OPINIÃO
Por essa ninguém esperava
Quem iria imaginar que o prefeito Geraldo Garcia fosse encaminhar à Câmara Municipal um projeto de lei concedendo reajustes superiores a 100% (um deles chegou a 472%) a vários e importantes cargos do quadro funcional da Prefeitura de Salto? Os 8 procuradores, por exemplo, passarão dos salários atuais de R$ 5.687,50 para R$ 11.838,20 (208%), valor pouco superior ao pago aos secretários municipais. Vão dobrar também ou ter aumentos consideráveis outros salários de coordenador, chefes, contador, diretores, etc., além de serem estabelecidas gratificações de R$ 1.500,00 para servidores da Saúde, Educação, Administração e Finanças. Com isso, os gastos com quase 30 ocupantes de cargos comissionados, mais os 20 que receberão gratificação, chegarão a R$ 1.185.946,84 neste ano e dobrarão em 2019 (R$ 2.466.769,43). Deu a louca no prefeito? Ele que sempre reclamou da falta de dinheiro, das dificuldades para pagar despesas que inclusive o transformaram em figura impopular perante boa parcela da comunidade, por não pagar o transporte de estudantes para outras cidades, cortar o cartão escolar, não realizar carnaval e outros eventos, dentre outras coisas, agora abre as mãos e dá uma de Papai Noel em pleno mês de junho? Pelo que se depreende da justificativa ao projeto que ele encaminhou ao Legislativo, colocaram uma faca no seu pescoço: ou ele concede esses reajustes bondosos ou perde figuras importantes de seu governo, como já perdeu para outros municípios e empresas. Tomemos como exemplo o cargo de procurador, cujos 8 integrantes percebem hoje pouco mais de 5 mil reais. Esse cargo é ocupado por advogados formados e inscritos na OAB, que teriam condições de ganhar muito mais se abrissem um escritório de advocacia ou trabalhassem num dos existentes na cidade. Mas teria sido necessário aumentar para um valor superior ou igual ao que recebem os secretários municipais, dentre eles um jurídico, que tem muito mais responsabilidade que os procuradores? Outros cargos aquinhoados com reajustes consideráveis, como o Diretor de Rendas e Coordenador da Administração Tributária, que também tiveram seus vencimentos dobrados, também teriam que receber essa benesse? E o Diretor de Recursos Humanos que vai ter 472% e o Lançador 360%? Os cofres municipais suportarão essa verdadeira sangria? São questões para serem cuidadosamente analisadas. Para chegar aos novos valores, Geraldo deve ter sido muito pressionado pelos integrantes de sua equipe e finalmente convencido, com muito custo, que se não fixasse as remunerações que está propondo à Câmara, deixaria de contar com pessoas de muita importância, que evitariam sejam cometidas “barbeiragens” como as que aconteceram em seus primeiros 8 anos de mandato e pelas quais está tendo que responder na Justiça, com o perigo até de que venha a ser condenado e sofrer consequências políticas e até pessoais. Difícil vai ser convencer os vereadores que terão que votar o projeto numa das próximas sessões. A divulgação dos valores nas redes sociais e neste final de semana pelos jornais impressos, está levando uma grande parcela da população a considerar absurda a propositura. Isso deverá influenciar os vereadores em sua decisão, muito embora alguns deles – não agindo politicamente – irão entender que o prefeito deve mesmo se cercar das garantias em benefício do município e em seu próprio. Não é assunto para ser discutido numa sessão, mas em várias delas, inclusive em audiências públicas, pois o assunto é mesmo muito polêmico.