POLÍTICA SALTENSE
Prefeito de Itu lutou pela água do Piraí
(o de Indaiatuba, que não “brigou”, conseguiu)
Desde 1968, quando o prefeito Joseano Costa Pinto construiu a barragem e a adutora do Piraí, Salto é abastecida por esse ribeirão. Dizia-se, na época que a vazão era de 1.000 litros por segundo e que nossa cidade aproveitava apenas 25% desse total. Dezoito anos depois, em virtude das dificuldades para o abastecimento de Itu, o prefeito Lázaro Piunti pretendeu também captar uma quantidade de água, mas encontrou resistência por parte do seu colega saltense, Pilzio Nunciatto Di Lelli. Este argumentava que no futuro o ribeirão poderia ter sua vazão reduzida e Salto poderia ser prejudicada.
Em fevereiro de 1986 um órgão estadual, o DAAE – Departamento de Águas e Energia Elétrica, fazia “jogo duplo”: respondia a um ofício do prefeito de Salto que não iria autorizar Itu a captar água do Piraí e ao prefeito ituano garantia que poderia dar a autorização se fossem apresentados os respectivos projetos.
Nos meses seguintes os posicionamentos dos dois chefes de Executivo continuaram os mesmos: Pilzio dizia que iria defender os “direitos adquiridos” de Salto e Piunti julgava que seu município tinha direito a utilizar a água do ribeirão. Em abril, Piunti “convocou” Pilzio para uma reunião em Itu, o que foi considerada pelo saltense uma atitude autoritária. “Não vou para Itu – dizia Pilzio. Se ele quiser conversar sobre o Piraí, que venha para Salto”. Enquanto isso, a Câmara da vizinha cidade não aprovara a construção de uma adutora no Piraí, mas Piunti pretendia enviar outro projeto. Por outro lado, em Salto, em 1985, tinha sido ampliada a rede de abastecimento em 8.827 metros lineares e realizadas outras 794 ligações de água.
Em julho de 1986, possivelmente influenciado pelo prefeito de Itu, o de Indaiatuba (José Carlos Tonin) também se interessou pelas águas do Piraí. Pilzio foi pressionado por ambos e teve que marcar uma reunião, em Salto, quando foi assinado um documento denominado “Protocolo da Fraternidade”, pelos 3 chefes do Executivo. Nele era destacado o fato de que a população nos 3 municípios era de cerca de 300 mil habitantes e que “o aproveitamento conjunto do rio (sic) Piraí poderia significar a conquista dos objetivos comuns, no tocante à efetiva melhoria dos abastecimentos das comunidades envolvidas”. Considerava ainda que o problema deveria ser tratado no contexto de uma visão regional.
O prefeito saltense reuniu-se com os vereadores para discutir a questão, ficando decidido que Salto apenas concordaria em dividir a água do Piraí com Itu e Indaiatuba se o Governo do Estado se comprometesse a construir uma barragem gigantesca, represando a água de toda a bacia do ribeirão.
Em 6 de agosto de 1986 os prefeitos das 3 cidades se reuniram no Clube dos Trabalhadores para estudar a possibilidade do Piraí abastecer os 3 municípios. Alguns vereadores saltenses compareceram e questionaram a capacidade do ribeirão, sendo que Pilzio criticou o DAAE, que garantiu que a vasão do rio (800 litros por segundo) era suficiente para atendê-las. Nessa reunião, o prefeito Piunti alegou que não existia possibilidade de captar água de outro local que não fosse do Piraí, enquanto o de Indaiatuba não se mostrou muito interessado, pois havia outras opções em seu município, mas não poderia abrir mão da água do ribeirão definitivamente.
Compareceram também à reunião dois especialistas: o engenheiro hidráulico Ismar Ferrari e o diretor do SAE de Itu, José Carlos Rodrigues. Ao final foi aceita a proposta do vereador saltense Alcides V. de Almeida, para a formação de uma comissão para estudar o assunto, a qual seria integrada por representantes da Câmara de Salto, Itu e Indaiatuba e por um representante técnico de cada Prefeitura, assessorados por um elemento do DAEE.
O clima de tranquilidade verificado até a realização da reunião se modificou nos dias seguintes, quando Piunti acusou Pilzio de ser “dono do rio”, enquanto o prefeito saltense respondia que apenas defendia o direito adquirido de sua cidade captar a água do Piraí. O vereador Jades Martins de Mello também entrou na discussão, dizendo que os prefeitos vizinhos estavam de olho em nossa água, lembrando que eles já tinham se apoderado das nossas terras no passado. Numa reunião realizada no início de outubro, diversos vereadores voltaram a criticar o prefeito de Itu, que na opinião deles queria prejudicar Salto.
No final de outubro a Câmara de Itu aprovou o projeto do prefeito Piunti, autorizando a construção de uma grande barragem no Piraí, em consórcio com Salto e Indaiatuba, hipótese que os saltenses consideravam difícil de acontecer, como realmente não aconteceu. Na época o DAAE fez uma oferta ao prefeito ituano que não foi aceita: o órgão se encarregaria de realizar obras em dois cursos d’água de Itu: Braiaiá e Taquaral, cabendo à Prefeitura apenas o pagamento do combustível das máquinas que realizariam o serviço.
No final de 1986 a disputa envolvendo os prefeitos de Salto e Itu praticamente se encerrou, pois o DAAE deu um parecer final, depois de receber um relatório do engenheiro hidráulico saltense Ismar Ferrari, definindo que Itu poderia utilizar apenas de 80 a 100 litros de água por segundo do Piraí, volume que não interessava à vizinha cidade.
Indaiatuba conseguiu – Dezoito anos depois, em outubro de 1994, a Prefeitura de Indaiatuba anunciava que também iria captar água do Piraí. Consultado, o DAAE informava que era contrário, mas se a Prefeitura de Salto autorizasse, nada poderia fazer. Em 26 de outubro de 1994, o prefeito saltense, Jesuíno Ruy, em declarações prestadas ao jornal Taperá, dizia que “Indaiatuba pode captar a água que sobra do Piraí”, entendendo que Salto não seria prejudicada, pois a captação seria feita abaixo da barragem.
A Prefeitura de Itu recorreu à Justiça contra a pretensão de Indaiatuba ser abastecida com a água do ribeirão e a Câmara de Salto também se posicionou pela inconveniência da medida, mas em 20 de dezembro de 1994 o Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí aprovou, por unanimidade, a outorga da água do Piraí para Indaiatuba, o que ocorre até hoje. O beneficiado tem sido o bairro Morada do Sol, que fica mais próximo desse curso d’água.
Há cerca de 15 anos voltou a se falar na construção de uma grande barragem, tendo até sido conseguida uma verba do Governo Federal de mais de 80 milhões de reais (conseguidos pela deputada federal Aline Correia) para a execução do projeto e outras medidas iniciais, mas as providências tiveram uma paralisação nos últimos tempos.