POLÍTICA SALTENSE
- Valter Lenzi
- 31 de jul. de 2017
- 4 min de leitura
Cassação de um padre e ameaça contra um bispo
Não só os políticos foram alvos dos pedidos ou ameaças de cassação, mas também outras pessoas, como um padre, que virou monsenhor, e um bispo da Diocese de Jundiaí. O padre foi Mário Negro, que recebeu o título de Cidadão Saltense, o qual posteriormente foi cassado e o bispo dom Amauri Castanho foi ameaçado de também perder o título de Cidadão que lhe foi outorgado pelos vereadores saltenses.

O caso do padre Mário Negro foi o de maior repercussão, por se tratar do vigário da principal paróquia de Salto, a de Nossa Senhora do Monte Serrat. Ele recebeu o título de Cidadão Saltense em setembro de 1972, pelo seu trabalho na paróquia, pois foi sempre muito eficiente e muito querido pelos paroquianos. Mas era um sacerdote polêmico, que não deixava de abordar os assuntos mais delicados, em todos os setores da sociedade local, fazendo também críticas às pessoas, na

maior parte das vezes utilizando o púlpito, nas missas que celebrava. A outorga do título foi proposta pelo vereador Fernando de Noronha e a entrega ocorreu em 23 de setembro de 1972, numa festa emocionante, pois o padre Mário foi surpreendido ao entrar no plenário da Câmara, pela presença dos seus irmãos, parentes e outras pessoas de Leme, onde viveu como empregado numa das cerâmicas que ali funcionavam. Durante a entrega feita pelo professor João B. Dalla Vecchia, convidado pelo presidente da Câmara em exercício, prof. Antonio Oirmes Ferrari, o autor do projeto usou da palavra recordando aspectos da vida do sacerdote, que agradeceu a seguir, julgando-se imerecedor da homenagem. A seguir a Prefeitura ofereceu um jantar para cerca de 200 pessoas, no Restaurante do Salto, local para o qual se dirigiram as autoridades presentes, prefeito Jesuíno Ruy, deputado Lammoglia, vice-prefeito Roberto Brichesi, promotor, delegado de Polícia e outras.
Cassação – O desentendimento envolvendo o prefeito Jesuíno Ruy e o padre Mário Negro se acentuou quando o primeiro enviou à Câmara, em março de 1977, um projeto de lei introduzindo modificações na forma de realização da Festa do Salto. A lei previa que a coordenação, que era feita pelo padre Mário, passaria para a responsabilidade de uma comissão formada por 5 membros, de livre escolha do chefe do Executivo. Além disso, a receita líquida da festa, que se destinava à Paróquia de Nossa Sra. do Monte Serrat, seria distribuída a diversas entidades e para um fundo de reserva, destinando-se apenas 30% para a Paróquia de N. Sra. do Monte Serrat. Isso desagradou o padre Mário, que em entrevista ao jornal Taperá afirmou que não iria aceitar a “atitude arbitrária”, pois a festa era exclusivamente da Paróquia e que tanto as entidades como a Prefeitura poderia colaborar, mas nunca se arbitrar o direito de organizar e distribuir a renda líquida. O projeto acabou sendo aprovado, surgindo uma polêmica entre o sacerdote e o prefeito, cada um defendendo seus pontos de vista.
Após a entrevista, publicada no dia 26 de março, logo na semana seguinte os vereadores do MDB apresentaram um projeto de decreto legislativo revogando o título de Cidadão Saltense que foi entregue ao padre Mário 5 anos antes, alegando que o sacerdote teria feito críticas aos vereadores e ao prefeito. O projeto acabou sendo aprovado no dia 2 de abril de 1977 por 8 votos (todos do MDB) a 4 (vereadores da Arena), quando o padre deixou de ser Cidadão Saltense, pelo menos oficialmente.

Devolução – 14 anos depois do título do padre Mário ter sido cassado, houve um movimento na Câmara de Salto para devolver a homenagem, que levou 3 vereadores (José Carlos Rodrigues da Rocha, José Roberto Merlin e Valderez Antonio da Silva) a apresentar um projeto de decreto legislativo, propondo a devolução do título ao então monsenhor Mário Negro, aprovação que aconteceu em 1991. O projeto foi apresentado numa terça-feira (dia 14 de maio) e aprovado três dias depois, numa sexta-feira, dia 16. Apenas um vereador votou contra: Ananias Lúcio Barros, que era partidário do prefeito Jesuíno Ruy, que ainda estava rompido com o sacerdote. A entrega pela segunda vez do título aconteceu numa sessão solene que aconteceu no dia 16 de junho de 1993, quando foram homenageadas, além do monsenhor Mário, também o maestro José Maria Marques de Oliveira (Zequinha), que foi representado por suas filhas Aurora e Inês e Ettore Liberalesso. Ao monsenhor a entrega foi feita pelo presidente José Carlos Câmara e pelo vice Cláudio Terasaka.

Também dom Amaury – Através do vereador Antonio Cláudio Miguel, foi proposta a entrega do título de Cidadão Saltense ao bispo diocesano, dom Amaury Castanho, em março de 2001. Ele justificava a apresentação do projeto pelo fato do bispo, que completaria 74 anos em setembro daquele ano, estar em plena atividade, colaborando com as paróquias da Diocese. A aprovação da propositura não foi tranquila, pois houve discussão entre o vereador Eliano Apolinário de Paula e o autor Antonio Cláudio. Na votação, que foi secreta, a proposta foi aprovada por 14 votos a 3. A entrega do título foi feita em 17 de setembro de 2001, numa sessão solene em que também recebeu o título de Cidadão Lourenço Eugênio Foglia.
O fato de dom Amaury ter se desentendido e afastado o monsenhor Mário Negro da Paróquia de Monte Serrat, contribuiu para que houvesse reparos a sua pessoa, o que não impediu a aprovação do projeto.
Ameaça de cassação – A revolta dos vereadores saltenses contra o bispo dom Amaury teve início quando ele divulgou uma lista de candidatos a deputado apoiados pela Diocese de Jundiaí. É que ele não incluiu na lista nenhum dos 5 candidatos a deputado estadual e federal de Salto. Na discussão, o vereador Eliano Apolinário de Paula levantou a sugestão de cassar o título do bispo. O fato ocorreu em setembro de 2002, exatamente na semana em que dom Amaury anunciava que pretendia se afastar da Diocese, por ter completado 75 anos de idade. A pretensão de Eliano ficou apenas na promessa, não sendo oficializada, o que livrou mais um sacerdote de se tornar vítima de “cassadores”.