CAUSOS
Escapando dos xingos do monsenhor Couto
Quem não se confessava e comungava durante um certo período, quando ia se confessar com o monsenhor João da Silva Couto, tinha que aguentar as cobranças feitas por ele, geralmente em altos brados, que chamavam a atenção de todos que se encontravam na igreja. Cinco amigos, que costumavam se encontrar quase sempre e rigorosamente todas as noites no Clube Ideal, chegando a viajar juntos para cidades próximas, estavam numa situação difícil: um não confessava há 3 anos, outro a 2 anos e meio e o de menor tempo não se dirigia ao confessionário há 1 ano e meio. Eu fazia parte desse grupo, integrado também pelo Toninho Ferrari, Edmur Sala, Valtinho Meluzzi e Álvaro Rigolin.
Num dia próximo à Semana Santa conversávamos sobre a necessidade de se confessar, mas ninguém tinha coragem de enfrentar o monsenhor João da Silva Couto, pois sabiam que seriam chamados à atenção e talvez até lhes seria negada a confissão, como já tinha acontecido com alguns. Um deles teve uma brilhante ideia: por que não ir se confessar em Pirapora?: “A gente sai daqui cedinho, o padre não nos conhece, a gente se confessa e até comunga na missa que acontece a seguir. Assim a gente fica ‘zerado’ em matéria de confissão e pode voltar a confessar futuramente em Salto”.
Todos aprovaram a ideia e marcado o dia para a ida até Pirapora, no fusquinha do Toninho, que era o único que possuía carro. Saímos por volta das 5h30 de Salto e quando chegamos a Pirapora a igreja estava sendo aberta. Algumas senhoras de idade, vestindo preto, logo ingressaram e tomaram seus lugares. Entramos também e quando o padre ingressou no confessionário, para lá seguiu aquele que não se confessava há menos tempo. Os demais ficaram na fila, encostados na parede, mantendo uma certa distância, aguardando a vez.
Logo se ouviram gritos vindos do confessionário:
- 1 ano e meio sem se confessar e comungar e sem ir à missa? Ainda se diz católico, que tipo de católico você é? Você não tem vergonha na cara?
Nós, os outros quatro, fomos nos retirando aos poucos da “fila” para se confessar, enquanto notávamos nas senhoras idosas uma expressão de espanto, como se pensassem: “Que petulância desses meninos!”.
Na volta, ainda com os mesmos pecados com os quais seguimos para Pirapora, paramos na gruta para um lanche e um dos cinco quebrou o silêncio:
- E ainda tem gente que acha o monsenhor rigoroso demais...