QUEM FOI QUEM
Hilário Ferrari deu início à “Dinastia Ferrari”,
na administração do município
Durante cerca de 1/4 de século uma família alternou três dos seus membros na administração do município de Salto: a família Ferrari. Por se tratarem de pessoas em que nela militavam reconhecidas por sua conduta ilibada, merecedora do respeito, estima e da admiração da população, governou Salto por quase 25 anos, sendo responsável por diversos benefícios que o município recebeu.
A série de governos envolvendo a família Ferrari teve início em 1927, quando o imigrante italiano, Hilário, depois de atuar como vereador durante 7 anos, assumiu a Prefeitura, com a desistência do prefeito José de Almeida Campos. Na revolução que levou Getúlio Vargas ao poder, em 1930, ele foi substituído por um prefeito nomeado, o major José Garrido, que permaneceu em Salto até 1932, quando assumiu Francisco de Arruda Teixeira. Mas em 1938 Hilário voltou à chefia do Executivo, porém por pouco tempo, pois o governo brasileiro não permitia o exercício do cargo por estrangeiros.
Italiano – Hilário era italiano, tendo nascido em Mantua, a 13 de fevereiro de 1880. Veio ao Brasil com seus pais Casimiro e Albina e seis irmãos, em outubro de 1887, como imigrantes, desembarcando em Santos no navio “Birmânia”. Inicialmente foram para a Fazenda da Grama, em Indaiatuba, sendo Hilário matriculado numa escola primária rural.
Casou-se em 1º de dezembro de 1900 com Rosa Patucci, da qual ficou viúvo em 25 de fevereiro de 1961. O casal teve 13 filhos: Iraima, Roberto, João Baptista, Clotilde, Archimedes, Orazília, Casemiro, Deolindo, Alcides, Zilda, Albina, Rosa e Olga.
Veio para Salto em 1904, instalando-se no Bairro do Buru, tendo se destacado na lavoura e na pecuária, tornando-se prático em agrimensura e veterinária, tratando até de cavalos do Exército (4º RAM, de Itu). Mudou-se com a família para a cidade em em 1912, participando ativamente da vida social, econômica e política da cidade. Instalou uma grande casa comercial na esquina das ruas 9 de Julho e Monsenhor Couto, mais tarde repassada para seu filho Roberto e deste para seu neto Roberto Valdemir (destruída por um incêndio no início dos anos 2000).
Em certa ocasião foi contratado pelo Governo do Estado para dirigir a construção da estrada velha Salto-Indaiatuba, depois retificada e asfaltada, tornando-se a Rodovia Santos Dumont, que teve alguns dos seus trechos “picados”, os quais foram denominados como Archimedes Lammoglia e Hélio Steffen, dentre outros.
Destacou-se também no esporte, fazendo parte de diretorias do Ítalo Futebol Clube, equipe da colônia italiana da cidade, do Corinthians Saltense e da Associação Atlética Saltense, além de passagens pelo Guarani Saltense e Estudantes F. C. (antecessor do Clube de Regatas Estudantes Saltenses). Aliás, era dono da área em que se localiza hoje o campo da A.A. Saltense, que vendeu por bom preço e com facilidades para a diretoria que na época era presidida por Luiz Milanez. Em reconhecimento, o clube deu ao estádio o nome de Alcides Ferrari, um dos filhos de Hilário, que havia falecido.
Foi fundador e o primeiro presidente da Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal, em abril de 1927, além de colaborar com diversas entidades locais, com a Sociedade São Vicente de Paulo, Sociedade Saltense de Socorro Mútuo, bem como com as bandas de música locais.
Durante sua primeira gestão à frente do Executivo saltense, Hilário enfrentou uma epidemia de varíola, iniciada no fim de 1926. Naquela época os recursos financeiros eram insuficientes para administrar a cidade, sendo o orçamento que Hilário recebeu 30 “contos de réis” menor que o do ano anterior (de 130 para 90 “contos”). Assim mesmo realizou algumas obras, como a ponte de madeira com pilares de pedra e cimento, ligando a cidade à estação da Estrada de Ferro Sorocabana. Também teve atuação eficiente na área financeira, aumentando o orçamento de 1928 para 140 “contos de réis”. Foi ele quem autorizou a realização da Festa da Padroeira na praça principal.
Hilário era muito estimado pelos saltenses e no seu segundo mandato justificou essa simpatia, recuperando e construindo estradas e pontes municipais. Também na cidade sua atuação foi positiva, pois providenciou a colocação de guias e sarjetas nas ruas, construiu bueiros para o escoamento das águas pluviais e cuidou dos cruzamentos, que antes apresentavam profundas erosões. Nesse período revelou-se um “prefeito estradeiro”, abrindo estradas e melhorando as existentes. Auxiliou os moradores da zona rural, procurando manter em boas condições as estradas.
O político – Como político, iniciou sua carreira como vereador à Câmara Municipal de Salto, sendo eleito para o período 15.11.1920 a 15.01.1923, de 15.01.1923 a 15.01.1926, de 15.01.1926 a 15.01.1929 e de 15.12.1929 a 15.01.1932. Com a desistência do prefeito José de Almeida Campos, assumiu a Prefeitura em 15.01.1927, mas foi deposto em 30.10.1930 pela revolução que levou Getúlio Vargas ao poder.
O mesmo governo revolucionário que o havia deposto, reconhecendo seus altos méritos de civismo, administrativos e seus relevantes serviços prestados em seu mandato, bem como pela honestidade de propósitos e moral, reconduziu Hilário ao cargo de prefeito, em 30 de junho de 1938, mas teve que deixá-lo em 31 de janeiro de 1939, por ser italiano nato e o Brasil não mantinha boas relações com a Itália no início da 2ª Guerra. Apesar de italiano, Hilário sempre se portou como autêntico brasileiro, conservando até mesmo as expressões caipiras que adquiriu quando morava no Buru.
Foi substituído por seu filho Tita Ferrari, que prosseguiu mantendo a “Dinastia Ferrari”, que durou quase 25 anos e prosseguiu com Orestes Ferrari (que foi vereador e em certa época assumiu a Prefeitura); Antônio Oirmes Ferrari, vereador em 3 mandatos e Rosi Mari Aparecida Ferrari (2 mandatos). Todos eles sempre se portaram exemplarmente, procurando acima de tudo o bem de Salto, tendo contribuído consideravelmente para o progresso do município, cada um a sua maneira. Tudo começou, porém com o “velho Hilário”, numa época bastante difícil, onde os recursos praticamente não existiam.
Homenagens – Hilário foi homenageado duas vezes: seu nome foi dado à rodovia que liga a área próxima ao Jardim Itaguaçu até a Rodovia Dom Roberto Pinarello de Almeida (Itu-Jundiaí), que se denominava Rodovia Marechal Rondon. Também foi dado seu nome a uma rua do bairro Marechal Rondon.
Ele faleceu em 8 de setembro de 1968.