REPETECO
DELÍCIAS DE ANTIGAMENTE
O cuoco Enzo Fornari [pseudônimo utilizado por Genézio Longatti em sua coluna no jornal Taperá], que na pele desse personagem só fala de comida, enviou-me outro dia uma relação de delícias de sua infância, algumas das quais, coincidentemente, eram também as minhas, por sermos contemporâneos.
Puxando pela memória, ele citou algumas de suas lembranças gastronômicas, como as bistecas a cavalo do Bar do Pierim; as maçãs perfumadas enroladas em papel azul do Bar da Dolores; as buchadas da Zoraide no Bar de Pedra, os pedaços de coco nos vidros, vendidos em alguns bares; os doces e salgadinhos da filha do Luiz Dentista; os quebra-queixos vendidos na porta do Tancredo do Amaral; o sorvete de esquimó do Bar do Ulisses Pântano; o sorvete de creme do Bar do Rampazzo; o sorvete de garapa e os tremoços do Bar do Cazorla.
Naquela época éramos crianças e nossa condição financeira não nos permitia sonhar muito alto. Por isso, quando conseguíamos uns trocados a mais, aplicávamos em guloseimas. Os pratos mais “sofisticados”, citados pelo Enzo, como as bistecas e as buchadas, eram sonhos irrealizáveis.
Acrescentamos entre as delícias relacionadas pelo amigo Enzo, os doces do Bar do Boni (o chope e o queijo gorgonzola só fomos experimentar quando adolescentes); os favos de mel, o pastel da barraca do parque e o torrão, vendidos na Festa Setembrina; o amendoim torradinho do Chicão; os “cigarrinhos” de chocolate, encontrados em todos os bares, e diversos outros. Aliás, em relação ao chocolate, morríamos de vontade de comer aqueles que vinham enrolados em papel alumínio, enrolados um a um em papel alumínio, acondicionados em tubos de papelão. Tínhamos um primo, cujos pais eram mais abonados que os meus, que sempre ganhava um daqueles tubos aos domingos, enquanto tínhamos que nos contentar com os suspiros, doce de abóbora, paçoquinhas, pés-de-moleque e outros considerados “populares” do Bar do Boni. Às vezes esse meu primo me dava um ou dois e eu fazia com que ele demorasse a se derreter na boca, aproveitando ao máximo o sabor daquela delícia que considerava proibida.
(Publicada em 27/11/2014 no “Taperá”)