QUEM FOI QUEM
Maestro Gaó fez grande sucesso não só no Brasil,
mas também nos Estados Unidos
Um dos poucos saltenses que fizeram grande sucesso não só no Brasil, mas até mesmo no exterior, foi Odmar Amaral Gurgel, que artisticamente era conhecido como “GAÓ”, as três iniciais do seu nome, ao contrário. Antes de se tornar “Gaó”, porém, adotou o “OAG”, suas iniciais pela ordem, mas aconselhado por um amigo, em 2024, quando ainda tinha 15 anos, passou a utilizar o “Gaó” pelo resto da vida.
Ele nasceu em Salto, aos 12 de fevereiro de 1909 e ainda aos 5 anos expandiu sua genialidade, pois já era alfabetizado nessa idade e começou a estudar música; aos 9 anos tocava piano, violino, flauta e trombone, época em que frequentava o Grupo Escolar Tancredo do Amaral, do qual seu pai (Acylino Amaral Gurgel) foi diretor. Participou com essa idade numa orquestra de salão, da qual aos 11 anos se tornou regente.
Frequentava todas as noites um dos cinemas da cidade, o Pavilhão, na esquina das ruas 7 de Setembro e Floriano Peixoto, para selecionar músicas da orquestra da qual seu pai era o clarinetista, adaptando-as às diversas cenas de filmes (que ainda eram mudos). Também tocava piano no cinema e regia a orquestra que animava as sessões, sendo remunerado para essa função.
Ainda aos 11 anos compôs sua primeira música, “Inspiração”, uma mazurca. Começava então uma numerosa série, prosseguindo com “O cantor sincero”, “Myosotis”, que ofereceu no dia do seu 12º aniversário a sua mãe e outras. Seus familiares achavam que em Salto não teria condições de desenvolver suas atividades artísticas, por isso procuraram um professor em São Paulo (pianista Samuel Arcanjo dos Santos) que o preparou para ingressar no Conservatório Dramático Musical de São Paulo.
Nessa época morou numa pensão durante cinco anos, quando foi funcionário de uma loja de música, a “Casa Di Franco”. Enquanto estudava, sobrevivia com a música, tocando no Jazz Band Manon e na própria “Casa Di Franco”. No Conservatório fez um curso brilhante, contando com o apoio de famosos professores.
Diplomou-se concertista em 1927, quando foi levado para a Rádio Educadora Paulista, a primeira de São Paulo, transformada posteriormente em Rádio Gazeta. Nela dirigia um quarteto de cordas, mas também atuava na Rádio Cruzeiro do Sul, tornando-se exclusivo da fábrica de discos Colúmbia, na qual sua primeira gravação foi “Nola”. Nessa ocasião surgiu seu primeiro quarteto de jazz e quando tinha ainda 16 anos conheceu aquela que se tornaria sua esposa em 1930, Dina.
Criou nessa época a Orquestra Colbaz, fazendo muito sucesso com músicas como “Branca”, “Tico-tico no fubá” e gravando os discos “Valsas Brasileiras”, “Gaó, seu piano e orquestra”, “Gaó bem brasileiro”, “Gaó viaja pelo mundo” e outros. Dirigiu a parte sonora de filmes como “Coisas Nossas”, da Baynton & Cia. e “Foz do Iguaçu” e “Fantasma por acaso”, ambas para a Atlântida.
Prosseguindo suas intensas atividades artísticas, foi diretor da Colúmbia, promovendo grandes artistas; ganhou medalha de ouro da “Gazeta”, em 1931, num concurso sobre música brasileira; dirigiu as rádios Cruzeiro do Sul e Cosmo, criando diversos programas; compôs centenas de músicas, várias das quais fizeram sucesso; foi um dos “mais” da década de ouro da música popular brasileira; compôs muitas fantasias que serviam de prefixo musical nos programas de rádio e seu nome era sempre divulgado, pois concedia entrevistas para dezenas de emissoras de rádio, revistas, jornais e TVs.
Mudando-se para o Rio de Janeiro, foi dirigir as rádios Ipanema e Mauá, quando organizou a “Voz do Brasil”. Atuou na Rádio Belgrano da Argentina, voltou ao Rio para a Rádio Nacional; veio novamente para São Paulo para dirigir a Rádio Cruzeiro do Sul e a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, tendo ainda participado de festas organizadas pelas figuras mais ilustres do país, inclusive pela esposa do presidente Vargas e destacando-se na Rádio Globo com o programa “Turbilhão de ritmos”.
Em Salto – Gaó jamais deixou de manter seus laços de amizade e de cidadania com seus conterrâneos. Quando estava na Rádio Nacional de São Paulo, no início da década de 1950, tinha um programa aos sábados à noite, onde se apresentava com sua orquestra e com os nomes mais destacados da música e do humorismo da época. Foi convidado e aceitou fazer a apresentação de seu programa diretamente do estádio do Guarani Saltense, trazendo sua orquestra e destaques artísticos como Hebe Camargo, Mazzaropi, Osni Silva, Inezita Barroso, Trio Itapoã e outros, em novembro de 1953. Em 1956 esteve em Salto para paraninfar os bacharelandos do Ginásio Estadual e certa feita realizou uma audição no Clube dos Trabalhadores Saltenses em benefício da Casa da Amizade do Rotary Club de Salto, com renda para a Escola “Acylino do Amaral Gurgel”.
Nos Estados Unidos - Em 1946 seguiu para os Estados Unidos, onde viveu mais de 20 anos, com inúmeras vindas ao Brasil, inclusive a Salto, para visitar os amigos que aqui deixou. Continuava trabalhando, a reger e compor e na N.B.C. gravava apenas músicas brasileiras. Nos “States” era considerado “Embaixador do Samba”, mas não deixou de realizar alguns trabalhos no Brasil, quando vinha para seu país, tendo apresentado concertos famosos, fazia gravações de discos na Odeon e apresentava-se também na Argentina e Uruguai, às vezes ao lado de Carmen Miranda, sempre com grande sucesso. Ele viajou também muitas vezes de navio, dirigindo as orquestras a bordo e fazendo apresentações ao piano.
Voltou ao Brasil no final da década de 1960 e foi residir em Mogi das Cruzes, convidado que foi para dirigir o Teatro Municipal daquela cidade.
Além de discos, Gaó lançou também um livro, “Teoria Moderna da Música”, quando festejou seu Jubileu de Ouro como um nome consagrado internacionalmente, constando seu nome, inclusive, da Enciclopédia da Música Brasileira e da Enciclopédia Delta Larousse.
A escritora Botyra Camorim escreveu um livro sobre a vida artística de Gaó, denominado “Sonata em quatro movimentos”.
Homenagens – Ainda em vida, o maestro Gaó recebeu diversas homenagens. A mais importante delas aconteceu em 4 de dezembro de 1988, quando foi inaugurado, ao lado do prédio do Conservatório Municipal Maestro Henrique Castellari, um auditório que levou seu nome: Auditório Maestro Odmar Amaral Gurgel, que todos chamam de Auditório Gaó. Também foi dado seu nome a uma rua de Salto, no Jardim Alberto Cintra, em 1972, quando era possível homenagear pessoas vivas com a denominação de vias e logradouros públicos. Já residente em Mogi das Cruzes, em junho de 1974, recebeu o título de Cidadão Mogiano.
Entre outros, recebeu também os seguintes títulos, troféus, medalhas, dentre eles o mais importante: Troféu Roquete Pinto, destinado aos destaques no rádio a partir da década de 1960. Foi homenageado por diversos Rotary Clubes: Sócio Honorário do Rotary Club de Salto, em julho de 1976, do Rotary Club de São Roque, em 1977 do Rotary Club São Paulo-Leste e do Rotary Club de Lindóia. Outras homenagens recebidas do Esporte Clube Pinheiros de S. Paulo, da Sociedade dos Campos, dos Autores e Editores Americanos, da V. Som Jovem, da EEPG “Dr. Washington Luiz, da Sociedade Instrutiva e Recreativa Ideal de Salto, da Faculdade de Educação Física de Mogi das Cruzes, do Instituto Braz Cubas, da Loja Met e outras.
Gaó faleceu em Mogi das Cruzes em 24 de dezembro de 1982, com 83 anos, tendo a Prefeitura daquela cidade decretado luto oficial por três dias, em homenagem póstuma ao grande pianista, maestro e compositor.