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QUEM FOI QUEM

Barros Júnior, nosso primeiro deputado

era rico, mas morreu na miséria


Dr. Barros Jr.: um dos políticos que mais fez por Salto

Uma das mais ricas biografias de um político saltense é a do dr. José Francisco de Barros Júnior, capivariano que residiu por muitos anos em Salto, depois de vir para Itu após ter estudado engenharia nos Estados Unidos. Era de família rica, inclusive foi um dos pioneiros da industrialização de Salto, tendo implantado a 2ª fábrica de tecidos, inaugurada em março de 1882, quando tinha apenas 26 anos de idade (nasceu em 1856). Com essa medida, contribuiu para o crescimento da população e o desenvolvimento do comércio. Paradoxalmente, morreu na miséria e ele que fez tanto pela cidade que adotou e onde realizou grandes obras, não teve reconhecido seu trabalho, chegando até a ser muito criticado por outros políticos.

O dr. Barros Jr. iniciou sua carreira política como vereador em Itu, em 1883, integrando o Partido Republicano. Na Câmara da vizinha cidade defendia os interesses de Salto, que ainda era uma freguesia, só sendo desmembrada de Itu em 1889. Curiosamente, até em defesa dos taperás ele se manifestou na Câmara ituana, apresentando um projeto proibindo a matança dessas aves já então consideradas um símbolo de Salto, estabelecendo multas aos infratores. Mesmo atuando politicamente em Itu, ele reorganizou o Grêmio Musical Saltense, em 1880, dotando-o dos respectivos instrumentos.

O primeiro jornal saltense, fundado por Barros Jr., em 1887

Ele foi o primeiro intendente da Câmara de Salto, cargo equivalente ao de prefeito, exercendo-o de 1890 a 1895 e de 1905 a 1906, além de ter sido vereador em quase todo o resto de sua vida. Nesse período teve uma atuação muito elogiada, destacando-se no amparo aos saltenses atacados duramente durante as várias epidemias de varíola, febre amarela e tifo, no fim do século XIX e início do século XX. Abolicionista e republicano, fundou o primeiro jornal de Salto em 1887 (“Correio do Salto”) e conseguiu a criação de uma subdelegacia de Polícia, um Distrito da Paz e a elevação à vila em 1889, quando o município foi desmembrado de Itu.

Como vereador foi eleito presidente da Câmara em 1892, ano em que também atuou como Juiz de Paz em 1896, além de ter sido o primeiro subdelegado saltense. Também em 1896, quando era prefeito, Salto teve o seu primeiro Código de Posturas, que dava um novo ordenamento para a vida da cidade, estabelecendo as medidas relativas à largura das vias públicas e das calçadas, às construções, localização, etc., além das proibições nos vários setores. Ele dirigiu como engenheiro e ajudou a custear as obras da ponte sobre o Rio Jundiaí, onde, até aquele ano (1888), a travessia era feita por barcas. Também contribuiu para a iluminação pública da cidade em 1890, com 36 postes e lampiões. Desenvolveu os serviços públicos, com a abertura e nivelamento das ruas, colocação de guias e sarjetas. Organizou, às suas expensas, o Gabinete de Leitura, onde eram promovidas reuniões culturais, em 1885. Promoveu a vinda de médicos de São Paulo, também às suas custas, para atender a população, no combate à varíola, que atingia a região, em 1887. Construiu 3 hospitais de isolamento, com distribuição de gêneros alimentícios às famílias dos doentes, além de instalar desinfectorias, com guardas armados, pagos por ele.

Em 1892 foi eleito deputado estadual, graças aos votos dos saltenses e ituanos. Um dos seus principais projetos, na Assembleia Legislativa paulista, foi o de estabelecer novas divisas do nosso município, ampliando inclusive o território para além rio (margem esquerda do Tietê), que constava pertencer a Itu.


Pai dos Saltenses – Por tudo o que fez em prol da cidade, o dr. Barros Jr. era chamado de “Pai dos Saltenses”, pois atendia a todas as classes. Nos 39 anos em que residiu na cidade executou uma série de importantes trabalhos, mesmo fora da política, colaborando para o progresso da então vila e posteriormente cidade. Vejam algumas de suas atitudes:

- Para “afugentar” o vírus da gripe espanhola, saía às ruas à frente de uma banda de música, soltando foguetes e gritando frases para recuperar o otimismo da população;

- Na casa número 61 da Rua Joaquim Nabuco (atual Dr. Barros Jr.), tocava alto seu gramofone, que diariamente alegravam as crianças e os menos favorecidos;

- Fundou o Clube Republicano, em julho de 1887, onde eram feitas palestras divulgando os ideais do partido;

- Facilitou a fuga de escravos, até mesmo os da fazenda do seu pai, mandando-os para as casas de pessoas fiéis à ideia abolicionista, tendo promovido grande festa quando da abolição;

- Organizou os festejos para comemorar a proclamação da República, em novembro de 1889;

- Após ter deixado a política, em 1911, organizou o Tiro de Guerra de Salto, no qual as pessoas cumpriam o serviço militar, que foi desativado após sua morte;

- Uniformizado, ele acompanhava os jovens em seus exercícios.


Túmulo onde ele foi sepultado, no Cemitério da Saudade

Triste fim – Em sua carreira política o Dr. Barros Jr. teve que enfrentar a oposição de outros ocupantes de cargos públicos, certamente por ciúmes, inclusive objetando seus planos administrativos. Segundo relata Luiz Castellari em seu livro “História de Salto”, “sua estrela tutelar deixou de brilhar no firmamento saltense. Aquele que fora o Creso saltense, o probo, a quem a então caótica população de Salto deve o início do seu desenvolvimento, perdeu seu cabedal, tributo com que o destino recompensou a sua generosidade”. Relata ainda Luiz Castellari que “os seus antagonistas moveram-lhe torpe campanha, desvirtuando-o e assim melindrando os nobres sentimentos que o povo lhe devotava”. Isso fez com que ele até pensasse em abandonar a política, mas os saltenses não concordavam e sempre o apoiaram. Após perder a esposa, ele que sempre teve uma conduta pessoal irrepreensível, passou – segundo alguns testemunhos de pessoas que viveram em sua época, publicados no jornal “O Liberal” – a ter uma vida desregrada, vivendo quase como um libertino, inclusive trazendo para Salto mulheres da então chamada “vida fácil”, que contribuíram para que perdesse a maior parte de sua fortuna.

De político dos mais atuantes e festejados, transformou-se, ao final da vida, numa pessoa que vivia praticamente na miséria, tendo que executar tarefas humildes para sobreviver, dentre elas a de carreiro (guia de carros de boi) e de arador de terras, falecendo num dia de Finados (2 de novembro de 1918). Ele está sepultado no Cemitério da Saudade.

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