CAUSOS
Voto de pesar pelo falecimento do cachorrinho
Como tem seu trabalho limitado, o vereador faz de tudo para aparecer perante o eleitor. Em meados da década de 1980 havia uma disputa entre os integrantes do Legislativo saltense para a apresentação de votos de pesar às famílias que tinha um dos seus membros falecido. Como às vezes dois ou três vereadores ligavam para a Câmara solicitando que fosse apresentado um voto de pesar, a secretaria decidiu que aquele que ligasse primeiro teria preferência na apresentação.
Havia um vereador que mantinha contato com as funerárias existentes na época, solicitando que lhe ligassem quando tivessem conhecimento do falecimento de alguém na cidade. Ao receber a informação ele ligava imediatamente para a secretaria da Câmara e, se não fosse horário de experiente, a ligação era feita para a casa do funcionário. Outro trabalhava próximo a uma gráfica que distribuía pela cidade os avisos de falecimento, uma prática que era comum naquele tempo, e assim que o seu estabelecimento recebia um desses avisos, ele imediatamente ligava para a Câmara.
Aquilo estava se tornando ridículo e um dia resolvemos pregar uma peça num dos vereadores mais interessados em apresentar os votos de pesar. Ao irmos até a cozinha tomar um café vimos a funcionária Jane do Amaral Martoni chorando copiosamente, perguntamos-lhe o motivo e ela respondeu que era porque seu cachorrinho Tilico havia morrido. Surgiu, então, a ideia de “aprontar” com o vereador, especializado em apresentar votos de pesar e imediatamente redigimos um requerimento lamentando o falecimento do Tilico e solicitando que o funcionário da Secretaria da Câmara o levasse até o vereador, que não pestanejou:
- Voto de pesar? Deixa comigo.
Assinou-o e nem se deu ao trabalho de saber quem era o “ilustre falecido”. O requerimento apresentava um voto de profundo pesar pelo Tilico do Amaral Martoni, dizendo que “o extinto era muito amado pelas pessoas com quem convivia e fazia festa, balançando o rabinho, sempre que lhe entregavam um osso ou o levavam para passear”, terminando por informar que ele falecera por ter bebido a água do Rio Jundiaí, que era muito poluída.
Não só o vereador fanático por votos de pesar assinou, mas também outros 4 vereadores, aqueles que assinavam sem ler, mas tivemos o cuidado de não incluir o requerimento no expediente. Serviu, porém, para muitas risadas, inclusive dos próprios envolvidos.