FATOS MARCANTES
População saltense sofreu com a
falta de carne durante quase um ano
1986 foi um ano sofrido para a população saltense, no que se refere a sua alimentação. Um dos principais produtos que não pode faltar em algumas refeições da semana, a carne, se tornou de repente algo difícil de se encontrar nos açougues da cidade, em virtude da implantação do Plano Cruzado, por parte do Governo Federal, em fevereiro daquele ano. Isso até levou a administração pública municipal a importá-la de outros países, como Uruguai e Paraguai.
O problema que começou logo depois da implantação do plano, se agravou em julho de 1986, quando a carne passou a faltar na cidade, gerando até tumulto, como destacou o jornal Taperá, em manchete, em sua edição do dia 12 daquele mês. Esse tumulto aconteceu no açougue localizado na esquina da Avenida D. Pedro II com a Rua Tiradentes, que hoje não mais existe. Uma pequena quantidade de carne de vaca havia chegado e, ao notar esse fato raro, uma multidão invadiu o estabelecimento, causando prejuízos ao proprietário, pois uma das portas foi danificada.
Em outros açougues a falta da carne também ocorria, como na Casa de Carnes Tuca, localizada na Rua 24 de Outubro, próximo à Praça XV. Uma fila enorme de pessoas se formou para comprar a pouca quantidade que havia chegado, causando protestos aos que não foram atendidos. No Açougue Sorocaba, localizado na Praça XV, que era um dos únicos que conseguia atender os fregueses, com uma quantidade e variedade maior, o gerente Duvidio garantia que dentro de 2 ou 3 dias chegaria grande quantidade de carne adquirida de um frigorífico que só atendia os açougues da rede.
Para suprir a falta da carne bovina, os açougues ofereciam carne de porco, frango e até peixe, mas em virtude da procura, também esses produtos começaram a faltar. O problema atingia também os empregados dos açougues, alguns dos quais foram dispensados, pois passavam grande parte do dia sem ter o que fazer, em virtude da falta de todos os tipos de carne.
Açougues fecham
No final de agosto de 1996 os açougueiros estiveram reunidos com o prefeito Pilzio N. Di Lelli, quando solicitaram que fosse feita uma solicitação à Cobal, órgão do Governo Federal. No mesmo dia Pilzio fez o pedido, mas a demora no atendimento levou os proprietários dos açougues a fechar seus estabelecimentos a partir do dia 17 de setembro, pois não adiantava funcionar se não tinham mercadorias pra vender. Apenas o Açougue Sorocaba, que recebia carne regularmente, preferiu continuar aberto, mas o prefeito recebeu denúncias que esse açougue estava abusando na fixação dos preços. O Supermercado Supertuba também anunciava que teria carne para oferecer aos seus clientes, mas tanto no açougue como no supermercado não era todo dia que se encontrava o produto, mas quando havia, formavam-se filas enormes.
No início de outubro alguns açougues reabriram, mas vendendo carne com ágio: 50 cruzeiros o quilo, ao invés dos 30 cruzeiros tabelados. A fiscalização da Prefeitura passou a agir, mas os açougueiros justificavam dizendo que pagavam o produto muito mais caro, acima da tabela.
Carne importada
A saída era fazer a importação de carne dos países produtores. O prefeito Pilzio pretendeu adquirir de 150 a 200 toneladas da Argentina, através do Fundo de Abastecimento Municipal, mas foi a carne paraguaia que poderia chegar primeiro, mas isso demorou algumas semanas, a ponto do jornal Taperá perguntar na primeira página, numa de suas edições: “Carne paraguaia chega ou não chega?”. Numa das semanas os açougueiros anunciaram que não iriam vendê-la, pois o preço pago pela Prefeitura e repassado a eles não iria lhes proporcionar um bom lucro.
A carne paraguaia só chegou no dia 20 de janeiro de 1987 em Salto. Foram 15 toneladas, distribuídas em apenas 2 dias em 4 açougues saltenses, que aceitaram comercializá-la. Mas não foi fácil sua chegada a Salto, pois ficaram estocadas desde o início do mês num frigorífico de Mairinque. Primeiro foram outras cidades que se julgavam no direito de receberem a carne também, depois foi a fiscalização do Ministério da Agricultura, que só permitiu que ela fosse transportada apenas em caminhões-frigoríficos.
A partir do final de janeiro o abastecimento do produto nos açougues locais passou a se normalizar, o que levou a Prefeitura a desistir de fazer novas importações, principalmente pelas dificuldades impostas pelo Governo Federal.