POLÍTICA SALTENSE
Duas perdas lamentáveis em 2009:
Estádio Municipal e Faculdade Sant’Anna
Nos últimos meses de 2007 uma notícia das mais importantes, envolvendo o esporte saltense era divulgada pela imprensa local: a Show de Bola Clube Empresa, de propriedade de algumas pessoas, dentre elas diretores da Auto Ônibus Nardelli, estava disposta a assumir o Estádio Municipal, através de cessão por 20 anos, com o objetivo de formar uma equipe para disputar a 2ª divisão do Estado, responsabilizando-se pela manutenção do gramado, pista de atletismo e academia de ginástica, além de investir na construção das arquibancadas e realizar outras obras necessárias. Em contrapartida, solicitava autorização para explorar os espaços internos e externos, para a veiculação de publicidade, bem como a cessão do bar e lanchonete, isenção de tarifas municipais e um espaço para uma loja com vendas de produtos promocionais de um futuro clube que iria ingressar no profissionalismo.
Foi uma proposta que “caiu do céu”, pois não havia interessados em cuidar melhor do Estádio Municipal e a Prefeitura não tinha os recursos financeiros necessários mantê-lo. Depois de algumas negociações, o prefeito da época, Geraldo Garcia, encaminhou um projeto à Câmara concedendo o Estádio, pedindo que a votação fosse feita em regime de urgência. Os vereadores solicitaram que
fossem realizadas algumas alterações no projeto: cessão por 15 anos e não por 20; que a isenção das tarifas de água e esgoto fossem feitas apenas nos 5 primeiros anos; que fossem construídas arquibancadas para 5.000 pessoas até o final de 2009 e para 10.000 pessoas até 2014. O projeto foi retirado e reapresentado dias depois, com as alterações solicitadas pelos vereadores, sendo aprovado por unanimidade de votos.
Em sua coluna no Taperá o jornalista Valdir Líbero dizia que “poucas vezes se viu em Salto uma vontade política tão grande para se resolver a questão do Estádio Municipal Amadeu Mosca, como a percebida no trânsito do projeto que autorizava a cessão”. Acrescentava que caso fosse oficializada essa cessão, “o Poder Público se livrará de vez do ‘fantasma do supérfluo’, ou seja, das críticas que invariavelmente surgem a cada centavo investido no Estádio Municipal”.
Antes da votação do projeto, que foi aprovado em 11 de janeiro de 2008, ou seja, cerca de 3 meses depois dos primeiros contatos sobre a cessão do Estádio Municipal, surgiu o interesse também da Faculdade Sant’Anna em assumir o Estádio, que apenas revelou sua pretensão através do jornal Estância, cujo diretor, Edemilson dos Santos, sempre se posicionou contra a Nardelli, não tendo a Faculdade apresentado nenhum projeto, como fez a Show de Bola. Esse diretor entrou com uma ação na Justiça de São Paulo, alegando que deveria ter sido feita uma licitação para se escolher quem deveria assumir o Estádio, e conseguiu, em outubro de 2008, na Procuradoria Geral do Estado a anulação da cessão. Em virtude dessa decisão, a Prefeitura teve que reassumir o controle do Estádio.
A Show de Bola, resolveu não recorrer, preferindo desistir, apesar de ter gasto cerca de 600 mil reais, segundo um dos seus diretores, pois realizou diversas obras nos vestiários, na academia, remodelado a cozinha, trocado os bancos e as coberturas dos reservas, reformado o sistema de captação de água e a parte elétrica, colocado alambrado no estacionamento, implantado um refeitório junto à cozinha, etc.
A Prefeitura, por sua vez, não manteve negociações com a Faculdade Sant’Anna e por isso o assunto foi encerrado de vez. Salto perdia a grande chance de ter seu Estádio concluído e de contar com uma equipe que a representasse na 2ª divisão de profissionais. Tudo porque houve pressão da Faculdade Sant’Anna e um diretor de um jornal local pretendeu que a lei fosse cumprida, porque envolvia a Nardelli (outras cessões existentes na cidade não foram objeto da ação desse diretor), ocorrendo um efeito indesejável que prejudicou consideravelmente os interesses da cidade.
Efeito colateral: cidade perdeu também uma faculdade
Quando da decisão da Procuradoria Geral do Estado, foi aventada a possibilidade de outras cessões feitas na cidade virem a ser anuladas. É que a Prefeitura, em sua defesa, no processo do Estádio, citou o caso da Faculdade Sant’Anna como cessão que tinha sido feita sem a necessidade de licitação. O objetivo, evidentemente, foi o de se “vingar” da campanha feita por esse estabelecimento de ensino superior, aliado ao diretor do jornal Estância, tentando impedir a cessão à Show de Bola. A citação na defesa apresentada pela Prefeitura no processo, de que também no caso da Sant’Anna a lei não foi obedecida, levou a Justiça a determinar que também essa cessão fosse cancelada. Com isso, Salto perdeu também, além das melhorias no Estádio Municipal, um curso superior que havia se instalado no município em 1999, tendo a Sant’Anna feito um grande investimento, gastando, segundo comentários da época, mais de 1 milhão de reais, valor que tentou recuperar, sem sucesso.
Ressalte-se que tanto no caso da Faculdade Sant’Anna, no governo de João Guido Conti, quando houve a cessão no final da década de 1990, como no do Estádio Municipal, em 2009, governo de Geraldo Garcia, não se procurou burlar a lei. Houve apenas a interpretação de que, em se tratando de “notórias especialidades” (que é uma alegação legal) em ambos os casos (a Sant’Anna com as 2 faculdades com que contava na capital e a Show de Bola que atuava na área esportiva, revelando muitos valores para equipes estaduais e nacionais), as cessões poderiam ser feitas sem problemas, mesmo porque elas seriam benéficas para o município e para sua coletividade. A Justiça, porém, não interpretou assim.
Não tivesse o diretor do jornal Estância, Edemilson dos Santos e a Faculdade Sant’Anna, procurado impedir a cessão do Estádio para a Show de Bola, não teríamos perdido como consequência indesejável, um curso superior e contaríamos hoje com uma praça esportiva e possivelmente com uma equipe no profissionalismo.