CAUSOS
O motorista que queria ser patrão,
nem que fosse por alguns minutos
Na década de 1950 existia um posto de combustíveis onde hoje se localiza a agência do Banco do Brasil, no início da Rua 9 de Julho. Era um local frequentado por alguns gozadores da cidade, contadores de piadas, enfim de pessoas que enchiam o tempo disponível com conversas bem-humoradas. Um dos frequentadores era o dr. Mário Dotta, que certa feita nos contou um fato ocorrido no local.
Além de abastecer os veículos, havia uma oficina aos fundos, sob a responsabilidade do Samuel Bueno de Oliveira, que vivia em Salto e mudou-se, não se ouvindo mais falar dele. Às vezes ele trabalhava também como frentista, mas sempre sobrava tempo para brincadeiras com os demais frequentadores, que ele certamente apreciava, pois era uma pessoa alegre. Um dos frequentadores era o Zé Mariano, que trabalhou por muitos anos como motorista da Prefeitura e que residida na Rua Monsenhor Couto, quase em frente à residência paroquial.
Certa feita, dirigindo-se ao Samuel, que tomava conta do posto, revelou que estava louco para ser patrão, nem que fosse por apenas alguns minutos. Rindo da proposta, Samuel concordou e passou o comando para Zé Mariano, que começou a dar ordens aos demais funcionários:
- Atenda aquele motorista!
- Encha o tanque daquele carro e verifique a calibragem dos pneus. Também veja o nível do óleo!
De repente encosta um belíssimo Cadilac, dirigido por um senhor elegante, acompanhado de moças belíssimas e delicadas, que sorriam para os circunstantes. Como o Zé Mariano estava um pouco afastado, Samuel atendeu o cliente, que lhe pediu para ver o molejo do carro, que estava com um ruído esquisito. Solícito, Samuel enfiou-se embaixo do veículo para verificar o defeito.
Zé Mariano, vendo a cena, se aproximou e resolveu continuar em seu papel de “patrão”. Cenho fechado e cara de poucos amigos, como se fosse um desses patrões exigentes, acerca-se de Samuel, observado pelas garotas e lhe diz com toda empáfia do mundo:
- Olha, Samuel, toda vez que você fizer cocô (o termo usado foi outro, bem mais cru) e sujar de merda o encosto da bacia, vai ser despedido!
Zé Mariano afastou-se, uma jovem olhou para a outra com espanto, enquanto Samuel ficou embaixo do carro, sem ânimo pra sair dali. O serviço estava pronto, mas nada dele se atrever a mostrar a cara, enquanto o proprietário do carro repetia:
- Como é, já terminou, moço?
De repente, ele aproveitou um descuido do proprietário e das jovens e saiu debaixo do carro como um corisco, sumindo na garagem ao fundo, sem ter coragem de cobrar pelo serviço realizado. Pelo menos por um bom tempo rompeu relações com o Zé Mariano, que nunca mais pretendeu ser patrão, “nem que fosse por alguns minutos”, pois ficara plenamente satisfeito com a experiência que teve...