QUEM FOI QUEM
Salto tem sua história registrada graças a Luiz Castellari
Não fosse Luiz Castellari, não teríamos, a partir de 1971, quando seu livro foi lançado, a “História de Salto” em todos os seus detalhes. Graças a ele os saltenses tomam conhecimento, até os dias atuais, de muitos acontecimentos ocorridos a partir da fundação do município, em junho de 1698. Inclusive diversas obras publicadas sobre a história de Salto se baseiam nas informações que Luiz Castellari obteve, todas elas fidedignas, pois ele obteve documentos raros não só em Salto, mas onde havia uma citação à cidade que ele tanto amou e que fez questão de deixar registrados os bons e os maus momentos vividos até o ano de 1948, quando faleceu, com apenas 47 anos de idade.
Ligado à música – Luiz Castellari nasceu em Salto, em 17 de abril de 1901 e em sua cidade realizou os primeiros estudos, numa escola isolada, pois o município não contava ainda com um grupo escolar. Filho de um grande maestro, Henrique Castellari, e de Luiza Izabel Chagas, era inevitável que se ligasse à música, que aprendeu com o seu pai, que na época dirigia a Banda Musical Saltense. Atuou como músico na Orquestra Itaguaçu, na década de 1970, participando também de diversos conjuntos musicais da cidade, bem como da Orquestra e Coral da Igreja Matriz. Foi copista (aquele que copiava as músicas para serem distribuídas aos integrantes da banda do seu pai) e ensinou música a muitos jovens.
Outras atividades - Aprendeu carpintaria também com seu pai Henrique, tornando-se oficial marceneiro na Fábrica de Móveis Leone Ltda. Também teve uma casa comercial na esquina da Rua 7 de Setembro com a Dr. Barros Júnior. Gostava de colecionar moedas, chegando a ser sócio da Sociedade Numismática Brasileira. Foi sócio fundador da Conferência de São Benedito (a segunda da cidade) em 1933, sendo seu primeiro presidente. Também foi um dos sócios fundadores da Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal, em 1927.
Anos de pesquisa – Para poder escrever a História de Salto, durante muitos anos realizou pesquisas com o fito de reunir todos os fatos num livro. Inicialmente esteve na Câmara de Salto, levantando os dados mais importantes junto às atas lavradas desde sua instalação; obteve cópias de leis estaduais relacionadas a Salto, dentre elas a que elevou a povoação à freguesia, à paróquia, a município e à cidade, desvinculando-se de Itu, isso em 1917.
Esteve várias vezes no Museu de Itu, onde conseguiu muitas informações, inclusive em coleções de jornais lá existentes. Consultou o livro-tombo da paróquia (aquele que registra todos os fatos religiosos), no qual se encontra, inclusive, muita coisa relacionada à construção da capela pelo fundador Antônio Vieira Tavares (que teve a iniciativa de homenagear, dando seu nome à praça da matriz de Monte Serrat). Um dos seus trabalhos mais especiais foi a biografia do dr. Fernando Francisco de Barros Júnior, considerado o “Pai dos Saltenses”, que merecia mesmo um registro bastante detalhado.
Ele terminou seu trabalho em abril de 1942, mas não chegou a ver seu livro impresso, pois naquela época as dificuldades de edição eram muito grandes, dependendo das grandes editoras, que só apoiavam os projetos que lhe proporcionassem uma grande renda e a população de Salto – a maior interessada em sua história – era ainda muito reduzida (em torno de 10 mil habitantes, formada em sua maioria por operários).
A edição do seu livro só se tornou possível na administração do prefeito Jesuíno Ruy e, por incrível que pareça, foi necessário o envio do projeto autorizando o custeio da impressão por duas vezes à Câmara. Na segunda vez a Câmara não se manifestou a favor e nem contra, o que levou Jesuíno a sancionar o projeto por decurso de prazo, transformando-o na lei 625/1970.
Problemas na impressão – Demorou alguns meses para que o livro fosse impresso, pois dependeu de licitação, que foi ganha pela Editora Taperá Ltda. Aliás, dessa licitação participaram duas outras gráficas da cidade, a Saltense, de Onofre Causo, e a Saltense, dos irmãos Lara. Como a Editora Taperá não tinha condições de compor o longo texto e imprimir as quase 180 páginas do livro, recorreu a uma gráfica de São Paulo, acrescentando ao preço por ele cobrada um valor correspondente ao acabamento da obra, que teria que fazer, e ao lucro a ser obtido.
Quando a impressão acontecia na capital, a gráfica entrou em contato com a Editora Taperá informando que se enganara no preço e isso causou uma situação difícil de ser resolvida. A solução só pôde acontecer depois que se justificou um reajuste, tendo em vista que a licitação previa 100 páginas e o livro, depois de pronto, chegou a ter quase o dobro. Mesmo assim a gráfica de São Paulo desistiu do serviço, alegando que seu lucro seria reduzido, tendo a Editora Taperá que procurar outra gráfica, que cobrou um valor menor, mas realizou um trabalho ruim, com muitos erros ortográficos, inversões, etc. A maior prejudicada foi a Editora Taperá, que era a responsável pela impressão e que praticamente repassou a importância paga pela Prefeitura à gráfica que executou a impressão, não ganhando praticamente nada. Além disso viu sua imagem arranhada pela execução falha de uma obra importante para a cidade.
Lançamento – O lançamento do livro foi feito no dia 16 de junho de 1971, no andar superior da Câmara de Salto, onde funcionava a Biblioteca Pública Municipal. Na oportunidade usaram da palavra o assessor do prefeito, Genésio Migliori, em nome do chefe do Executivo, o padre Mário Negro e o vice-prefeito Roberto Brichesi. O filho de Luiz Castellari, Ludovico, agradeceu o prefeito Jesuíno por tornar realidade um velho sonho do seu pai, lamentando que ele não pudesse acompanhar o desfecho do trabalho importante que executou.
Foram impressos 3.000 exemplares do livro, sendo que 10% foram entregues à família Castellari e os demais vendidos a preço de custo (Cr$ 3,00 por exemplar), na Biblioteca Municipal.