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FATOS MARCANTES

Muita polêmica envolveu a construção e o

funcionamento de 2 hospitais públicos


Até o dia 4 de setembro de 1955 Salto não contava com um Hospital e Maternidade Municipal. Nesse dia aconteceu a inauguração festiva, que contou com a presença de um grande número de pessoas. Tanto esse hospital como o que foi inaugurado em 28 de junho de 1987, se envolveram em polêmicas, pois os responsáveis pelas administrações que os implantaram procuraram também tirar proveito político, enquanto a oposição de cada época apontou problemas e irregularidades nas obras realizadas, visando também desmerecer politicamente o que foi feito.


O primeiro Hospital

O prédio do primeiro Hospital e Maternidade, inaugurado em 4 de setembro de 1955

Quando Salto não contava com um Hospital e Maternidade, tinha que se valer da Santa Casa de Itu e do Hospital Oliveira Camargo, de Indaiatuba. Isso acontecia com os pacientes portadores de diversas enfermidades, que não podiam receber os devidos cuidados no Centro de Saúde local e nos consultórios médicos ou de enfermagem da cidade. Já com relação às gestantes, quando não eram atendidas pela parteira Anastácia Rigolin e por algumas parteiras práticas, no que se refere aos partos normais, davam à luz na Santa Casa de Itu. As dificuldades de locomoção para a vizinha cidade, numa época em que existia apenas a estrada velha, não pavimentada, unindo os dois municípios, faziam com que se reivindicasse com ênfase a construção de uma maternidade em Salto, ficando o hospital em segundo plano.

Visando a implantação dessa maternidade, foi criada uma Associação de Proteção e Assistência a Maternidade e Infância de Salto, que era comandada por Vicente Scivittaro, ocupante do cargo de prefeito no quatriênio 1952-1955. “Chinchino”, como era conhecido, conseguiu junto à União, ao Estado e à indústria Brasital S.A. algumas verbas importantes e, por isso, decidiu iniciar as obras do Hospital e Maternidade em março de 1953. A pedra fundamental foi lançada, num ato simples, em 12 de abril de 1953, num terreno da Rua José Revel, ao lado do Posto de Puericultura, que funcionava na esquina dessa rua com a Rua Prudente de Moraes e que tinha aos fundos o Parque Infantil.

Considerada uma obra prioritária, foram realizadas diversas campanhas na cidade para a construção da casa de saúde. Além disso, a Câmara aprovou vários créditos, tendo ainda autorizado a venda de vários imóveis de propriedade do município, como três lotes na Vila Teixeira, além de uma grande gleba de 35 mil metros quadrados no quarteirão localizado atrás do Asilo de Velhos, onde surgiu o Jardim Municipal, com 82 lotes, vendidos em tempo recorde.

A Prefeitura obteve ainda a doação, feita por indústrias, empresários e famílias de posses da cidade, de todo o mobiliário e aparelhamento, que permitiram a disponibilidade de 24 leitos. Cada um dos principais doadores teve seu nome colocado em placas na porta de cada uma das salas, ali permanecendo por muitos anos. As obras ficaram prontas em 1955, acontecendo a inauguração em 4 de setembro desse ano, dias antes da eleição de Hélio Steffen, candidato indicado por “Chinchino” a prefeito de Salto.

Apesar de não poder questionar a construção do Hospital e Maternidade, que levou o nome de Nossa Senhora do Monte Serrat, os opositores ao governo de Vicente Scivittaro faziam-lhe muitas críticas pela forma como administrava a casa de saúde, misturando a receita e a despesa de ambas. Num editorial publicado em fevereiro de 1957, no jornal O Liberal, que fazia oposição a “Chinchino”, o articulista critica a falta de prestação de contas do Hospital, dizendo que “ninguém sabe o mistério da Maternidade desde o lançamento de sua primeira pedra”, não se sabendo quais os casos atendidos gratuitamente e os pagos. “Quando se trata da coisa pública, quando o empenho é do dinheiro público, não se pode fazer segredo nem sigilo”, destaca o autor do comentário.

As críticas à forma como a Associação de Proteção à Maternidade e à Infância dirigia o Hospital prosseguiram nos anos seguintes, até que em março de 1967 houve a intervenção no nosocômio, que passou a ser dirigido pela Prefeitura, o que perdura até os dias atuais. O então prefeito, Joseano Costa Pinto, determinou a expropriação através de decreto, nomeando o dr. José Mascarenhas de Oliveira como interventor. A Associação tentou reverter a situação, mas não conseguiu.


O novo Hospital

Em 1987, quando o novo Hospital foi inaugurado, havia poucas casas ao seu redor

Em seu segundo governo (1977 a 1983), Jesuíno Ruy decidiu construir o prédio de um novo Hospital Municipal, iniciando as conversações no final de 1978 com os engenheiros Ennio Passafini e Nivaldo Panossian, que foram os autores do projeto e com o arquiteto Oscar Sakanoue, que ficou encarregado dos cálculos estruturais. A obra seria executada numa área do Jardim Elizabeth, doado pela família Celiani, por uma equipe da própria Prefeitura, comandada pelo Dinhão de Almeida. No início de 1979 (4 de fevereiro) foi feito o lançamento da pedra fundamental e como o acesso ao local era ainda muito difícil, a Prefeitura colocou ônibus especiais para levar os interessados em assistir o acontecimento.

A previsão é que o novo prédio custaria 25 milhões de cruzeiros, sem contar a mão de obra, que era da Prefeitura e que utilizava 100 homens. No entanto, um ano depois já se falava que o custo seria de 50 milhões, sendo necessário ainda construir uma avenida de acesso com 1,2 km de extensão. Uma comissão formada por médicos foi criada em maio de 1981 para fazer o levantamento do material médico-hospitalar necessário, a qual foi composta pelos médicos Flávio Francisco Vitalle, Haroldo Lais Ribeiro e Sérgio Célio Santos Rossignati.

Durante as obras várias críticas foram feitas na Câmara, por parte de vereadores oposicionistas, e também na imprensa local. A maior parte delas era sobre a localização do novo Hospital, considerada muito afastada da cidade e num ponto onde era implantado um loteamento, mas ainda com poucas residências. Um dos mais contundentes críticos do prefeito Jesuíno, que utilizava o pseudônimo Pilatos, em artigo publicado em abril de 1982, dizia que era louvável a construção de um novo hospital, mas não num local tão afastado e próximo de um Distrito Industrial, podendo conviver com barulho e poluição. Havia críticas também quanto à grandiosidade do hospital, mas o prefeito Jesuíno justificava, dizendo que ele poderia se transformar em regional no futuro.

Prefeito Pilzio (à esq., de boné) na cerimônia de inauguração do novo Hospital, em 28 de junho de 1987

O prefeito Jesuíno pretendia, mas a obra não ficou pronta até o final do seu governo, então ele promoveu uma visitação pública antes de deixar o cargo, em 1982. Coube a seu sucessor, Pilzio Nunciatto Di Lelli, a conclusão, mas antes mesmo da inauguração aconteceu uma reforma(!). Isso foi noticiado pela imprensa e os responsáveis técnicos pela construção, os engenheiros Nivaldo Panossian e Ennio Passafini, deram as devidas declarações explicando que se colocaram à disposição da Prefeitura para fazer o acompanhamento das obras, mas a oferta não foi aceita, por isso eles não poderiam responder pelos serviços executados sem a sua supervisão. Pilzio justificava que não fora feita uma reforma, mas providenciada a “conclusão de serviços inacabados”. Houve até a apresentação de uma proposta, pelo vereador João Rodrigues da Cruz para que fosse aberta uma Comissão Especial de Inquérito na Câmara, para apurar possíveis irregularidades na construção e reforma do Hospital, sendo programada uma visita da imprensa para conhecer as obras.


Em 1988 as dependências do novo Hospital recebiam grande número de pacientes

Transferência – Mesmo antes de ser inaugurado o Hospital Municipal começou a funcionar, com a alegação de que em virtude de sua grandiosidade a transferência dos vários setores teria que ser feito em etapas. No dia 14 de dezembro de 1985 o Departamento Fisioterápico foi instalado no prédio novo, tendo sido formada uma caravana, que saiu do centro da cidade em direção ao Jardim Celani. O atendimento aos pacientes dos convênios e particulares seria feito a partir do dia 16, uma segunda-feira e nos dias seguintes o movimento foi muito grande. A Prefeitura disponibilizava kombis para levar e trazer os pacientes, pois ainda não havia linha de ônibus que servisse o local. Como as obras não estavam concluídas, faltando também equipamentos, foi aprovado um empréstimo de 10 milhões de cruzados junto à Caixa Federal, a serem pagos em 10 anos, com 3 anos de carência.

A Prefeitura buscava alternativas para fazer o Hospital funcionar, mas como a situação estava difícil, foi cogitada várias vezes sua transformação em Santa Casa, para receber verbas federais e estaduais, mas isso não se concretizou. As transferências continuavam sendo realizadas aos poucos: em julho de 1986 foram para o prédio do Jardim Celani outras 3 unidades: secretaria, laboratórios e o Departamento de Cardiologia; em dezembro do mesmo ano foi a vez de 4 ambulatórios: pediatria, clínica médica, ginecologia e obstetrícia; a maternidade começou a funcionar no dia 8 de junho, quando nasceram 2 meninas e 5 meninos; também nesse dia os departamentos de neonatologia e puericultura foram para o novo prédio. Foi também conseguido um aparelho de raio X junto ao Ministério do Trabalho e em 17 de junho o Hospital funcionava com 80% de sua capacidade, mas faltavam equipamentos e funcionários, como o jornal Taperá publicou.

A imprensa foi visitar o novo Hospital em 17 de junho de 1987, sendo recebida pelo administrador Renato Vicente Romano. 11 dias depois (28 de junho) o Hospital era inaugurado, como parte das comemorações do 289º aniversário de fundação de Salto.


Fachada do atual prédio do Hospital e Maternidade Municipal Nossa Sra. do Monte Serrat

Crises – Após sua inauguração o Hospital passou por várias crises, envolvendo a classe médica e a administração. Antes mesmo da inauguração isso ocorreu, como em 1985, quando a Prefeitura contratou a EPAS (Escritório de Planejamento e Assessoria à Saúde) e teve de romper o contrato em virtude da pressão feita pelos médicos. Em agosto de 1987 sete médicos da cidade aproveitaram a visita do presidente da AMB – Associação Médica Brasileira para criticar os administradores do Hospital, Renato Romano (hospitalar) e Flávio Vitalle (clínico), alegando discriminação. Também houve críticas por parte da população, em virtude da falta de médicos nos feriados, as quais repercutiram na Câmara, onde também houve manifestações nesse sentido.

As crises e as críticas prosseguiram através dos anos, chegando aos dias atuais. Nesses 30 anos de funcionamento da principal casa de saúde saltense também aconteceram melhorias diversas, reformas, ampliações, etc., dentre elas a implantação do Setor de Especialidades, pelo Governo do Estado. Uma coisa é certa: nosso Hospital tem defeitos, mas nessas três décadas de existência atendeu milhares de pessoas, de Salto e de outras cidades, aliviando as dores, curando doenças, sendo berço de muitos bebês nascidos em sua maternidade, cumprindo, enfim, sua missão de proporcionar assistência médica a muitos que necessitaram de seus serviços.

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