CAUSOS
O vendedor de amendoim que executou
um “solo” na execução da ópera
Era comum, há 40 ou 50 anos, circularem pela cidade vendedores de amendoim, dentre eles o “Chicão”, seu filho Roquinho, o Basale (cujo apelido era Baruio), o “Uia-Uia” (Martani), “Ditinho Corre Campo” e outros. Eles faziam ponto nas portas dos cinemas, dos circos (quando estes se instalavam na cidade), nos campo de futebol, nos concertos das bandas, nos eventos, etc. Cada um tinha seu modo característico de apregoar as qualidades do seu produto, a maioria destacando as “energéticas” do amendoim, que era vendido descascado, com casca e até com sal na casca.
Todos os domingos as bandas se apresentavam no coreto que existia na Praça Paula Souza, em frente a um terreno onde foi construído o prédio para o Clube dos Trabalhadores, hoje destinado à Biblioteca Municipal. Certa noite, iria se apresentar a Banda Brasileira, sob a batuta do maestro Henrique Castellari, que executaria uma ópera de sua autoria. Antes do início da apresentação as pessoas conversavam entre si, enquanto um dos vendedores de amendoim, o “Chicão”, fazia a propaganda falada com seu pregão preferido: “Olha o amendoim torradinho! Energia elétrica”.
Quando começou a execução da ópera, a praça era tomada por um respeitoso silêncio e “Chicão” suspendia o pregão. Enquanto a melodia se expandia, em ondulações, atingindo toda a praça, o inquieto vendedor aguardava o momento propício para entrar com seu “comercial”, mas a demora estava sendo muito grande.
De repente, cessam as vozes, dos oboés e clarinetes, emudecem os tambores e o saxofone e a um sinal do maestro a orquestra silencia por segundos. Silêncio absoluto na praça e o “Chicão”, que aguardava ansioso uma oportunidade de divulgar seu produto, não perde a chance:
- Olha o amendoim torradinho! Energia elétrica.
Vários “pssius” partem da plateia. E logo as notas musicais recomeçam a opereta no suave “ritornelo” da peça.
Naquela noite a opera do maestro Castellari contou com uma participação especial, a de um humilde vendedor de amendoim, cujo “solo” jamais seria esquecido...