CAUSOS
O dono de bar que atendeu o freguês,
vendendo-lhe cachaça por metro
Um dos bares mais tradicionais de Salto, que durou até por volta da década de 1960, se situava na Rua 9 de Julho, num prédio vizinho à atual Casas Pernambucanas, e era conhecido como Bar do Olavo. O proprietário, Olavo de Arruda Mello, tinha um modo fidalgo de tratar os políticos de várias facções, empresários, professores, estudantes, enfim todos que iam até lá para tomar uma cerveja, refresco, sorvete ou comer um lanche. Aliás, quem pedia um refresco (Tubaína, guaraná ou Coca-Cola) tinha que se sujeitar à exigência do seu Olavo:
- Nada disso! Você vai tomar o refresquinho que EU faço!
E tirava da geladeira ou do frízer a garrafinha de refresco de uva, laranja ou outra fruta, enquanto aguardava a reação do freguês, que era praticamente obrigado a elogiar o refresquinho.
Um dos fregueses que seu Olavo não suportava era Aristides Beterelli, que sempre entrava no seu bar para perturbá-lo. Apesar de ser um humilde pedreiro, Beterelli tinha uma certa cultura e uma presença de espírito extraordinária, mesmo quando estava bêbado, o que era muito comum. Ele gostava de perturbar seu Olavo e ficaram famosos alguns casos ocorridos no bar, dentre eles dois que vamos relatar.
O primeiro aconteceu numa tarde, quando Beterelli entrou no Bar do Olavo, que de longe já lhe lançou um olhar de reprovação, pois sabia que ele estava aprontando mais uma. Por isso foi logo dizendo:
- Não vou lhe servir pinga, Beterelli, você já chega aqui bêbado – ao que Beterelli respondeu:
- E quem lhe disse que vou tomar pinga? Sirva-me um café, por favor.
- Com açúcar ou sem açúcar – perguntou Olavo.
- Quanto custa com açúcar?
- Quinhentos réis – respondeu Olavo.
- E sem açúcar?
- Também 500 réis.
- Então quero com açúcar – pediu Beterelli.
Olavo passou-lhe o açucareiro, Beterelli pegou a colherzinha, encheu-a por três vezes e em cada uma delas jogou o conteúdo na rua.
- Que é isso, Beterelli, ficou louco? Por que jogou o açúcar fora?
- É que vou tomar café sem açúcar, mas como o preço é o mesmo, eu não vou permitir que você fique rico às minhas custas...
Numa outra ocasião, Beterelli entrou no Bar do Olavo e o proprietário o recebeu com má vontade, à espera do que ele iria aprontar:
- O que quer desta vez, Beterelli?
- Um metro de pinga - respondeu ele.
- Ah, você quer um metro de pinga, não é? Então tome...
Pegou o litro, abriu-o e despejou a bebida no balcão:
- Pronto, aqui está o seu metro de pinga, pode tomar...
- Com aquela voz inconfundível e a presença de espírito característica, Beterelli não se perturbou:
- Não vou tomar a pinga agora. Faça o favor de embrulhar para eu tomar mais tarde...