OPINIÃO
Um projeto do Executivo que fugiu à regra
Os vereadores saltenses deverão discutir e votar, na sessão da próxima terça-feira, o projeto de lei que estabelece aumentos consideráveis a ocupantes de 12 cargos na administração municipal. Como em nenhuma outra ocasião um projeto do Executivo foi rejeitado na atual legislatura, essa virgindade poderá acabar na próxima sessão, pois até mesmo vereadores que fazem parte da base situacionista estão propensos a votar contra, tendo em vista as altas porcentagens propostas. Aliás, nos últimos dias, por iniciativa dos procuradores municipais, foram corrigidas as que vinham sendo divulgadas pela imprensa (inclusive por este jornal), por vereadores e na rede social. O aumento dos procuradores, por exemplo, será de 108 e não de 208 por cento, assim como a do diretor de rendas e coordenador tributário; a dos diretores do Tesouro, de Contabilidade e Recursos Humanos alcançará 74,4%; a do agente de rendas 92,4%; a do contador 29,0%; sendo as maiores do supervisor de empenho (141,3%), lançador (170,9%) e do chefe de atendimento ao suporte (260,4%, a mais alta de todas). O projeto do Executivo foge à regra até aqui estabelecida porque além de talvez ser a primeira vez que um projeto de lei será rejeitado pela Câmara, o procedimento do prefeito Geraldo Garcia e de sua equipe fugiu completamente à rotina que vinha sendo seguida desde o início da atual administração. Quando o chefe do Executivo ia encaminhar um projeto importante à Câmara, marcava uma reunião com os vereadores para explicar as razões pelas quais propunha determinada medida, solicitava o apoio de todos e chegava a convencer até mesmo oposicionistas. Desta feita foi diferente: Geraldo encaminhou o projeto à Câmara, sem antes conversar com os vereadores, causou um impacto não só no Legislativo, mas também na imprensa e nas redes sociais pela surpresa da medida e pelas porcentagens calculadas. Depois que os comentários pulularam por toda a cidade, causando até prejuízos que podem ser irreparáveis à imagem do prefeito, mesmo assim este agiu como se não fosse com ele. À reportagem deste jornal, que o questionou, disse apenas que enviara o projeto, cabendo aos vereadores decidir, uma atitude que nunca tivera antes com as proposituras de repercussão. Isso nos leva a imaginar duas coisas: que Geraldo atendeu reivindicações dos servidores beneficiados, como se dissesse - “fiz a minha parte”, torcendo até para que o projeto fosse rejeitado, a fim de que os ainda combalidos cofres municipais não tivessem que suportar despesas imprevistas. Ou então aqueles que fazem parte da administração, que têm a obrigação de trabalhar pela aprovação dos projetos do Executivo, não cumpriram com sua obrigação, nem mesmo junto aos integrantes da bancada situacionista. Pode ter até outras razões, pois, parafraseando William Shakespeare, há mais intenções misteriosas entre os que comandam o poder municipal, do que pode imaginar nossa vã filosofia.