POLÍTICA SALTENSE
20 anos depois de sonhar com a Prefeitura, Coltro se elegeu
Desde 1968 Eugênio Coltro pretendeu se candidatar a prefeito de Salto. Nessa época exercia o cargo de vereador (mandato iniciado em 1964) e pretendia ser um dos candidatos apoiados por Joseano Costa Pinto, que deixava a Prefeitura e pela facção comandada por Archimedes Lammoglia, da qual fazia parte, militando num dos dois partidos então existentes, a Arena. Ele ficou bastante desgostoso, tanto com Joseano como com Archimedes, com os quais praticamente rompeu relações, passando-se para outro partido pelo qual foi candidato a prefeito pela primeira vez em 1982, apoiado pela coligação formada pelo PDT, PTB, PFL e PDS.
Ele quase atingiu seu objetivo nesse ano, pois sempre aparecia em 1º lugar na pesquisa realizada pelo jornal Taperá e apenas na véspera do pleito foi alcançado por Pilzio Nunciatto Di Lelli, que acabaria eleito.
Faz-se necessário registrar o que aconteceu na época em relação a essa pesquisa: certo dia, conversando com o então prefeito Jesuíno Ruy, antes da eleição de 1982, que apoiava Pilzio na disputa pela Prefeitura, ele me perguntou se podia confiar nessa pesquisa realizada pelo Taperá. Garanti-lhe que sim, o que o levou a passar a pressionar Pilzio, que já se achava vencedor e praticamente não participava da campanha. Lembro-me que num domingo antes do pleito, estava no Bar Sbrissa, na Rua 9 de Julho, quando Jesuíno e Pilzio entraram para distribuir a propaganda política. Jesuíno dirigiu-se a mim e me revelou que nos últimos dias intimou Pilzio a se empenhar para não ter que amargar a derrota. Deve ter dado certo essa pressão de Jesuíno sobre Pilzio, pois o resultado das urnas apontou Pilzio como vencedor (7.913 votos) e Coltro em 2º lugar, com 7.327.
Quando Coltro soube desse fato, procurou-me para reclamar, dizendo que a pesquisa tinha aberto os olhos de Pilzio e fez com que ele se empenhasse mais para se eleger. “Se o Taperá não tivesse publicado a pesquisa, certamente eu seria o vencedor”, argumentou Coltro, no que tinha certa razão.
Na eleição seguinte de 1988, decidi agir de forma diferente, para que a pesquisa não interferisse no resultado do pleito. O jornal a realizou, mas não o divulgou nas duas últimas semanas, noticiando apenas que Coltro tinha condição de ganhar. Eu tinha tanta confiança na pesquisa que realizávamos, que resolvi correr um risco: a apuração foi realizada numa quarta-feira e somente nesse dia, pouco antes dos votos começarem a ser contados, o Taperá publicou o resultado do último levantamento realizado, mostrando Coltro em primeiro lugar. Já imaginaram se não tivesse dado certo? Eu e o jornal passaríamos por uma grande vergonha e a credibilidade do Taperá (que aumentou com essa atitude) sofreria um grande abalo.
Finalmente Coltro se elegia prefeito de Salto em outubro de 1968, depois de 20 anos de expectativa, cumprindo seu mandato de 1989 a 1992. Nessa eleição obteve uma votação expressiva (12.689 votos), contra 9.861 votos de Jesuíno Ruy, 3.874 de Vitório Matiuzzi e 2.950 de Wilson Caveden. Disputou a eleição pelo PSB, pois em novembro de 1987 tinha deixado o PMDB.
Realizou obras importantes
Em seus 4 anos de governo (1989 a 1982), Coltro realizou algumas obras importantes, dentre elas a implantação de três parques turísticos (das Lavras, do Lago e da Rocha Moutonée), contando com a colaboração do seu secretário de Turismo, Geraldo Garcia. Antes dessa implantação, havia planos de vários governantes em instalar um parque turístico na cidade, mas apesar de algumas obras realizadas, foi Coltro quem transformou os 3 parques em realidade, passando a funcionar normalmente, o que acontece até hoje.
Outras realizações do governo Coltro: Distrito Policial do Jardim das Nações, reinauguração da Ponte Pênsil (que contou com a colaboração da indústria Santista, sucessora da Brasital S.A., construção do Cemitério do Éden, instalação da Usina de Compostagem de Lixo, implantação do Convívio D. Pedro II, do Monumento aos Imigrantes (na esquina da Avenida D. Pedro II com a Rua 9 de Julho), reforma da sede do Corpo de Bombeiros, construção do Centro Esportivo do Jardim Bandeirantes, realização dos Jogos Regionais (1991), dentre outras.
Coltro também teve uma boa atuação na área do ensino, fazendo reivindicações ou melhorias. Também batalhou para que a duplicação da variante para a Rodovia do Açúcar ocorresse, tendo feito uma campanha que movimentou a cidade, nesse sentido. Uma outra das suas principais ações foi na área da Segurança, pois em várias ocasiões dirigiu-se à Secretaria respectiva do Estado ou na sede da Polícia Militar, para reivindicar um número maior de policiais civis e militares, nem sempre sendo feliz nessa empreitada. Foi em seu governo também que foi instalada a 3ª Vara na Comarca de Salto e inauguradas algumas unidades industriais, como a Olin do Brasil.
No governo Coltro foram eliminadas as favelas de Salto e não foi permitido que outras fossem instaladas no município. O desmonte de barracos aconteceu nas duas maiores favelas saltenses, a do Jardim Marília (que anos depois reapareceu) e a do Jardim das Nações, o que gerou muitas críticas. Para compensar, Coltro destinou lotes para os favelados (130 apenas para os do Marília) e outros para os do Jardim das Nações.
Polêmicas que marcaram sua administração
A administração de Eugênio Coltro não foi tranquila. Logo que tomou posse, os servidores municipais se posicionaram contra sua pessoa e durante o seu mandato chegaram até a fazer seu “enterro” simbólico, desfilando com um caixão. Em seu primeiro ano houve também, em setembro de 1989, a apresentação de um pedido de cassação do seu mandato, acatado pela Câmara, mas a Justiça local não o referendou, isso somente em setembro de 1990 (um ano depois). Sobre a Câmara, aliás, ele teve uma oposição ferrenha por parte de alguns vereadores.
As duas maiores polêmicas envolvendo Coltro aconteceram na construção do Convívio D. Pedro II e no desmonte de uma piscina popular que seu antecessor, Jesuíno Ruy, havia construído ao lado do Ginásio Municipal de Esportes. Com relação ao Convívio, a discussão (e muitas críticas) ocorreu porque ele cortou praticamente todas as árvores do canteiro central da Avenida D. Pedro II. Houve protestos de grande parte da população, não só com relação ao corte, mas também com a eliminação de uma das pistas. Várias ações aconteceram nessa ocasião, dentre elas o desfile de crianças de escolas locais, portando cartazes contra o corte das árvores e o fim da avenida.
Para “coroar” as polêmicas de sua administração, Coltro não compareceu à cerimônia de transmissão de cargo para seu sucessor, Jesuíno Ruy, em janeiro de 1992, o que também foi criticado. Na eleição que elegeu Jesuíno Ruy, Coltro não concorreu, pois isso não era permitido naquela época, mas indicou seu vice-prefeito, João Guido Conti, o qual teve uma boa votação, mas ficou 5.310 votos atrás do vencedor (16.316 contra 11.006). Conti, porém, acabaria se elegendo 4 anos depois, em 1995, vencendo José Carlos Rodrigues da Rocha, Marilena Matiuzzi, Cláudio Terasaka, Pilzio Nunciatto Di Lelli e Juvenil Cirelli.
Seria candidato – Coltro deixou a Prefeitura em janeiro de 1993 e 3 meses depois (maio) anunciou que seria novamente candidato a prefeito nas eleições do ano 2000, desejo reiterado em novas declarações à imprensa em junho daquele ano. No entanto, um mês depois (julho de 1993) ele falecia repentinamente, deixando um vazio importante em sua facção política. Sem ele, aquele que foi seu vice-prefeito, João Conti, tentou se eleger em 2000, e 2004, mas não obteve sucesso.