QUEM FOI QUEM
Henrique Castellari, que acendia e apagava
lampiões, se tornou um grande maestro
Numa época em que as bandas tinham uma importância extraordinária para os moradores da cidade, a figura do maestro era sempre reverenciada e vários deles se tornaram personagens famosos e admirados pelas suas qualidades musicais. Foi o caso de Henrique Castellari, que de acendedor e apagador dos lampiões das ruas e praças, quando jovem, de uma Salto que ainda não contava com o benefício da energia elétrica, se tornou um grande maestro.
Ele nasceu em Parma, na Itália, em 27 de junho de 1880, tendo chegado ao Brasil, com seus pais, em 14 de abril de 1891. Desde sua juventude revelava intensa tendência para a música, começando, depois de algum aprendizado com outro famoso maestro, João Narciso do Amaral, a tocar numa banda de Itu. Aos poucos foi se aprofundando na arte, fazendo os cursos de composição e regência, após o que ingressou na Banda Musical Saltense, assumindo sua regência em 1902, quando contava com apenas 22 anos. Dirigiu essa corporação por cerca de 50 anos, tempo em que a banda conheceu grandes glórias, constituindo-se até, em certas ocasiões, como a melhor do país.
Ela foi convidada diversas vezes para se apresentar na capital, como quando da comemoração do Cinquentenário da Independência, em 1922, oportunidade em que realizou diversos concertos. Nessa época a banda contava com mais de 50 figurantes, sendo superada apenas pelas bandas marciais.
Sob sua direção, a chamada “Banda Brasileira” construiu sua sede própria, entre os anos de 1919 a 1922. Ali ele ensinava música a centenas de interessados, alguns dos quais se destacaram no cenário artístico nacional, como maestros-regentes de várias bandas. Foi, ainda, um inspirado compositor de peças, uma das quais foi considerada obra-prima sobre costumes regionais, intitulada “Uma Festa de São João na Roça”, muito apreciada, desde sua primeira apresentação, em fevereiro de 1923, quando foi assistida num campo de futebol por renomados regentes de bandas e orquestras, além de diretores de vários conservatórios musicais. Não foi somente essa peça, porém, pois compôs mais de duzentas músicas, principalmente marchas, dobrados, valsas, tangos, maxixes, sambas, etc.
Na construção civil - Na época não dava pra viver só da música, pois o maestro não tinha salário fixo, por isso era obrigado a ter outra atividade que lhe proporcionasse renda. Castellari, então, ingressou na construção civil, sendo um dos pioneiros nessa atividade em Salto. Obteve o Certificado de Provisionamento junto ao órgão de classe, o CREA, tendo feito o primeiro levantamento topográfico do município de Salto e diversos outros, a partir de 1932. Foi ele quem, no encerramento do Ano Santo de 1933, lançou, por uma corda e carretilha, a primeira telha da nova matriz de Salto, como responsável que era pelo madeiramento do prédio. Essa igreja seria inaugurada oficialmente em 1º de maio de 1936.
O Maestro Castellari, como era chamado por todos, foi casado desde 2 de julho de 1900, com Luiza Isabel das Chagas, filha do seu primeiro professor de música. O casal teve 10 filhos, três dos quais se destacaram também na música: Luiz (autor do livro “História de Salto”), José Maria (Zezé) e Henrique Jr. (Henriquinho). Ele faleceu em 14 de dezembro de 1951.
Homenagens – Em 1980 a passagem do centenário do seu falecimento foi comemorada em Salto, com a celebração de uma missa na matriz e visita ao seu jazigo por um grupo de amigos e admiradores, que ali depositaram uma coroa de flores.
Seu nome foi dado à uma travessa da chácara que o maestro possuía no alto da Vila Nova, na qual foi implantado um loteamento.
Outra importante homenagem que lhe foi prestada aconteceu em outubro de 1967, quando foi inaugurado o Conservatório que levou o seu nome, de propriedade da então jovem musicista Elizabeth Milanez, o qual foi transferido para a Prefeitura em novembro de 1974.