QUEM FOI QUEM
Remígio Dalla Vecchia: tudo começou com ele
Ele foi um homem simples, daqueles que levam a bondade na face, amigo de todos, incapaz de se meter em encrencas, mas não era dos que se acomodava: procurava sempre novos desafios e quando estabilizou sua vida, tratou de ajudar os semelhantes, realizando diversas e importantes colaborações meritórias.
Seu nome não é muito comum: Remígio, que em italiano quer dizer “remador”, aquele que maneja o remo. Ele justificou plenamente essa definição, pois foi quem conduziu, de início, uma pequena canoa, que singrou águas revoltas, mas calmas também, e que um dia se transformou num gigantesco barco, levando consigo sua dedicada esposa Nair e seus filhos Natale, Giácomo, Cícero e Eda e quantos quiseram embarcar para prosseguir com a família Dalla Vecchia para a rota do sucesso.
A vida de Remígio (que na intimidade era chamado de “Tio Gino”) daria um filme: filho de Giácomo e Regina, ele nasceu em Itu, em fevereiro de 1914, mas aos 3 anos já vivia em Salto, onde cursou o Grupo Escolar Tancredo do Amaral. Morava na atual Rua Monsenhor Couto, mudando-se depois para o “Largo da Igreja”, onde seu pai tinha um armazém. Foi seminarista dos padres capuchinhos, em São Paulo; trabalhou num sítio que a família tinha no Buru; atuou como pedreiro nas obras de construção da nova matriz de Monte Serrat; entrou para a Light (atual CPFL) em 1936, trabalhando na antiga Usina das Lavras, na qual permaneceu até 1964, quando decidiu ingressar no comércio local com seu cunhado Zalfieri Zani. Logo a sociedade se dissolveu e surgiu a R (de Remígio) Dalla Vecchia S.A., que começou vendendo bicicletas (que Remígio ia comprar em S. Paulo), além de alugá-las e consertá-las, contando com a colaboração dos seus filhos Natale e Giácomo.
Graças ao comando de Remígio, que contou com o tirocínio dos seus filhos para levar adiante a empreitada, a pequena loja foi crescendo, passando a vender rádios, liquidificadores e outros aparelhos e em seguida geladeiras, fogões, máquinas de lavar, etc. O crescimento foi vertiginoso: a lojinha que situava na esquina da rua José Galvão com a então Praça 16 de Junho (atual Archimedes Lammoglia) se transformou numa loja bem maior, construída na esquina das ruas 9 de Julho e Monsenhor Couto, com um grande depósito no início da Rua Dr. Barros Jr. Anos depois foi necessário construir uma outra ainda mais ampla, no terreno da então Cooperativa Operária Saltense Ltda., que encerrou suas atividades, surgindo ali a primeira das mais de 250 lojas que o grupo possui hoje no estado de São Paulo e em estados vizinhos.
Os filhos praticamente assumiram as rédeas da empresa que passou de R. Dalla Vecchia S.A. para Lojas Cem, hoje um nome respeitado e admirado em todo o país, como provam os inúmeros prêmios recebidos pela sua eficiência, fruto de uma gestão altamente positiva.
Remígio foi sempre ligado à religião católica, tendo pertencido ao Círculo Católico São Francisco de Assis durante 37 anos (de 1930 a 1967), ocupando cargos na diretoria e no conselho dessa entidade. Foi confrade vicentino durante muitos anos, sócio e conselheiro do Clube Ideal, dentre outras coisas.
Demonstrou sua faceta caritativa quando ocupou a presidência da Comissão Construtora da Capela do Divino, no Parque Bela Vista, doando um terreno ao lado para as irmãs da Congregação Franciscana da Mãe Dolorosa, construindo nesse terreno a residência para essas irmãs, com 4 dormitórios, capela interna e outras dependências. Beneficiou também as irmãs Filhas de São José, cedendo-lhes uma sua propriedade, na Rua Hilário Ferrari (Marechal Rondon) para que as mesmas residissem próximas de um Centro Educacional do Jardim Marília. Foi presidente da Comissão que construiu o Centro Comunitário da Paróquia de Nossa Sra. do Monte Serrat, entre 1982 e 1984, fazendo muitas doações que ficaram no anonimato, pois ele não era de se vangloriar de suas benesses.
Dirigiu ainda a construção da Casa do Albergado (1976/78), bem como a sede do Clube dos Casados, inaugurada em 10 de abril de 1988. Como os recursos para essas obras eram poucos, ele não titubeou em utilizar seus próprios, fazendo “empréstimos” que jamais puderam ser saldados e ele nem se preocupava em recebê-los. Seus filhos têm seguido seus passos, colaborando em nome das Lojas Cem ou em seus próprios nomes para muitas iniciativas que beneficiam pessoas que só tem condições de sobreviver ou de viver com um certo conforto graças a essas doações.
Remígio foi casado em primeiras núpcias com dona Nair Zani, com quem viveu 46 anos, e em segundas núpcias com Maria Lobo, com quem viveu alguns anos. Faleceu em 02 de junho de 2005.