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POLÍTICA SALTENSE

  • Foto do escritor: Valter Lenzi
    Valter Lenzi
  • 8 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura

Tita, sucessor do pai Hilário, foi

2 vezes prefeito e 2 vereador


Tita Ferrari, em 1962 e quando completou 100 anos de idade

João Baptista Ferrari, conhecido como Tita, foi um digno representante da família que governou Salto durante cerca de 1/4 de século. Seu pai foi o primeiro a se destacar, administrando a cidade de 1917 a 1930 e a partir de 1938, quando teve que deixar o governo no ano seguinte, em virtude da eclosão da 2ª Grande Guerra, que proibia os italianos de ocuparem cargos públicos.

Com o impedimento de Hilário, Tita assumiu a Prefeitura saltense de 1939 até 1945 (nomeado) e de 1948 a 1951 (eleito). Não terminou seu mandato em virtude de um acontecimento relatado mais adiante. Antes tinha sido vereador, de 1936 a 1937 e de 1952 a 1955, com expressivas votações, pois era uma pessoa simpática e querida pela população.

Como prefeito, numa época difícil em que a cidade não tinha condições de fazer investimentos, utilizou sua amizade com o governador Adhemar de Barros, com quem era bem relacionado, para conseguir alguns contatos importantes e até alguns investimentos.

Em seu primeiro governo, Tita incentivou as comemorações cívicas, realizou uma campanha para que a bandeira nacional fosse hasteada não só nas repartições públicas nos feriados, mas também nas indústrias, casas comerciais e até em residências; pavimentou 15 quarteirões de ruas centrais, construiu o jardim da Praça da Matriz (atual Antonio V. Tavares); melhorou as estradas municipais, incentivou as bandas de música e o esporte.

Sentado com seu pai Hilário e em pé os amigos Raulzinho, Merlin e Salatiel

No segundo mandato, iniciou um movimento para elevar Salto a comarca; desapropriou o quarteirão onde foi construído o Hospital Municipal e o Parque Infantil; doou o antigo Isolamento para a Sociedade São Vicente de Paulo; conseguiu que o Estado construísse a ponte sobre o Rio Tietê e a ponte da estação; junto à União pleiteou e obteve a construção do prédio dos Correios; trouxe para Salto a Escola Artesanal (atual profa. Leonor F. da Silva); obteve a instalação do Posto de Puericultura e Centro de Saúde junto ao Estado; iniciou o trabalho para a vinda de indústrias para Salto, isentando-as de qualquer imposto por 20 anos, conseguindo a vinda da Eucatex, Sivat e Emas; e com um grupo de amigos fundou o Clube dos Trabalhadores.


A “razão particular” que fez Tita deixar a Prefeitura

Com o governador Adhemar de Barros, em sua visita a Salto

Até hoje existem pessoas que fazem uma apreciação equivocada sobre o episódio que envolveu Tita Ferrari, em 1951 e que determinou seu afastamento da Prefeitura de Salto até o final do seu mandato, quando foi substituído pelo seu irmão Orestes Ferrari, que era vereador, por alguns meses. Por isso se faz necessário dar as devidas explicações, para que prevaleça a verdade e para que “seja colocada uma pedra em cima”, como se costumava dizer quando surgia uma versão definitiva.

Somos testemunhas tanto de Tita Ferrari como de Salvador Silveira, o “Índio Saltense”, personagens do episódio que movimentou a cidade em 1951. Ambos nos deram sua versão, o que fez com que chegássemos à conclusão de que a história não foi como a que se imaginava na época. Também temos uma terceira versão, de Archimedes Lammoglia, segundo o relato que fez numa autobiografia que pretendia editar e cujo texto do episódio nos forneceu.

Ladeado por Luiz Milanez e Eugênio Nonis, fundadores da A.A. Saltense

Quanto à versão de Tita, pouco tempo antes do seu falecimento ele esteve em minha casa e resolveu abordar o assunto, talvez porque achava que era preciso desabafar. Contou que, como fazia habitualmente, visitou seus pais, Hilário e Rosa Patucci e na conversa ambos afirmaram que havia um comentário na cidade que sua esposa Maximina Roncoletta estaria traindo-o com Salvador Silveira, o “Índio Saltense”, que lhe prestava pequenos serviços, como cuidar do jardim fazer algumas compras, etc. Transtornado, Tita relatou que pegou uma garrucha que estava guardada na casa dos seus pais e foi procurar Salvador, que costumava frequentar o Bar do Nardelli, no Centro da cidade. Encontrando-se com ele, proferiu algumas palavras, das quais não se lembrava mais e disparou tiros [ele dizia que foram dois, Archimedes Lammoglia – ver relato a seguir – cita que foram cinco] no peito do “Índio Saltense”, que já era conhecido com essa alcunha e que depois se tornou famoso como lutador e juiz de luta-livre, em programas exibidos por emissoras de televisão, principalmente a TV Record.

Tita ainda contou que as balas que se alojavam na garrucha eram muito velhas e por isso não feriram gravemente Salvador, que caiu, enquanto ele se retirava do local. Foi chamado o médico Archimedes Lammoglia, que vinha nos fins de semana para Salto e este também dá sua versão, em depoimento por escrito que nos fez bem antes de falecer. Eis o que diz Archimedes em seu depoimento:

“O povo gostava e gosta do Tita [ele ainda estava vivo, na época]. Ninguém nunca falou em mudar o prefeito. Bom, caridoso, honesto. Dez anos como prefeito, ficou pobre, porque não roubou, não foi corrupto como é praxe de alguns hoje em dia. Fez o que pôde pela cidade com o orçamento da época que era pouco mais de duzentos contos. Para os jovens deu escolas. O único pecado do Tita como prefeito, segundo vários saltenses e na minha opinião, s.m.j., foi destinar o Morro Vermelho para Elias Fausto [Tita sempre negou essa informação], para a sua emancipação político-administrativa. Dizia em sua defesa que seriam menos estradas para serem conservadas. Economia para o município.

Homenageado pelo prefeito João G. Conti no Projeto “Ser Cidadão”

O Tita passava pelo Largo nas proximidades do coreto [que existia na Praça Paula Souza]. Deparou com o Índio Saltense. Por uma questão moral, disparou-lhe cinco tiros para assustar. Eu estava por perto. O Índio saiu correndo. O Tita desapareceu, para evitar o flagrante. Gritei ao Índio que veio ao meu encontro, trêmulo e chorando: ‘Quimede, o Tita quis me matar. Tacou cinco tiros em mim. Um pegou aqui (apontou o local, furou a manga do paletó, outro raspou a testa e furou o chapéu, outro no peito. Vou morrer, Quimede!’. Examinei-o rapidamente. Palpei a bala que estava abaixo da pele na região do osso externo. Fomos ao consultório do dr. Chierighini a duzentos metros. Estava repousando. Levantou-se, descabelado, olhos vermelhos, perguntou: ‘O que houve, Lammoglia?’. Respondi: ‘O Tita, segundo o Índio, eu não vi, disparou cinco tiros. Uma bala está embaixo da pele, no peito’. ‘Deita ai’, falou o médico. Preparei a seringa com anestésico. Entreguei ao doutor que falou baixinho: ‘Devia ter matado essa praga, pelo que está fazendo. Revólver muito ruim esse do Tita. Pegasse o meu e não falharia!’.

Ajudei o doutor Chierighini. Extraímos a bala e a entreguei-a à Polícia. Hoje o Índio é lutador na televisão, recorda desse dia e diz: "Devo a minha vida a você, Quimede’. Tita deixou a Prefeitura. Assumiu João de Moura Campos, ‘João de Isaac’, como era conhecido, até quando entregou a Prefeitura ao Tita, eleito pelo povo nas eleições de 1947 pelo PDC.

O processo na justiça deu em nada. Saiu livre”.

A versão do “Índio” – Depois que os programas sobre luta livre deixaram de ser apresentados na televisão, o “Índio Saltense” formou um grupo que inclusive se apresentou em Salto, na A.A. Saltense e no Ginásio Municipal de Salto, esta última apresentação no governo de João Conti. Ele sempre me ligava, solicitando que falasse com Conti para trazer novamente seu grupo para Salto, mas, confesso, cheguei a falar com pessoas da administração, porém nenhuma vez com o prefeito.

Tita votou até os 100 anos de idade, sempre na Escola “Tancredo do Amaral

Certo dia, numa conversa mais longa com ele, toquei no assunto dos tiros disparados com Tita contra ele. “Índio” então me jurou que nunca teve nada com a esposa dele, dona Maximina. Achou, no entanto, que Tita tinha razão na reação que teve, pois o comentário na cidade era que ele tinha um caso com a mulher dele. Esse comentário, segundo “Índio” assegurou, ocorria porque ele, no Bar do Walter Nardelli, em frente à Praça Paula Souza, contava vantagens envolvendo a mulher do prefeito, que não eram verdadeiras, apenas para se gabar. Como ele era sempre chamado à casa do Tita, para executar diversos pequenos serviços, ganhando alguns trocados com isso, pois não tinha emprego fixo, as pessoas acreditavam em sua versão.

 
 
 

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