CAUSOS
“Madame” que previa o futuro e enganava
incautos foi defendida em coluna do Taperá
Houve uma época (década de 1980, principalmente), que era comum a cidade receber a visita de madames que previam o futuro e enganavam os incautos, aplicando diversos golpes. Elas divulgavam seus serviços pregando cartazes em postes, onde indicavam o endereço em que atendiam. Todos criticavam a atuação dessas “madames”, mas numa coluna do jornal Taperá o Boca-de-Siri fazia a “defesa” (na base de gozação) de uma das “madames” mais famosas, que estava sempre na cidade, de nome Zuleika.
Boca-de-Siri dizia que essa “madame” tinha uma capacidade incrível de fazer dinheiro virar papel picado, principalmente se a importância fosse grande. “Mas o que é dinheiro, se não um monte de papel picado? – perguntava. Com um agravante: dinheiro fede, papel picado nem sempre”.
Para um cliente, Zuleika pediu em troca de revelar os números que seriam sorteados na Loto um aparelho 3 em 1 novo, peças de enxoval e presentes de casamento. “O sujeito não teve paciência de esperar algumas semanas e foi logo querendo ganhar a quina no primeiro sorteio. Se ele não fosse tão afobado, um dia as dezenas prometidas dariam”, justificou Boca-de-Siri.
Um outro levou 10 milhões de cruzeiros para a “madame” benzer, mas ela, segundo o Boca, “deve ter invertido algumas palavras mágicas que usa, pois as notas de 5 mil se transformaram em papel sem valor, acidente que pode acontecer com qualquer um”.
O colunista reconheceu que realmente ela foi um tanto infeliz em sua missão na cidade: levou alguns milhões, aparelhos elétricos, eletrônicos e outros materiais, mas lamentavelmente suas aptidões transformistas não teriam sido possíveis de serem testadas, porque o saltense queria resultados imediatos. "Dinheiro, por exemplo – explicou o Boca-de-Siri – para dobrar de valor precisa primeiro voltar às origens, isto é, transformar-se inicialmente em papel jornal recortado e numa segunda etapa virar dólar, libra esterlina e marco alemão [ainda não tinha surgido o euro]. Não lhe deram tempo para completar o segundo ciclo e agora reclamam”.
Em 1984, quando o assunto foi abordado no jornal, o ministro da Fazenda era Delfim Neto e o Boca-de-Siri fez a comparação, dizendo que Madame Zuleika transformava dinheiro em papel sem valor, enquanto o ministro fazia a mesma coisa com o cruzeiro e continuava “circulando por aí, belo e formoso”.