CAUSOS
Quentão em lugar do cafezinho: só poderia dar confusão
Numa noite fria de junho de 1980 a servente da Câmara, Tereza de Jesus dos Santos, que por muitos anos trabalhou no Legislativo local, sempre merecendo elogios pelo seu comportamento, decidiu inovar, achando que estava tomando uma atitude que iria agradar aos vereadores: ao invés do tradicional cafezinho, preparou um fumegante e alcoólico quentão. Antes mesmo do início dos trabalhos o quentão começou a ser servido e alguns vereadores exageraram na dose. A coisa ficou “quente” também no plenário, onde a rivalidade entre os vereadores do PDS e do PMDB era grande.
Tudo começou quando o vereador Ênio Padovani usava da palavra, respondendo críticas feitas por Nelson Mosca contra as caixas mortuárias construídas pela Prefeitura no Cemitério Municipal. Nelson dissera que os familiares dos falecidos não tinham onde colocar flores, velas e coroas, o que provocou o comentário de Ênio de que “quem deveria ser enterrado nessas caixas é o PDS, que já está morto há muito tempo, sem flores, sem velas e sem coroas”. Nelson respondeu que quem deveria ser enterrado era Ênio, que teria afirmado durante a sessão que “o pessoal do Jardim das Nações se vende por um copo de pinga”.
Ênio interpretou mal as palavras de Nelson, entendendo que ele o havia chamado de bêbado e respondeu que bêbada era a mãe do vereador. O clima esquentou, com outros vereadores, visivelmente sob os efeitos do quentão, entrando na discussão e fazendo acusações em altos brados. Um deles só não acertou um companheiro de vereança porque o fio do seu microfone era curto e estava preso embaixo da mesa. O presidente Fernando de Noronha chamou a Polícia, mas quando ela chegou os ânimos já estavam serenados.
O pior é que a sessão estava sendo transmitida ao vivo pela Rádio Convenção, cujos integrantes tiveram que ser muito hábeis para cortar os palavrões jogados no ar pelos vereadores.
Na sessão seguinte o cafezinho voltou a ser servido e nunca mais se cogitou substitui-lo.