QUEM FOI QUEM
Ciro foi dono de cinema e sem dúvida
o melhor ator cômico da cidade
Se Jaciro Crucello contasse com a mesma sorte de Amancio Mazaroppi, cujo jeito característico de falar e andar fez dele um grande sucesso cinematográfico, ele teria sido, com certeza um dos maiores atores cômicos do cinema nacional. Assim como Mazaroppi, ele não representava apenas a figura que se via nas peças das quais participava na cidade, pois no seu dia a dia, com aquele seu jeito característico de andar e de falar, fazia rir a todos, como se estivesse representando.
Alto, espigado, bem magro mesmo, era uma figura por demais conhecida na cidade. Pacato, tímido até, ele vivia num quarto cedido na residência paroquial do monsenhor João da Silva Couto, para o qual prestava muitos serviços, não só na igreja, mas também no Salão Paroquial, onde se encarregava de exibir os filmes do “Cineminha da Igreja”, que ele ia buscar em São Paulo. Ali eram exibidos, para as crianças durante a semana, comédias de Carlitos, Gordo e o Magro, Irmãos Marx e outras e, nos finais de semana, aconteciam sessões que rivalizavam com as apresentadas pelos dois cinemas existentes na cidade, na época, Verdi e Rui Barbosa (depois São José).
Morando em Salto, trabalhou inicialmente na Brasital S.A. até que um dia resolveu tentar a sorte em São Paulo, onde não se deu bem, o que o fez ingressar num convento dos Passionistas, em Curitiba. Ali foi noviço por quatro meses, até que resolveu voltar para Salto, onde seus pais haviam falecido. Foi então “adotado” pelo monsenhor Couto, mas um dia teve a decepção de ver o “Cineminha da Igreja” fechado, por decisão dos integrantes da Paróquia.
O cinema estava em suas veias e isso o levou a abrir na Rua Rio Branco, quase esquina com a 9 de Julho, em 1959, um cinema denominado Najá (“Na” do seu sócio Natal Buchignani e “Já” de Jaciro). Quando a sociedade acabou, ele prosseguiu, mudando o nome do cinema para Roiam (“Maior” ao contrário). Não maior em tamanho, mas maior porque ele considerava que apresentava os melhores filmes exibidos na cidade, só que a frequência não correspondia à sua expectativa, o que o levou a ter que fechar também esse cinema.
No Teatro – Ciro Crucello brilhou mesmo foi no teatro. Era um artista de muitos recursos, bastante talentoso, por isso era sempre convidado para participar praticamente de todos os grupos teatrais que se formaram na cidade, nas décadas de 1940, 50 e 60. Foi como comediante, porém, que ele se destacou, nas peças apresentadas na década de 1950 e 60, inicialmente no Cine Verdi (geralmente em dois dias seguidos, no meio da semana, pois os sábados e domingos eram reservados à exibição de filmes) O comparecimento do público era sempre grande, lotando a sala de cerca de 400 lugares, com os ingressos – vendidos antecipadamente – tendo grande procura.
Na época constituiu dupla famosa com Jandira da Silva Couto, uma recatada irmã do monsenhor Couto, que no teatro se soltava e fazia o público rir, juntamente com Ciro. Este fazia grande sucesso também quando dançava com uma boneca preta, de pano, chamada “Fifi”, feita por ele mesmo. Seus diálogos, porém, mesmo os mais simples, faziam o público rir, pela forma acaipirada como ele se manifestava.
Quando passou a ter o seu cinema, apresentava ali suas comédias, num grupo denominado “Teatro de Bolso”, porque se tratava de um prédio que não comportava um número muito grande de pessoas – cerca de 80 ou 100. O grupo anterior, do qual fazia parte com Edmur Sala, Leny, etc., tinha a denominação de Grupo Artístico Saltense.
Nascido em Salto em 22 de janeiro de 1922, Ciro faleceu em sua cidade natal em 15 de outubro de 1970, quando contava apenas 48 anos de idade, deixando uma lacuna muito grande na área teatral saltense, na qual era a figura de maior destaque.