CAUSOS
Linguiça furtada de açougue causa disenteria
Como foi relatado na biografia de Archimedes Lammoglia, em sua época de juventude o médico falecido “aprontou” muito na cidade, sempre em companhia de Mário Bertani, o “Mário Manco”. Uma de suas aventuras foi o furto de linguiças num açougue da cidade, o que aconteceu diversas vezes.
A vítima era o “Açougue do Mano”, como era conhecido, localizado no início da Rua 9 de Julho (primeiro quarteirão). Os açougues, na época, eram fechados por uma grade de ferro, com espaços que permitiam ver a carne e as linguiças expostas em ganchos. Archimedes e Mário, em suas andanças noturnas, um dia tiveram a ideia de furtar linguiças, por isso, com duas compridas varas, “pescavam” a linguiça, sem serem perturbados, pois as noites saltenses, naquela época (década de 1940) eram desertas: a maioria da população, formada por operários, descansava para o trabalho pesado do dia seguinte.
Com uma boa quantidade de linguiças furtadas, programavam para o dia seguinte um churrasco, para os quais convidavam os amigos mais chegados, certamente não informando onde haviam obtido a iguaria. Um desses convidados era Jandir Pedroso, filho do proprietário do açougue, o “Mano”. Muito esperto, Jandir acabou descobrindo de onde vinham as linguiças servidas no churrasco e organizou uma vingança, em nome do seu pai.
Quando foi anunciado outro churrasco para um determinado dia, Jandir sabia que na noite anterior Archimedes e Mário iriam agir, “pescando” as linguiças no açougue do seu pai, por isso preparou uma surpresa: um dia antes foi até uma das farmácias de cidade e comprou uma grande quantidade de purgo leite, justificando que seria para a purga do gado.
No dia marcado, no quintal do Clube Ideal, chegavam os convidados e a cerveja corria de mão em mão, numa doida alegria. Afinal, era mais um churrasco de graça! Só o Jandir, filho do Mano, não compareceu, alegando uma forte gripe. Como de costume, o churrasco “boca livre” ocorreu na maior animação. A linguiça tinha um gostinho diferente, mas deveria ter sido o tempero utilizado. Archimedes e Mário recebiam agradecimentos e abraços de todos.
De repente, nem bem a digestão iniciava, alguns convivas começaram a sentir uns espasmos estomacais, uns ruídos esquisitos percorrendo estômagos e intestinos num crescendo inquietador. Segundos depois começou a correria em direção às privadas do clube e quem ficava de fora clamava para que a porta fosse aberta. Quando a demora era muita, o jeito era correr para embaixo das bananeiras, outros nem chegavam a alcançá-las e deixavam rastros pelo caminho. Era uma disenteria nunca vista... e sentida!
Tinha-se que descobrir o que acontecera e o Mário, percorrendo as farmácias da cidade, descobriu que numa delas um “estranho” havia comprado uma grande quantidade de purgo leite. Talvez fosse alguém que não pôde participar do churrasco por algum problema de saúde. Gripe, por exemplo.