CAUSO
- Valter Lenzi
- 14 de ago. de 2017
- 2 min de leitura
A notícia de que a população saltense seria dizimada pela AIDs virou piada
Uma notícia que apavorou todos os saltenses foi divulgada pela Assessoria da Saúde (atual Secretaria) da Prefeitura de Salto em 1988: o município já seria atingido por uma grave doença surgida naquela época, a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA, em inglês), pois contava com cerca de 2.000 aidéticos. Referida Assessoria previa até que iriam morrer 54 mil saltenses (mais do que 50% da população) em apenas 3 anos. Seria uma verdadeira hecatombe, mas aos poucos a ameaça acabou virando motivo para piada.
Assim como todos os brasileiros, os saltenses passaram a tirar sarro da própria desgraça. “Sabem por que em Itu foi constatado apenas um caso de AIDS”, perguntava um, e logo respondia: “é porque lá o vírus é do tamanho de um bezerro e por isso o pessoal acaba com ele a cacetada”.
Outros falavam em lançar a “Pirâmide da AIDS” (era a época em que uma “pirâmide” levou muito dinheiro de saltenses inocentes). Boa parte dos 54 mil que seriam dizimados iriam aderir.
Na Câmara, um vereador comparava Salto a Sodoma e Gomorra, achando que, como essas cidades, que possivelmente não teriam existido, Salto também fora atingido pelo castigo divino.
Outro membro do Legislativo ameaçava apresentar um projeto extinguindo a Assessoria de Turismo (atual Secretaria), pois se existissem realmente 2 mil saltenses com AIDS, ninguém mais viria para Salto.
Coincidentemente, instalara-se na cidade naquele ano mais uma funerária e as pessoas já passaram a atribuir isso ao “faro comercial” do proprietário.
Um cidadão perguntava quem fora mesmo aquela engenheira da Prefeitura, que disse que nosso Cemitério da Saudade duraria mais dois anos pelo menos. Morrendo 54 mil haveria necessidade de pelo menos mais uns 3 cemitérios.
Havia quem desejava aproveitar a síndrome que atacava a cidade, tirando proveito disso ao propor um novo slogan para o município: “Salto, celeiro de AIDS” em substituição a “Salto, celeiro de astros”, além de “A capital da AIDS do Brasil” e “Cidade Síndrome”.
Felizmente nenhuma dessas sugestões precisou ser acatada.