FATOS MARCANTES
Em dois períodos de sua existência
Salto não desejou atrair novas indústrias
Atrair novas empresas para se instalar no município, principalmente indústrias, sempre foi o desejo de todos os governantes que ocuparam o Executivo saltense. Em praticamente todos os programas eleitorais dos candidatos constava esse tipo de ação, mas, curiosamente, em dois períodos distintos da vida do município, a Prefeitura se negou a atender solicitações feitas por empresários que pretendiam trazer suas propriedades industriais para nossa cidade. Essas atitudes foram surpreendentes, pois sempre se soube que novas indústrias significaria a criação de novos empregos, além de proporcionar maior arrecadação de tributos, principalmente o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS.
A primeira negativa ocorreu no final de 1978 e início de 1979. Em 1978 o Governo do Estado tinha lançado o Programa “Interiorização para o Desenvolvimento”, que pregava a necessidade das indústrias se mudarem para o interior, não porque a capital não suportava o número de indústrias com que contava, mas porque havia necessidade de se proporcionar maior progresso a várias regiões do Estado de São Paulo.
Naquele tempo, duas indústrias estavam interessadas em se instalar no município: a Peterco, que fabricava materiais destinados à iluminação pública e a EFI, que produzia equipamentos fotomecânicos destinados à indústria gráfica. Diretores de ambas as empresas mantiveram contatos com o prefeito Jesuíno Ruy e solicitaram a doação de áreas para a instalação de suas unidades industriais. A Peterco solicitou 5 alqueires, enquanto a EFI pediu 2 alqueires e a ambas o chefe do Executivo respondeu que não seria possível atender, pois ele tomara a deliberação de não mais doar terrenos a indústrias, por entender que o município estava muito bem servido no setor.
Surto industrial – Quando Josias Costa Pinto assumiu a Prefeitura de Salto (1973), o município teve um grande surto industrial, pois vieram para Salto empresas como a Toyobo (que a princípio pretendia instalar 7 indústrias, mas acabou ficando nas duas primeiras – Inpasa e Inplas), Novik, Nord, Giannini, Nagel, Merlin Gerin e outras. Para isso teve que adquirir áreas em três locais: Chácara Vendramini e outras que foram ocupadas pelos loteamentos Jardim Celani e Jardim Elizabeth, nas proximidades da Abadia de São Norberto e no bairro Marechal Rondon.
Com isso, a Prefeitura enfrentou gastos consideráveis, pois teve que levar a esses locais redes de água e esgoto, pavimentação, etc. Algumas das indústrias citadas encerraram suas atividades ou transferiram suas instalações, mas no geral a vinda de empresas de médio porte foi bastante benéfica para a cidade.
No governo Pilzio – No primeiro governo de Pilzio N. Di Lelli (1983/1988) foi também tomada a decisão extrema de não mais aceitar determinado tipo de indústrias. Inicialmente, no início de 1987, ele chegou à conclusão que Salto não tinha infraestrutura para receber unidades industriais, como alegou quando a Monark, que fabricava bicicletas, solicitou uma grande área: 30 alqueires. Ela alegava que iria proporcionar 3.600 novos empregos, mas fazia outras exigências: que a área se localizasse próxima à rodovia, isenção de impostos, etc. O chefe do Executivo, porém, entendia que atender a Monark e instalar um Distrito Industrial para atrair empresas de menor porte, era inviável, pois teria que providenciar acesso pavimentado, rede elétrica, telefônica, rede de água e esgoto, dentre outras coisas.
Mão de obra - Recordo-me que numa das entrevistas coletivas que o prefeito Pilzio concedia às quartas-feiras para a imprensa local, ele afirmou que só aceitaria receber indústrias de pequeno, médio ou grande porte que não necessitariam oferecer emprego para um grande número de pessoas, mas funcionar com poucos funcionários, utilizando mão de obra especializada. Ele argumentava que com a vinda de muitas indústrias que utilizavam mão de obra não especializada, o município recebeu um grande número de famílias que necessitavam de moradia, mas Salto estava deficitário nesse setor, o que criava grandes problemas. Outra condição era que as empresas deveriam ter poucos funcionários, mas grande faturamento, para contribuir para o aumento das receitas municipais com tributos.
A que preço? - Num editorial publicado em outubro de 1988, Taperá perguntava: “Indústrias sim, mas a que preço?” Comentava que o processo de industrialização como um todo, transformou o município numa verdadeira “ilha”, cercado por indústrias de todos os lados. Elas se instalavam inclusive em áreas residenciais, assim como as residências ocupavam terrenos destinados às indústrias, revelando a falta de planejamento dos diversos distritos industriais e a inexistência de uma previsão adequada sobre a capacidade e a possibilidade de expansão da infraestrutura urbana.
Fluxo migratório - A expansão industrial iniciada na década de 1970 provocou o fluxo migratório que ocorreu posteriormente em outra etapa. Com o aumento do mercado de trabalho, tivemos inicialmente a vinda de muitos migrantes nordestinos, que vieram trabalhar nas obras de construção de algumas indústrias e na ampliação de outras, destacando-se, neste último caso, a da Eucatex, que inclusive criou uma unidade habitacional inicialmente precária e depois dependências mais adequadas à moradia dos seus funcionários e familiares. Depois desse período, tivemos a vinda de um número
considerável de pessoas vindas de pequenas cidades paranaenses, que foram atraídas não só pelo maior oferecimento de oportunidades de emprego, mas também pela construção de um número considerável de casas populares na cidade. Esses paranaenses, assim como os nordestinos, tiveram a oportunidade de melhorar suas condições de vida, assim como de seus familiares, depois de viverem algum tempo em favelas e cortiços, que existiam em grande quantidade e que foram praticamente extintas no governo Eugênio Coltro (1988/1992). Mas também contribuíram para o desenvolvimento da cidade, trabalhando em vários setores.