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OPINIÃO

O povo sofreu, mas apoiou os caminhoneiros

Nunca se viu no Brasil nada parecido: praticamente toda a população brasileira sofreu as consequências da greve dos caminhoneiros, que paralisaram o país. Eles não deixaram os caminhões abastecer as centrais de alimentos, impedindo a distribuição para os supermercados e outros pontos de vendas; não deixaram chegar insumos aos hospitais e por isso muitos pacientes foram prejudicados, correndo até risco de morte; atrapalharam a vida de muitos motoristas e motociclistas que utilizam seus veículos para ganhar o pão de cada dia; a falta de combustíveis fez com que muitas crianças não fossem levadas às escolas pelos seus pais ou pelos veículos que fazem esse tipo de transporte; muitas indústrias deixaram de funcionar por falta de peças ou pela impossibilidade de comparecimento dos funcionários, perdendo milhões de reais; restaurantes tiveram que reduzir seus cardápios, deixando de faturar, tendo em vista a falta de determinados produtos; nos bares a frequência diminuiu; faltou gás de cozinha em um número considerável de residências e diversos estabelecimentos; os supermercados sofreram com a falta de hortaliças e frutas e seu faturamento também desabou; o transporte urbano só não parou de uma vez graças aos esforços da Nardelli, que conseguiu atender nos horários de pico; milhares de pequenas empresas pararam porque não conseguiram produzir as mercadorias para colocar à venda; muitas famílias não puderam se deslocar para atender compromissos, alguns deles inadiáveis, enfim foi um verdadeiro caos que o povo teve que enfrentar nestes dias já tumultuados que o Brasil vive. Se uma pessoa com muitos poderes ou se um grupo delas, ou ainda se uma entidade fosse responsável por todos esses graves problemas que todos os brasileiros enfrentaram nos últimos dias, seriam execrados pela população e certamente sofreriam até agressões bastante sérias. No entanto, até esta semana, apesar de todo esse sofrimento relatado, os responsáveis por essa série de graves problemas criados são reverenciados, aplaudidos e até movimentos incentivando- -os a prosseguir aconteceram. Pesquisa da Data Folha mostrou que mais de 50% dos consultados acham que o movimento dos caminhoneiros deveria continuar. A grande maioria dos brasileiros tinha alguém para descarregar sua raiva, sua revolta por essa situação desesperadora que o país viveu e por isso esqueceu as dificuldades para responsabilizar Michel Temer e seu governo desgovernado, que comete erros crassos, dentre os quais esse de não levar a sério os alertas levantados pela classe dos caminhoneiros, só agindo depois que viu que o movimento tinha alcançado tal dimensão que já não era possível contê-lo. Foram então realizadas aquelas reuniões com grupos de representantes da categoria, chegando-se finalmente ao atendimento da maioria das solicitações e a acordos que favoreciam consideravelmente os caminhoneiros, cuja conta nós é que iremos pagar. O que ninguém esperava era a contaminação do movimento por ativistas políticos, que agiram de forma violenta contra os próprios colegas, que aceitaram voltar a trabalhar, mesmo porque eles também foram altamente prejudicados pela paralisação. Faltou aí, como faltou no início do movimento por parte do Governo Federal, demonstração de autoridade, pois mesmo com a colaboração da Polícia (inclusive a Federal) e do Exército, muitos focos continuaram agindo impunemente. Isso levou muitos a pedirem a intervenção militar, achando que com militares no comando os que desrespeitaram as leis teriam que se submeter às condições exigidas. Felizmente, porém, o Exército não se sensibilizou com essa reação desesperada e não cogitaram intervir, apenas colaborar com as instituições democráticas. Agora que o movimento acabou, com os caminhoneiros voltando para suas tarefas costumeiras e tudo aos poucos se normalizando nos hospitais, nos setores de abastecimento, no funcionamento das empresas, na regularização do transporte público, enfim em tudo o que tínhamos antes e não dávamos o devido valor, agora – repetimos - estamos vendo um Brasil e uma população modificados, pois passaram por dias difíceis, mas ficou a certeza que uma só categoria tem condições de parar o país, como fizeram os caminhoneiros. E a situação só se normalizou graças ao diálogo, não havendo necessidade de se adotar medidas violentas e radicais, como aquelas reclamadas pelos que pedem a volta do regime militar.

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