CAUSOS
Atingido por um tiro disparado na tela do cinema
Os cinemas antigos de Salto sempre tiveram “inquilinos” permanentes, que trocavam a estadia nos quartinhos imundos em que viviam por serviços. Pode-se citar dois que viveram mais tempo nesses locais: Roquinho, que vivia atrás da tela do Cine Verdi e que era um exímio letrista, responsável pelas inscrições nas “tabelas” dos cinemas expostas nas ruas do centro e em cartazes colocados na antessala do salão, onde os filmes eram divulgados. O outro era Bastião Raposa, Bastião porque se chamava Sebastião e Raposa porque exalava um permanentemente mau cheiro, com sua camisa que já fora branca um dia, gravata de cor indefinida e um terno ensebado, além de ser um inimigo declarado dos banhos.
Bastião vivia nos fundos do Cine Rui Barbosa, que depois se transformou em Cine São José, e seu maior trabalho era colocar as “tabelas” que anunciavam os filmes a serem exibidos, em pontos movimentados da cidade pela manhã e recolhê-las à tarde. Às vezes ficava na portaria por alguns minutos, enquanto o titular ia ao banheiro e a criançada aproveitava para entrar no cinema utilizando papel de bala ao invés do bilhete. Quase sempre alcoolizado, não notava a diferença.
Certa feita participou de uma cena que quem assistiu jamais esqueceu. Embora sem querer, foi personagem de um faroeste que era exibido numa noite no cinema. Ele entrara bêbado, como sempre, atravessou todo o salão em direção à portinhola próxima à tela, que dava acesso ao banheiro e aos seus “aposentos”. Havia uma escada e exatamente no momento em que pisava no último degrau, o “mocinho” do filme que estava sendo exibido saca de sua arma e atira em direção ao “bandido”. Nesse preciso momento, Bastião cai de costas, dando a nítida impressão aos espectadores que havia sido atingido pelo tiro dado em sua direção.
A gargalhada no cinema foi geral: para muitos foi o lançamento da exibição de filmes em terceira dimensão na cidade...