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CAUSOS

“Dr. Gravatinha”: delegado que aterrorizava a cidade


Ao contrário do que acontece hoje, antigamente os delegados tinham uma vida mais ativa na cidade: participavam dos eventos, atuavam nas ações dos policiais, enfim não se limitavam a ficar sentados em seu gabinete aguardando os fatos que exigiam as decisões que lhes cabiam tomar. Eles eram considerados pela população e sempre que havia algum acontecimento importante, estavam presentes e eram chamados para compor a mesa principal, ou então sua presença era destacada pelos apresentadores ou pelas autoridades participantes.

Por volta de 1944/45 o delegado da cidade era o dr. Israel Alves dos Santos Sobrinho, um homem autoritário, que exagerava nas atitudes repressivas que tomava, envolvendo os moradores. Ganhou o apelido de “Dr. Gravatinha”, que ele abominava, pelo fato de usar sempre uma gravata borboleta. Por isso ninguém tinha coragem de chamá-lo pelo apelido, limitando-se a se dirigir a ele pelo tratamento de “doutor”, pois praticamente ninguém sabia seu nome.

Suas ações na cidade ficaram famosas: ele era muito severo e exigente, por exemplo, com os casais de namorados. Geralmente aos finais de semana, saia “à caça” desses casais no jardim público (a Praça da Matriz ainda não existia). Não permitia o que considerava exageros por parte deles (por exageros entenda-se abraços apertados e beijos na boca) e não apenas chamava a atenção dos “pombinhos” (como eram chamados), mas também levava para a Delegacia de Polícia os mais ousados. Eles eram repreendidos e até mesmo os que tinham idade inferior a 18 anos passavam pelo vexame de aguardar a chegada dos seus respectivos pais para serem liberados, depois do “sermão”.

Também não permitia jogos que afrontassem a lei, sendo comuns suas visitas ao Clube Ideal ou a alguns bares onde se jogava baralho. Motoristas e carroceiros descuidados também eram fiscalizados com rigor, numa época em que estacionar em lugar proibido eram comum, assim como cometer outras irregularidades no trânsito incipiente. Palavrões também eram proibidos e se passasse num local e ouvisse algum, chamava a atenção com rigor dos que procediam dessa maneira.

Com o tempo a população não aguentava mais tanta repressão, por isso houve uma grande pressão junto às autoridades para conseguir a transferência do “Dr. Gravatinha” para outra cidade. Finalmente num dia isso aconteceu e a satisfação foi geral. Nessa ocasião formou-se um grande cortejo, formado pelos poucos carros existentes na cidade, caminhões lotados de pessoas, carroças e alguns a pé portando faixas, que desceu a Rua 9 de Julho aos gritos de “Tá na hora. ‘Gravatinha’ vá embora!”.

De repente a passeata encontra-se com o próprio delegado, seus dois soldados de Salto e alguns vindos de Itu, os quais não puderam impedir que ela paralisasse. Muitos se acotovelavam nas calçadas para assistir ao confronto, enquanto se dizia que novos reforços viriam de Sorocaba, o que felizmente não aconteceu, pois as consequências poderiam ser trágicas.

Daquele dia em diante o “Dr. Gravatinha” não foi mais visto na cidade, sendo substituído por um delegado muito menos exigente e mais compreensivo, para a satisfação de todos.

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