POLÍTICA SALTENSE
- Valter Lenzi
- 20 de nov. de 2017
- 8 min de leitura
As disputas pela presidência da Câmara: acirradas, tumultuadas, surpreendentes
(Parte 1)

Em nossos quase 60 anos atuando na imprensa escrita, tivemos a oportunidade de acompanhar durante grande parte deles as sessões da Câmara de Salto. Nesse período conhecemos os mais diversos tipos de vereadores, muitos dos quais sempre sonharam em dirigir os trabalhos do Legislativo, pois a presidência desse poder pode ser considerada o segundo em importância da cidade, sendo apenas superado pela de prefeito.
Em virtude disso, as disputas para ocupar o cargo maior na Câmara dos Vereadores foram sempre bastante acirrados e em várias ocasiões as eleições foram tumultuadas e apresentaram surpresas, tendo em vista as negociações que ocorreram.
Frequentamos as dependências da Câmara de Salto desde a época em que ela era presidida por Vicente Scivittaro, o “Chinchino”, em 1958. Funcionava ainda no prédio da Prefeitura, na Rua Dr. Barros Jr., ao lado da agência dos Correios. Não acompanhamos sua eleição e nem as dos seus antecessores, que ocuparam o cargo a partir de 1948, quando tomaram posse os vereadores do período da redemocratização do país, ocorrida no ano anterior. Tivemos, então, que consultar o jornal O Liberal, do qual, aliás, fizemos parte em seus 6 últimos anos de existência, época em que, embora sem muita frequência (pois o responsável pela cobertura política era o Odilo Della Paschoa), comparecíamos às reuniões então realizadas no prédio da Prefeitura localizado na Rua Dr. Barros Jr.
A partir do surgimento do Taperá, porém, tomamos a incumbência de comparecer a todas as sessões, que a partir de maio de 1961 passaram a acontecer no prédio do Sindicato dos Mestres e Contramestres (em frente ao Fórum) e em 1970 para o prédio atual. Isso aconteceu até por volta de 1996, quando designamos um repórter do jornal para acompanhar os trabalhos legislativos.
A partir de 1948 – O primeiro presidente da Câmara, a partir de 1948, no período da redemocratização do país, foi Pedro Garavello. Infelizmente, nessa época não circulavam jornais na cidade, pois tanto O Trabalhador como O Liberal surgiram em junho e setembro de 1949. Supõe-se que Pedro foi eleito porque fazia parte da facção do então prefeito João Baptista Ferrari (Tita), de quem era grande amigo e colaborador, que tinha eleito o maior número de vereadores no pleito do ano anterior.
Em 1949 foi sucedido pelo vereador Luiz Bicudo Jr., também da facção de Tita Ferrari, e como a posse deve ter ocorrido no início desse ano, não se tem registro de como sua eleição aconteceu, pois os dois jornais ainda não tinham surgido.
O Trabalhador e O Liberal eram falhos na divulgação das notícias e por isso em nenhum dos dois foram publicadas notícias sobre as eleições para a Câmara para os mandatos de 1950 e 1951 (Pedro Garavello) e de 1952 (Adelino Garcia). O que se pode deduzir é que Pedro, pelo fato de ser elemento de confiança de Tita Ferrari e pelas suas qualidades de oratória, era o elemento da facção indicado para presidir o Legislativo.
“Mandando” na política - Quanto a Adelino Garcia, ele fazia parte da facção de Vicente Scivittaro (“Chinchino”) e isso contribuiu para que fosse eleito presidente, pois os chinchinistas passaram a ter maioria no Legislativo. Em 6 de janeiro de 1952, O Liberal comentava a sessão de posse do prefeito, vice e vereadores, não se referindo à eleição, mas registrando que a sessão foi tumultuada, com “o povo” (citando os assistentes) interferiu nos debates, ovacionando os oradores, “tendo o presidente Adelino Garcia por duas vezes procurado restabelecer o silêncio”.
3 anos de mandato - Um outro chinchinista, Joseano Costa Pinto, foi presidente de 1953 a 1955, pois nessa eleição o mandato passou a ser de 3 anos. Sem notícias na imprensa, o que provavelmente aconteceu é que a disputa (se é que houve) foi apenas entre as duas facções existentes, vencendo a que contava com maior número de vereadores.
Ameaças e ofensas - Depois de deixar a Prefeitura, como não havia reeleição, Vicente Scivittaro contou com os votos dos vereadores de sua ala política e por isso esteve à frente da Câmara de 1956 a 1959. O jornal O Liberal faz referência à eleição de “Chinchino” em 8 de janeiro de 1956, mas não especifica quantos votos ele teve, se houve disputa, etc. Apenas registra que houve ameaças e ofensas pessoais dele e de outros vereadores de sua facção contra os adversários políticos.
Sem detalhes - Como “mandava” na política saltense, a facção de “Chinchino” voltou a eleger um de seus vereadores, José Batista de Aguiar, que presidiu de 1960 a 1963. O jornal O Liberal registra que ele foi eleito juntamente com outros 3 companheiros de partido: Henrique Milhassi (vice-presidente), Joseano Costa Pinto (secretário) e Valentim José Moschini (2º secretário), sem apresentar maiores detalhes. A eleição ocorreu no dia 1º de janeiro de 1960, quando da posse do prefeito, vice e dos vereadores.
Eleição tumultuada – Henrique Milhassi, que o sucedeu, teve uma eleição tumultuada para o primeiro ano (1961, quando o mandato passou a ser apenas de 12 meses), a qual se realizou às 14 horas de um dia útil, surpreendendo os que esperavam que ela acontecesse no período noturno. A oposição a “Chinchino” apoiava Milhassi e contribuiu para sua eleição, colocando dois dos seus vereadores (Mário Effori e João B. Milioni como integrantes da Mesa). Na votação, houve muita discussão, envolvendo principalmente o ex-presidente Aguiar, Mário Dotta, Humberto Speroni e o próprio Milhassi, que foi chamado de “traidor” de sua facção política por Aguiar (na semana seguinte ele deu entrevista a O Liberal dizendo que traidor era Aguiar, “que não soube honrar os votos dos seus eleitores”). Milhassi foi reeleito para o ano de 1962 e desta feita sua votação foi unânime, pois havia interesse das duas facções em contar com seu voto. Apesar de parecer uma pessoa ingênua, era esperto politicamente, pois, como elemento decisivo (a Câmara tinha 11 vereadores), ele definia as votações, pois às vezes era o 6º homem da situação, em outras o 6º da oposição.
Destaque como presidente - Mário Dotta, que substituiu Milhassi em 1964, era admirado tanto pela situação como pela oposição (menos por seu adversário tradicional, “Chinchino”), pois apesar dos seus embates com esta última, demonstrava capacidade e não procurava prejudicar seus oponentes, dando a eles a oportunidade de se manifestar e votar livremente. Reelegeu-se 3 vezes seguidas (1964-65, 1966-67 e 1968-69) e em praticamente nas três teve até votos de vereadores da oposição.
Apoio de adversários - Corinto Antonio da Silva se elegeu presidente em 1970, inicialmente, porque contou com 6 votos dos vereadores da Arena, mais o seu, surpreendendo seu partido, o PMDB. Conseguiu se eleger mais duas vezes (1975 e 1976 - havia eleição anual), pelo apoio recebido dos seus companheiros de partido.
Volta do biênio – A partir de 1971 o mandato da Mesa da Câmara voltou a ser para dois anos. Depois de se destacar como secretário da Câmara, Mário Vicente obteve a presidência em 1971. Nesse ano, quando a Arena tinha maioria (7 vereadores em 11), teve que vencer dois companheiros de partido – Joseano Costa Pinto, que só recebeu 2 votos e Rubens Murilo Ceconello que teve apenas o seu. Era o tipo do político correto que não aceitava ações ilegais, como era comum na época.
Outro recordista – Assim como Mário Dota, Alcides Victorino de Almeida ocupou a presidência por seis anos: 1973/74, 1979/80 e 1987/88. Em sua primeira eleição, enfrentou uma chapa que tinha Annibal Negri como candidato a presidente. No entanto, como o MDB contava com maioria (6 vereadores), venceu por 6 a 5. Ele voltou ao cargo em 1979, recebendo 8 votos (apenas o emedebista Nelson Mosca não votou nele, mas em si próprio), vencendo o candidato arenista Ignácio de Moraes, que obteve 4 votos (a Câmara contava na época com 13 vereadores).
O mais jovem - O MDB continuou “mandando” na Câmara em 1977/78 (mandato de dois anos), na pessoa de Eduardo Scivittaro, filho de “Chinchino”. Ele era o mais jovem vereador saltense e demonstrou ter muitas das virtudes do seu pai. Recebeu 9 votos de sua bancada, contra 4 dados ao arenista Fernando de Noronha.
Perigou na véspera - Fernando de Noronha o substituiu (1981/82), obtendo uma das votações mais expressivas: 12 dos 13 votos de vereadores (apenas Rosi Mari Ferrari não votou nele). Sua eleição, porém, perigou na véspera, quando houve uma tentativa dos peemedebistas (nas pessoas do prefeito Jesuíno Ruy e vereador Alcides V. de Almeida) em eleger o vereador Antônio O. Ferrari, mas este não aceitou receber os votos dos peemedebistas mais o seu.
2 eleições - Em 1983 o eleito foi Adelino Matiuzzi, mas, curiosamente, foram realizadas duas eleições para confirmá-lo no cargo. A primeira ocorreu no dia da posse dos vereadores, 1º de fevereiro, na qual Adelino contou com os 9 votos do PMDB (Sublegenda 1), que tinha maioria na Câmara, e se elegeu. Oito dias depois teve que ser realizada uma nova eleição, pois a Lei Orgânica dos Municípios tinha sido modificada, exigindo que a votação para a Mesa do Legislativo fosse secreta. O nome de Adelino foi confirmado e ele presidiu a Câmara durante 2 anos.
Venceu o 3º - Dois integrantes da bancada do então prefeito Pilzio Nunciatto Di Lelli, José Carlos Rodrigues da Rocha e José Luiz Diogo, apareciam como potenciais candidatos a presidente da Câmara em 1983. A bancada encontrava dificuldades para se definir por um ou por outro e por isso aconteceu mais uma surpresa, com o surgimento de um 3º nome, o de Ananias Lúcio Barros, que acabou tendo 8 votos, Diogo 4, João Peres 1 e 2 votos em branco.
Apoio da oposição – Alcides Victorino dc Almeida, eleito em 1987, conseguiu a vitória graças aos votos de dois oposicionistas ao então prefeito Pilzio: Nelson Mosca e Antonio Lázaro Vendramini. Antes da eleição, além de Alcides, Lauro Martoni surgia também como candidato, mas o primeiro acabou conseguindo vencer por 7 votos a 5, com 1 voto em branco e os outros dois (no total de 15) dados a José Carlos R. da Rocha e Sérgio Zanni, que votaram em si próprios.
PT na presidência – Pela primeira e única vez, o Partido dos Trabalhadores elegeu um presidente, o que aconteceu em 1989: José Roberto Merlin. Havia um outro candidato, além de Merlin: Antônio Lázaro Vendramini, que tinha o apoio dos partidos da facção do prefeito eleito, Eugênio Coltro: PDT, PTB e PFL. Além do PT, Merlin contava com os votos do PSB e de 4 vereadores do PMDB-PL. Por apenas 1 voto de diferença (9 a 8) o petista venceu.
Não era favorito – José Carlos Rodrigues da Rocha não era o favorito na eleição para a presidência da Câmara, mas venceu, ocupando o cargo em 1991 e 1992. Quem estava cotado para ser eleito era Antônio Lázaro Vendramini (mais uma vez), porém problemas de doença em sua família impediram que ele prosseguisse na campanha, sendo substituído por José Carlos, que teve 14 dos 17 votos.
Vitória da oposição – A oposição ao prefeito Jesuíno Ruy conseguiu vencer a disputa pela presidência da Câmara em 1993, na pessoa de José Carlos Câmara. Ele obteve 9 votos contra 5 do candidato situacionista, Djalma Moreira Nery. A disputa foi acirrada e, como continuava secreta, ninguém sabia o que poderia acontecer. Câmara contava teoricamente com os 6 vereadores da facção de João Conti, derrotada na eleição para prefeito, mas conseguiu os 2 votos de vereadores do PDS e mais um que teria sido do vereador Valderez Antônio da Silva.
2 mandatos – Em 1995 a Lei Orgânica do Município proibia a reeleição para a presidência, mas Djalma Moreira Nery conseguiu se reeleger porque em 1997 se reiniciou um novo mandato legislativo e então era possível que o anterior presidente continuasse ocupando a presidência. Em sua primeira eleição, para o mandato 1995/96, ele tinha como adversária a vereadora Marilena Matiuzzi. A previsão era de 9 a 8 a favor de Djalma, mas um dos vereadores da bancada de Marilena (João Leite Ramalho) preferiu votar em branco e o placar foi de 9 a 7. Isso levou a Comissão Executiva do PPR a “convidar” 4 dos seus vereadores que teriam votado em Djalma (a votação continuava secreta) a deixar o partido. A segunda eleição de Djalma foi mais tranquila, pois ele conseguiu 10 votos, contra 9 dados a Ângelo Domingos Nucci e 1 a João Lucas de Araújo, que votou em si próprio.
(Continua na próxima semana)