assunto, nesta obra).
Gestões – Em seus seis anos como presidente da Câmara e 1 ano e alguns meses como vereador, Mário conseguiu administrar os conflitos existentes entre os integrantes do Legislativo local, parte dele formada por partidários de Vicente Scivittaro (“Chinchino”) e a outra parte pelo próprio Mário e demais oposicionistas. Naquela época integravam a situacão políticos experientes, como Joseano Costa Pinto e Hélio Steffen, enquanto os oposicionistas, comandados por Mário, contavam com João Batista Milioni, Adélio Milioni, Mário Vicente e outros.
Quando Mário e “Chinchino” militaram juntos no Legislativo (1962/1965), houve diversos desentendimentos entre ambos, pois “Chinchino” era um provocador por excelência e Mário procurava enfrentá-lo utilizando seu conhecimento jurídico, mas às vezes não adiantava. Isso aconteceu, por exemplo, em fevereiro de 1965, quando ambos quase partiram para o desforço físico, envolvendo também vereadores de ambas as facções. A discussão se iniciou quando foi apreciado um projeto de lei de “Chinchino” sobre os diques construídos na adutora da Fazenda Conceição, que impediam a água de chegar em quantidade a Salto. A discussão foi acalorada, com acusações de ambas as partes, que quase terminaram em agressões físicas, ficando apenas nas verbais.
Candidato a prefeito – Curiosamente, antes de se candidatar a vereador, Mário foi candidato a prefeito pela facção que fazia oposição a Vicente Scivittaro, o “Chinchino”. Foi uma campanha memorável, pois os comícios, naquela época, atraiam um número muito grande de pessoas. Ele enfrentou o candidato apoiado por “Chinchino”, Hélio Steffen, que iriam se desentender nos primeiros anos de mandato deste último. Os que apoiavam Hélio utilizavam o mesmo “rolo compressor” construído especialmente para a campanha e que já tinha sido usado por “Chinchino” em campanhas anteriores. Era um verdadeiro “rolo” com cerca de 6 metros de largura e 2 de altura, construído com ferro e revestido com panos e outros materiais, que abria os destiles em direção aos locais de comícios. Foi “obra” de Gildo Calçavara, funcionário municipal partidário entusiasta de “Chinchino”. A facção de Mário, por sua vez, utilizava outras formas de atrair o público, como o “desfile das tochas”, que percorreu a cidade, entusiasmando os que apoiavam o candidato a prefeito.
No pleito realizado em 1955, Hélio venceu Mário por somente 212 votos (1.691 a 1.479). Em terceiro lugar ficou Iguatemozy Arruda Castanho, com apenas 52 votos.
Comarca e adutora – Mário, mesmo antes de ser eleito vereador, colaborava com todas as iniciativas que ocorriam na cidade, pois era o único advogado saltense, formado em 1952. Como vereador, apresentou proposituras importantes, apoiou outras dos demais vereadores, prestou vários esclarecimentos, pois a Câmara era integrada por homens do povo, em sua maioria, e se destacou em diversas campanhas que beneficiaram o município. Pode-se destacar, por exemplo sua atuação comandando a Comissão da Comarca, tendo elaborado as dezenas de documentos exigidos, além de manter contatos com as autoridades judiciárias. Contou com a colaboração do deputado Archimedes Lammoglia, que apresentou e conseguiu a aprovação do projeto de lei que criou a Comarca de Salto e de saltenses que aderiram à causa e foram também importantes para o atendimento das exigências.
Outra participação valiosa de Mário foi no apoio dado ao prefeito Joseano Costa Pinto, para conseguir o empréstimo junto ao Governo do Estado, que permitiu a construção da Adutora do Piraí, que veio resolver o problema da falta d’água na cidade, fato que se repetia com assiduidade.